Em show com repertório interativo, Jay Vaquer se apresenta no Rival e faz show para agradar sua seita de fãs


Durante a apresentação, músico recebeu a presença da cantora Liah Soares e fez setlist repleta de rearranjos e sucessos inéditos ao vivo, enlouquecendo sua legião cativa de seguidores

*Por João Ker

“Esse aqui é um show muito doido”, declara Jay Vaquer no palco do Teatro Rival, enquanto se apresentava na noite deste último sábado (21/6). Realmente, o show em questão foge ao tradicional. Para comemorar os 80 anos da casa, o Festival Rival anda convidando artistas selecionados pelo público através de votações online. Depois, é também o público quem elege o repertório que vai ouvir durante o espetáculo, como aconteceu agora em “Toca Disco”, do cantor, cujas músicas foram pinçadas pelos fãs direto dos álbuns do cantor, em votação.

O conceito é um prato cheio e a realização do sonho de qualquer fã, uma vez que a típica setlist de turnê sempre favorece os sucesso – o que é compreensível – e acaba negligenciando gravações mais pessoais, tanto para o músico quanto para os seus seguidores. É preciso salientar que esse formato de espetáculo dificilmente funcionaria para qualquer artista comum, uma vez que são raros os álbuns que conseguem sustentar um conceito bem definido do início ao fim. Mas, no caso de Jay Vaquer, o resultado final é surpreendente.

Jay Vaquer no palco do Teatro Rival (Foto: Zeca Santos)

Jay Vaquer no palco do Teatro Rival (Foto: Zeca Santos)

O músico enteado de Raul Seixas e filho de Jane Duboc teve o auge do seu sucesso durante os tempo áureos da MTV Brasil, quando os videoclipes eram a melhor forma de divulgar um trabalho e a emissora ainda influenciava a maioria dos jovens, sendo um canal genuinamente divertido e em sintonia com a geração vigente, lá pelo início dos anos 2000, época onde os charts eram dominados por N’Sync, Britney Spears e Christina Aguilera. “Comecei na saudosa MTV. Parece que ela existe ainda, mas eu não tenho visto isso não”, desabafa Jay durante o show, em uma das muitas pausas obrigatórias que faz durante a apresentação para poder conversar com o público e revelar curiosidades sobre o processo de gravação dos discos eleitos que, em seu caso, foram os 2º e 3º de sua carreira: “Vendo a Mim Mesmo” (2004) e “Você Não Me Conhece” (2005). 

Hoje em dia, o cantor já não faz tanto sucesso comercial quanto antigamente. “Mas onde toca a música desse cara? Eu nunca ouvi na rádio. É só pra garotada da internet, né?”, pergunta um dos seguranças da casa. Ele não sabe, mas é Jay quem cantou uma das músicas da novela das sete “Tempos Modernos”, um cover acústico e meio melancólico de “Boys Don’t Cry”, do The Cure. Fora isso, realmente, ele não tem aparecido muito na mídia. Mas, de alguma forma, o música ainda conseguiu lotar o Teatro Rival e manter uma base de fãs leais que sabiam cantar todas as músicas de cor – até as que não estavam programadas para entrar no set – e ainda exigir que ele tocasse as favoritas, como “Você não me conhece”. 

 

Jay Vaquer – Você Não Me Conhece

Por exemplo, esse é o 4º show do cantor que o casal Tiago e Érica Duque assiste juntos. Ambos com 28 anos, foi ele quem apresentou o trabalho do músico para a esposa, anos atrás. “Fiquei fã do Jay através dos clipes que passavam na MTV, isso ainda em 2003. Mas eu já conhecia o trabalho dele desde antes”, conta Tiago, que já viu outra apresentação do artista ali mesmo no Rival, mas decidiu ir de novo porque dessa vez “ele vai tocar o disco inteiro”. A história chega a ser estranhamente parecida com a do casal de amigos Bruno Cardoso (33) e Warny Maxano (31). Foi Warny quem descobriu e apresentou as músicas para o amigo, apesar de este admitir que já tinha visto os clipes de Jay na MTV. Juntos, já foram a mais de 15 shows do músico só nos últimos cinco anos. “Ele é carismático e muito performático. Faz um show pensando no próprio público”, justifica Tiago, assegurando que não deve parar de apoiar o ídolo nem tão cedo.

