Iza é a primeira apresentadora negra do Multishow: “Tenho certeza que várias meninas e meninos irão se sentir representados e vão entender que o nosso lugar é onde a gente quiser estar”, disparou


A cantora passou a comandar o Música Boa Ao Vivo, depois de duas temporada de sucesso com Anitta nesta função, que é exibido às terças-feiras. Em entrevista para o site HT, ela soltou o verbo sobre sonoridade e representatividade e ainda criticou uma vertente do empoderamento feminino: “Um lado deste movimento fica tentando cagar regras na cabeça dos outros e isto é ridículo”

O Música Boa Ao Vivo, está de cara nova, literalmente. Após duas temporadas com Anitta comandando o show, o público terá a oportunidade de ver a cantora Iza nesta função ao longo dos 18 episódios. A estreia do programa rolou ontem e contou com a participação de Zeca Pagodinho, Maria Rita e Thiaguinho, que foi o líder da primeira edição. Dessa vez, a mistura de ritmos vai desde axé até rock e já tem a presença confirmada Claudia Leitte, Ludmilla, Ferrugem, Léo Santana e Dilsinho. Iza se consagra como a primeira apresentadora negra do Multishow e, durante a coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira no estúdio da emissora do Riocentro, ela falou sobre o impacto desta representatividade, empoderamento feminino e sororidade. “Sempre falo que representatividade importa muito. Não me via na TV, nos desenhos animados ou nos brinquedos que comprava. Não me via em quase nenhum lugar quando era criança e eu acha que ou tinha alguma coisa de errado comigo ou achava que não era o meu espaço e por isso não me vislumbrava em determinada profissão, por exemplo. A partir do momento que temos uma mulher negra de Olaria, no Rio de Janeiro, que está apresentando um programa de muita audiência, tenho certeza que várias meninas e meninos irão se sentir representados e vão entender que o nosso lugar é onde a gente quiser estar”, comentou. O talk show também está com casa nova, que foi projetada por Abel Gomes, com uma plateia com capacidade para 450 pessoas.

Iza é a nova apresentadora do Música Boa Ao Vivo e é a primeira negra a comandar um programa do Multishow (Foto: Gabryel Sampaio)

Site Heloisa Tolipan: Seja através de suas músicas ou de suas palavras, você é sinônimo de empoderamento feminino. De que forma veremos este seu DNA no Música Boa Ao Vivo?

Iza: Falo muito sobre isso porque me perguntam muito, mas não preciso dizer muita coisa no palco, afinal, já sou a primeira apresentadora negra do Multishow. Sei que sou e de onde vim. Recebo muitas mensagens das meninas, especificamente, de Olaria, que é o bairro aonde nasci, que ficam muito feliz com o meu sucesso e sinto que ainda sou esta garota. Ao me verem na televisão, eles irão se ver e isto já é combustível para empoderar as pessoas.

HT: Como foi a sua preparação para estar comandando o palco?

Iza: Não teve um passo a passo. Já apresentei o TVZ duas vezes, que foi a minha primeira experiência neste ofício, e este trabalho foi uma forma de ir treinando. O convite feito pelo Multishow aconteceu durante o intervalo da a minha primeira vez no programa musical. Estava nervosa por comandar algo ao vivo e para completar ainda fui convidada no meio do comercial. Fiquei muito feliz. Não houve uma grande preparação, mas obviamente assisti as outras temporadas. Estou tentando ser eu, até porque tenho certeza que esteve foi o motivo para me chamarem.

Iza comentou que pediu dicas para Thiaguinho sobre como comandar o programa (Foto: Gianne Carvalho / Divulgação Multishow)

HT: Anitta e Thiaguinho já lideraram este palco nas quatro temporadas passadas. Conseguiu pegar alguma dica com eles?

