Longe dos personagens cômicos, Samantha Schmutz apresenta versatilidade e vozeirão em show na Miranda


Famosa por suas participações cômicas em séries como “Vai Que Cola” e “Não Tá Fácil Pra Ninguém”, atriz dá um tempo na comédia e assume porção de cantora, com espetáculo ao lado da Banda Brasov

*Por João Ker

Famosa por seus personagens cômicos, seja no programa “Zorra Total” com o popular Juninho Play ou no “Vai Que Cola”, com a funkeira Jéssica, poucas são as pessoas que sabem sobre os talentos vocais de Samantha Schmutz. Talvez quem tenha assistido ao “Não Tá Fácil Pra Ninguém”, humorístico que a garota estrela sozinha no Multishow, consiga focar um pouco na voz que pode passar despercebida em meio às performances cômicas. Mas foi sem a máscara da comédia – pelo menos no nível imitação proposital – que a atriz subiu ao palco da Miranda neste sábado (25/10) e apresentou seu número musical repleto de covers ao lado da Banda Brasov, que também a acompanha no programa.

Samantha Schmutz misturando música e humor no “Não Tá Fácil Pra Ninguém”

A intenção de Samantha é claramente a de ser uma showgirl aos moldes de popstars internacionais. Ela entra com um figurino burlesco, usando vestido preto de renda por cima de um body, com os cabelos ondulados perfeitamente posicionados sobre seu ombro esquerdo, com luvas que vão até acima do cotovelo e um salto alto. A inspiração poderia tanto ser Beyoncé quanto Anitta. Mas é com uma música da primeira, “Party”, que ela começa o show, um pouco tensa ainda, mas nada muito perceptível já que a cantora tem jogo de cintura de sobra. Nada permanente, já que logo no próximo número, “She’s Not Me” (Madonna), ela aparece com energia total, arriscando até uns passos de balé no palco.

O alcance vocal da cantora é algo que impressiona. Samantha consegue arrancar aplausos da plateia quando entoa as notas mais difíceis, que fariam outras em seu lugar tremerem de medo ou inventarem arranjos mirabolantes para fugir da prova. Em alguns momentos, é possível fechar os olhos e jurar que a voz no palco é de Shakira, tanto pelo timbre quanto pelo sotaque ao cantar inglês. Entre a escolha das músicas – que saem um pouco do óbvio das divas pop, sem perder o apelo popular – e o jogo de luzes que forma sombras contrastando a silhueta da cantora no palco, algo deixa evidente o dedo de Paulo Gustavo na direção do espetáculo. Afinal, o humorista sabe fazer uma entrada à la Beyoncé como ninguém.

O destaque mesmo é quando ela engata na sequência “Back to Black“, que apesar das mil versões e covers, aparece muito bem no vozeirão da morena que a gente adora.

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Fotos: Ricardo Ferreira

A primeira e única música nacional apresentada é “Não Existe Amor em S.P.”, e parece que a mais sentimental para a cantora, que assume um ar mais sério do que no resto do espetáculo enquanto dá voz aos versos desiludidos de Criolo. Em uma virada surpreendente e que merece muitos aplausos ao seu idealizador, a música é mesclada em um medley onde Samantha emenda “Glory Box”, do Portished. Bem, o que começou como algo sentimental acabou se transformando em pura sensualidade, e dessa vez não parecia ser de brincadeira. Depois disso, Samantha arrisca a nova música queridinha do pop, “Bang Bang” (Cher). À medida que ela volta com Amy Winehouse através de “Valerie”, já é possível ver os primeiros sinais de que a plateia está pronta para dançar.

Apesar de este ser um show “sério”, sem personagens ou caracterização”, Samantha Schmutz é uma humorista e, claro, não perde a oportunidade de brincar com o público aqui e ali – ou de gongar os integrantes da Brasov. Ela pede à plateia guardanapo emprestado para secar o suor e faz piada com a própria maquiagem borrada. Depois, mais uma vez volta a ser alvo de si mesma quando relembra o início da carreira, quando cantava em uma lanchonete árabe do Shopping da Gávea em troca de um couvert opcional no valor de R$ 6. Enfim, várias partes em que ela interage com o público e lembra que está ali soltando o vozeirão, mas também é comediante nata, sem precisar se esforçar na hora da improvisação.

O resto do show continua eclético, contendo ainda um proporção de reggae oferecida por Bob Marley (“Get Up, Stand Up” e “I Shot The Sheriff”), uns lampejos de rap com Lauryn Hill (“Everything Is Everything”) e o bis com o clássico “I Will Survive”, de Gloria Gaynor. Misturando referências e épocas, além de uma variedade de gêneros musicais, Samantha Schmutz agradou ao público misto que não tinha idade ou situação financeira definidas no Miranda. Prova disso é que, durante o “hino gay”, tanto os jovens quanto as solteironas já haviam se levantado para dançar nos cantos da casa de shows. Samantha Schmutz pode até não ter um show tão autoral com músicas suas e nem ser primordialmente conhecida como cantora. Mas, se essa for a sua intenção a longo prazo – ainda mais depois de ela admitir que “o que mais gosta de fazer é cantar” -, a menina está no caminho certo.

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Fotos: Ricardo Ferreira