 

023

Os amigos Bruno Cardoso e Warny Maxano

Bi Bernardes (26), atriz e bióloga (“a gente tem que pagar as contas, né?”), é mais uma integrante dessa comunidade de fãs devotos do Jay Vaquer. “Eu não era uma boa menina e, como todo adolescente, passei por crises. E a música dele foi muito representativa para mim, me ajudou em muita coisa”, confessa Bi, que já assistiu à gravação do DVD que o artista fez no Vivo Rio. E ela ainda vai mais longe para explicar seu amor pelo ídolo: “Ele traz cultura musical. Ele tem uma grande influência sobre minha pessoa porque eu também canto, né, e ele foi como um professor para mim. Eu ouvia às músicas dele e ficava imitando as variações”, comenta a jovem com aquele exagero meio cego que é inerente a qualquer fã.

 

A "aluna" de Jay Vaquer, Bi Bernardes, e amigo (Foto: Zeca Santos)

A “aluna” de Jay Vaquer, Bi Bernardes, e amigo (Foto: Zeca Santos)

Esses fãs, por sinal, criam uma comunidade um tanto quanto curiosa. O show parece um culto religioso onde todos os presentes se conhecem. As pessoas vão migrando de mesa em mesa, esbarrando em conhecidos (“Você por aqui?” foi ouvido umas cinco vezes) e se incomodando com a quantidade de “intrusos” no local. “Isso aqui tá estranho, tem um monte de gente que eu nunca vi”, soltou uma fã que chegou atrasada e procurava uma mesa de conhecidos para poder estacionar. A relação que Jay Vaquer mantém com esses tiete faz essa devoção parecer um pouco mais entendível. Em um golpe de inteligência, o músico soube muito bem se segurar à fama que conseguiu nos anos passados, mantendo um laço estreito com seus seguidores através das redes sociais, que hoje são as grandes responsáveis pela propagação e eternização do trabalho de qualquer artista. Para se ter uma ideia, ele cultiva quase 18.000 seguidores no Twitter, onde seu perfil já entrou como o 12º mais influente do Brasil e um dos 30 “melhores do mundo”. Por ali, ele mantém contato direto com sua base, optando por administrar as coisas ele mesmo e responder a todas as mensagens de dúvida, agradecimento ou críticas que seus seguidores fazem.

No show ele também mantém esse contato direto por meio de piadas, comentários e conversas com o público, deixando-o familiarizado e à vontade na presença do ídolo. De fato, os fãs ficaram tão à vontade que até inibiram o próprio Jay quando esse tentou executar uma versão mais acústica do sucesso “Me Tira Daquiii”. A música é outra faixa revoltada com guitarras e gritos de “Me deixa fugir, me tira daqui”, durante os quais a plateia está acostumada a extravasar suas frustrações. Quando ouviram que o cantor planejava executá-la apenas com um violão, veio a enxurrada de reclamações – as pessoas já estavam insatisfeitas com a existência de mesas no espetáculo (“Onde já se viu colocar mesa em um show do Jay Vaquer?”, reclamou uma fã no Twitter). “Vocês querem “Me Tira Daqui” porradaria?”, perguntou o músico. “Poxa, eu tinha feito um arranjo bacana que eu ainda não toquei, especialmente pro show. A música tem uma pegada introspectiva que eu achei…” “RODA PUNK!!!”, interrompeu alguém na plateia, no que se seguiu uma confusão de comentários e Jay, sem o apoio do resto da banda que estava no backstage, foi obrigado a pular a música da setlist, prometendo que tocaria mais tarde (o mais tarde não chegou).

Tirando esse pequeno incidente que parece ter desapontado algumas pessoas – que faziam mais questão da música do que do arranjo certo -, o show foi realizador para os fãs, mesmo sem a execução dos covers por causa de direitos autorais. Jay Vaquer revelou as tais curiosidades prometidas, como a venda de um carro para poder bancar o seu primeiro videoclipe para a música “Miragem”; fez piadas com a própria carreira, chamando a capa de seu segundo disco “andrógina” e “meio Marilyn Manson“, a ponto de ser encontrada na seção de “cantoras” da Livraria Saraiva; como esperado, cantou algumas músicas (“Todos os Fracos” por exemplo) pela primeira vez e ainda improvisou, tocando uma música de cada um dos discos que não venceram a votação. Ao final, ele recebeu a cantora Liah Soares no palco e, juntos, emocionaram os presentes com uma rendição de “Nera”. Ali no palco do Teatro Rival, Jay Vaquer fez um show que a maioria dos fãs presentes provavelmente se lembrará para sempre. E provou que, mesmo sem a MTV ou uma gravadora por trás para impulsioná-lo, ainda consegue fazer sucesso à sua maneira.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Fotos: Zeca Santos