Iza: Falei com o Thiaguinho a pouco tempo sobre isso. Pedi para ele me ajudar pelo amor de Deus, porque eu estava muito nervosa. Estou perguntando isto, na verdade, para todo mundo para desabafar. No entanto, ele me tranquilizou e disse que preciso curtir porque o Música Boa Ao Vivo é para isso. Realmente consigo sentir isso, parece que estou fazendo um show e não um programa de TV.

HT: Você terá a oportunidade de gravar com grandes ídolos do nosso país e até do exterior como foi o caso de Mel C, a ex-Spice Girl e os colombianos Maluma e J Bavin. Já era fã de alguns deles?

Iza: Gosto muito dos três primeiros que recebi, o Thiaguinho, Maria Rita e Zeca Pagodinho. Mas confesso que sou muito fã da Maria, porque, apesar de termos o mesmo empresário, nós viajamos muito e por isso quase nunca nos encontramos. É curioso até falar isso, porque as equipes são muito semelhantes, mas é difícil ter esta oportunidade.

Iza recebeu Zeca Pagodinho, Maria Rita e Thiaguinho na sua estreia ontem (Foto: Gianne Carvalho / Divulgação Multishow)

HT: Conseguiu opinar na escolha do repertório para que o programa tivesse ainda mais o seu estilo?

Iza: Cada artista escolhe a música que vai tocar, mas eu sempre seleciono as minhas canções em conjunto com a equipe no dia. Não fico pensando muito naquilo que vou cantar e nas mensagens que quero trazer.

HT: Qual a maior dificuldade que você enxerga em apresentar este programa que irá receber cantores de diversos estilos?

Iza: Acho que o maior desafio é não me emocionar no palco, de verdade. Estou realmente muito feliz por fazer parte disso, porque esta oportunidade é fruto de muito trabalho e tenho o privilégio de cantar olhando no olho do Zeca, da Maria, do Thiaguinho e de outras pessoas. Este encontro é um presente que nunca pensei que fosse acontecer agora. Para quem é cantor, isto é muito incrível, porque vamos trocar experiências e aprender mais. Tenho que fingir costume.

A cantora não tem medo de ser comparada com Anitta (Foto: Gianne Carvalho / Divulgação Multishow)

HT: A Anitta é muito amada pelo público e foi muito elogiada no comando deste programa. Tem medo de comparações? Acha que podem vir críticas na internet que opinem sobre a sua forma de apresentar?

Iza: Não tenho este receio. A mídia já tende a ficar comparando, principalmente, as mulheres o tempo inteiro e isto é um saco! Tanto para mim como para qualquer uma delas. Nós estamos trabalhando muito, nos respeitamos e admiramos a carreira uma da outra e de todas as cantoras do pop como Lexa, Ludimilla e etc. Estamos muito mais preocupadas em abrir portas para outras meninas e seguir com o nosso trabalho do que pensar no que vão falar.

HT: Existem muitas críticas no universo feminino. Em uma entrevista, você disse que se quiser um dia alisar o cabelo esta atitude não a fará menos empoderada. No entanto, muitas famosas que passaram pela transformação capilar e depois alisaram foram julgadas por isso, como foi o caso recente da autora e blogueira Bruna Vieira –que foi para um casamento com um penteado liso. O que acha destas críticas?

Iza: O empoderamento ajudou muitas meninas e, inclusive, eu mesma a encontrar outras pessoas com cabelos crespos. Eu entendi que não era a única, que tinha madeixas lindas e podia usar do jeito que quero. No entanto, um lado deste movimento fica tentando cagar regras na cabeça dos outros e isto é ridículo. Se quero ficar cacheada, incrível, mas se quiser aparecer loira amanhã, ninguém tem nada a ver com isso. Estas escolhas partem da gente.

HT: Apesar da internet ter sido muito importante para você criar a sua base de fãs, a televisão também teve um papel interessante na sua trajetória. As suas canções já tocaram em diversas novelas como Pega Pega, Rock Story e, agora, Malhação. Sendo assim, enxerga a TV como um combustível da sua carreira?

