Mais vivo do que nunca, Oito motivos que fizeram o Carnaval de Salvador brilhar ainda mais em 2018 – mesmo com ausência de Ivete Sangalo


Inclusão, diversidade, renovação musical, segurança e a potência criativa de Daniela Mercury no topo da piramide do Carnaval foram alguns dos itens destacados. Vem ler!

Para quem se preocupou com a ideia da ausência de Ivete Sangalo no Carnaval de Salvador, temos uma boa notícia: os dias de folia na capital baiana foram incríveis e históricos, como há muito não se via por lá. O Site HT, como faz há muitos anos, se dividiu entre Rio e Salvador para poder contar em detalhes, e como testemunha ocular, todos os detalhes dessa festa que vem passando por uma revolução pessoal. Por isso, separamos oito itens que deram o que falar no Carnaval 2018 de Salvador

1) Daniela Mercury

A rainha do axé mostrou neste Carnaval que se mantém firme e forte no cargo com a sua maravilhosa regravação de música Banzeiro, de Dona Onete. Ainda antes do início da folia, a canção já vinha mostrando sua força, mas foi, mesmo, a partir da quinta-feira de Carnaval, primeiro dia de desfile de Daniela pelo circuito Barra-Ondina que ela explodiu e ganhou ainda mais força. A massa não conseguia ficar parada enquanto Daniela entoava seus versos que mistura frevo com galope e um pouco de percussão típica do axé. Não à toa, ela foi escolhida a música do ano pelos foliões da Band Folia.

O prêmio, aliás, foi entregue ao fim do último desfile de Daniela do Carnaval 2018, no estúdio da emissora. “Música é a melhor coisa do mundo e ainda ganhar prêmio por isso, é maravilhoso. Esse ano eu faço 25 anos de O Canto da Cidade. É uma data histórica para mim”, disse, emocionada. E teve mais: para o alto do trio, ela levou bailarinos do Balé Folclórico da Bahia, da Ebateca e os atores da Cia Baiana de Patifaria, transformando sua passagem pela avenida em um grande espetáculo.

2) Trios sem cordas

Os blocos com abadá ainda resistem – e ainda vão permanecer para sempre – mas cada vez em menor escala. Apesar de ser uma instituição da folia baiana, o espaço reservado e separado da pipoca vem perdendo fôlego e, com isso, devolvendo a rua a quem merece: o povo. Nada contra os abadás e seus cordeiros, contanto que os tempos em que as ruas eram leiloadas para quem desse mais dinheiro fiquem definitivamente para trás. A boa é se misturar e foi exatamente isso que o Carnaval 2018 mostrou.

3) BaianaSystem e a nova música baiana

Quem nunca viu uma apresentação ao vivo do BaianaSystem, grupo comandado por Russo Passapusso, não vai conseguir entender a dimensão que esse grupo tem na nova cena musical baiana. É uma explosão, uma catarse, algo como poucas vezes se experimentou. A passagem do Navio Pirata, como eles chamam seu trio, pelo circuito Barra-Ondina, sem cordas, no sábado, foi inesquecível.

Mas eles não estão sozinhos: o ÀTTØØXXÁ, que mistura pagodão baiano com eletrônica, responsável por outro hit da temporada, o Popa da Bunda, regravado por Marcio Victor, também fez bonito e cantou até com Anitta no trio da poderosa. Teve ainda a passagem de Igor Kannario, o príncipe do gueto baiano, de Marcia Castro, que levou Linn da Quebrada e o coletivo Afrobapho para cantar com ela, de Baco Exu do Blues, que soltou seus versos e voz poderosa ao lado de Emicida, e Larissa Luz, com seu trio empoderado, acompanhada Pitty e Karina Buhr. A música baiana nunca esteve tão viva e diversificada.

Preta Gil (Foto: Felipe Panfilli)

4) Preta Gil 

A cantora recebeu as chaves do comando Camarote Expresso 2222, que completou 20 anos em 2018, das mãos da madrasta, Flora Gil, criadora e responsável pelo espaço até 2017, e fez bonito. Bonito, não, fez lindo. Abriu venda de ingressos pela primeira vez e criou a Blacktape, um after party do Carnaval, no terceiro andar do Edifício Oceania, onde rolaram festas voltadas para o publico LGBTQI e até show de Pabllo Vittar. Ela ainda teve fôlego para comandar seu Bloco da Preta no Rio e em Salvador, cantar junto da banda Mistureba no palco do Expresso e receber os amigos e convidados com o maior dos sorrisos no rosto. Uma anfitriã impecável.

5) Anitta e Pabllo Vittar

As duas artistas mais importantes de 2017, claro, tiveram um bloco para chamar de seu no circuito Barra-Ondina. Ambos sem cordas, comandado um público de centenas de milhares de pessoas, em um Carnaval inclusivo, democrático e poderoso. Foi bonito ver Salvador recebendo as duas com tanta generosidade e elas devolvendo amor, animação e horas de música no percurso.

6) Segurança

Ao contrário do Rio, que fez um Carnaval repleto de incidentes vergonhosos por falta de um plano de segurança publica inteligente, Salvador terminou seus cinco dias de folia sem grandes problemas no quesito. O motivo? A presença maciça do efetivo nas ruas, circulando no meio dos blocos, posicionados no alto de cabines e nas ruas que dão acesso aos circuitos do Carnaval. Para entrar, aliás, no trajeto dos trios, era preciso passar por uma revista.

7) Pink Money

O universo LGBTQI, que há alguns anos era completamente deixado de lado no Carnaval baiano, hoje movimenta fortunas, blocos, artistas e ganha, cada vez mais, visibilidade. As divas do Carnaval, como Claudia Leitte, Daniela Mercury e Alinne Rosa foram reverenciadas e seguidas pela turma gay de forma sem precedentes, com seus abadás esgotados e disputados feito água no deserto. Os Mascarados, um dos primeiros blocos da turma do arco-íris ganhou ainda mais força com Sandra de Sá e Liniker puxando o trio na quinta-feira de Carnaval, e os beijos e demonstrações de carinho entre pessoas do mesmo gênero no meio da avenida, camarotes, praias e restaurantes se transformaram em lugar-comum. Ainda se ouve alguns comentários e piadinhas? Sim, claro, mas não dá para negar que foi o Carnaval mais gay de toda a história da folia baiana.

8) Os blocos afros

Com a volta da força da rua de forma democrática, os blocos afros voltam a ser protagonistas em seus desfiles emblemáticos e cheios de significado e significante. A saída do Ilê Aiyê, no Curuzu, os Filhos de Gandhy, o Cortejo Afro – que teve Caetano Veloso no alto do trio -, Muzenza, o Olodum, o Malê Debalê, entre outros, injetaram elementos étnicos, religiosos e africanos na festa com ainda mais força e visibilidade. Com direito a investimento de R$ 1 milhão da prefeitura. É pouco? Sim, mas já é alguma coisa.