Iza: Vivemos em uma era muito incrível de comunicação e tem muita gente que consome informação por outras plataformas. Isso é muito legal. Uma coisa é a pessoa ir à internet e procurar a minha música e outra é ouvir rádio ou assistir TV e deparar com uma canção minha. Talvez este indivíduo não me conhece, mas pode curtir o meu som. As mídias sociais são muito importantes, mas tenho certeza que encontrarei novos lares ao participar do Música Boa.

Iza ensaiando com Thiaguinho antes do programa ir ao vivo(Foto: Gianne Carvalho / Divulgação Multishow)

HT: Você já participou de diversos programas de televisão, mas já havia cogitado ser apresentadora?

Iza: Nunca pensei, claro que brincava disso quando era pequena, mas se uma carreira de cantora já era distante para mim, trabalhar com isso era bem mais impossível. Será um grande desafio para mim, afinal, é um programa muito importante na grade do Multishow e está vindo de quatro temporadas muito bem sucedidas com Anitta e Thiaguinho. É uma grande missão, mas se esta equipe acredita em mim será uma honra fazer.

HT: Você entrou no mundo da música há cerca de dois anos e alcançou o estrelato muito rápido. A que você atribui o seu sucesso em um tempo tão curto?

Iza: Trabalho. Não acho que tenha sido curto também, porque estou me esforçando muito, por mais que tenha começado a me dedicar há dois anos. Passei por muita coisa neste período. Precisei largar o meu antigo emprego e só pude contar com a renda da minha mãe em casa, porque não estava fazendo show nenhum.

Acha que a sua beleza natural te ajudou nesta conquista?

Iza: Infelizmente, sim. O mundo é realmente muito pautado em estereótipos. Apesar de termos a ideia do empoderamento, ainda somos muito comparadas e objetificadas. Sendo assim,estar dentro de um padrão da sociedade acabou me ajudando. Não vejo isso de forma positiva, mas é assim que o mundo funciona.

HT: Teve medo de fracassar em algum momento?

Iza: Tive. Muita gente me pergunta qual a dica para cantar e seguir os seus sonhos e acho que não podemos esperar o medo passar, porque isso não vai acontecer, vamos continuar com receio para sempre. Obviamente, quando vamos pela quarta vez em um programa, nós passamos a entender como funciona e ficamos mais confortáveis, mas sempre aparecem novos desafios. Além disso, acredito que se não tem este frio no estômago, não tem graça.

A cantora comentou que pretende viajar o Brasil lançando a sua música (Foto: Gianne Carvalho / Divulgação Multishow)

HT: Quando era pequena, você tinha o sonho de seguir alguma carreira no ramo das artes e ser cantora?

Iza: Sinceramente, queria muito ser patinadora de supermercado. No entanto, adorava brincar com música e fazer esportes. Achava que poderia ser atleta ou trabalhar nos bastidores do audiovisual como editora, por exemplo. Nunca pensei em ser cantora, mas realmente sempre fiquei muito tocada com as canções. Quando percebi que queria emocionar as pessoas com a minha música, tive a certeza que deveria fazer isso caso o contrário me sentiria vazia o resto da minha vida.

HT: Em uma reportagem, você comentou que chegou muito longe, mas que ainda gostaria de conquistar muito mais. Aonde pretende chegar?

Iza: Quero viver cantando para o resto da minha vida e isto é algo que me preocupa. A gente tem uma vida corrida, dormimos pouco e comemos errado. É complicado, mas quero vencer todas estas adversidades e poder cantar até o meu corpo não aguentar mais. Acho que isso será lá para os 120 anos e muita coisa pode acontecer nesta trajetória. É importante dar um passo de cada vez e a minha próxima etapa hoje é viajar o Brasil divulgando o meu álbum. Não vislumbro muito. Tenho sido pega de surpresa por programas como o Música Boa ou o Rock in Rio, por isso, como o Zeca Pagodinho diz, estou deixando a vida me levar.