Por trás do furacão que levou Beyoncé a Trancoso, existe estratégia planejada por publicistas da gravadora?


Beyoncé adianta o lançamento do novo disco no ITunes por conta própria, se dizendo enfastiada com a mesmice. Mamãe Noel do pop ou marqueteira espertinha que subestima a inteligência alheia?

*Por Alexandre Schnabl, com a colaboração de Nayanne Louise

Quase causando parada cardíaca nos fãs, Beyoncé Knowles lançou de supetão, nesta madrugada (13), seu quinto álbum da carreira, no Itunes, contrariando as expectativas de que o trabalho só ficaria pronto em 2014. Entretanto, a cantora não se satisfez apenas em lançar um novo disco de surpresa através do canal digital. Midiática como ela só, também preparou mimos em formato de videoclipe para acompanhar a novidade. Explica-se: lembra quando a musa pop veio ao Brasil e deu pinta pelas praias da Bahia? Então, a viagem era parte do projeto de criar um clipe para cada uma das 14 faixas do álbum, além de três músicas bônus que não fazem parte do compacto, mas que ganharam vídeo. Nada melhor que Trancoso para emoldurar a morenice da moça, não é mesmo? Vai um açaí aí, meu bem?

A proposta inicial deste projeto, segundo a popstar, é fazer com que as pessoas ouçam suas canções e visualizem a história que passou pela sua cabeça na hora de compor: “A visão no meu cérebro é o que eu quero que as pessoas experimentem pela primeira vez”, disse em um teaser divulgado em sua conta no Facebook. Não é a primeira vez que um astro assume a intenção de querer manipular a percepção do público. Longe disso. Mas causa impacto a forma como a diva afirma o desejo de direcionar a opinião dos seus fãs.

Parecendo enfastiada com as mesmices da indústria musical (boa sacada de comunicação!), a estrela demonstra, agora, ter inventado sua própria estratégia audiovisual. Saem os marqueteiros, entra a própria artista elaborando o novo lançamento. Bom, não é bem assim. É improvável que um acepipe lucrativo de primeira grandeza no universo musical não esteja atrelado, contratualmente inclusive, a tomadas de decisão em conjunto com sua gravadora. Além disso, mesmo no seu escritório particular, existe por trás dela, obviamente, uma legião de cabeças pensantes que trabalham à sua volta e ganham o pão de cada dia cuidando meticulosamente de sua imagem. Nesse caso, não se trata da Beyoncé indivíduo, mas da celebridade-produto. Ainda assim, a ação desta madrugada, que pretende passar arroubos de modernidade prafrentex para o público, representa um domínio maior da cantora sobre sua obra, e, com apoio de uma equipe de especialistas ou não, revela a vontade de comandar sua carreira, estabelecendo linha direta com seu público. Mas, se todo esse conceito foi elaborado pelos publicistas que cuidam da sua carreira – o que é bem provável -, eles merecem ir para o trono!

Enquanto ação de marketing, o conjunto da obra não é necessariamente uma inovação. O ineditismo reside no fato de lançar um trabalho de surpresa, quase como se fosse uma investida-relâmpago dos aliados na Normandia, no Dia D, para tomar o planeta de assalto. A diferença, porém, é uma só: saem os nazistas e entra o marasmo do mercado como objeto a ser expurgado da face da Terra. De resto, só a central de inteligência alemã e o povo que não sabiam daquilo que estava por acontecer. Nas internas, tudo foi planejado por meses nos mínimos detalhes pelos estrategistas de plantão. “Eu não queria lançar minha música do que jeito que eu já fiz. Estou entediada com isso e sinto que sou capaz de falar diretamente com os meus fãs. Há tantas coisas que ficam entre a música, o artista e os fãs. Não desejava, portanto, ninguém mandando mensagem quando meu álbum ficasse pronto. Queria apenas que isso saísse direto de mim e seguisse para meus fãs”, afirmou a cantora através de nota de sua assessoria. Aham, Claudia.

Em um dos vídeos divulgados, a cantora homenageia a pequena Blue Ivy, sua filhota, com música que leva o seu nome. Meigo. Com a paisagem paradisíaca da praia de Trancoso como plano de fundo, a cantora aparece brincando com a rebenta, depois passeando pela cidade e até mesmo jogando futebol com a garotada, vestindo com a blusa da Seleção Brasileira. Quem quiser acreditar que tudo é fruto da cabeça criativa de Beyoncé, e não um conjunto de ações planejadas por garotos diplomados em publicidade, que engula unicórnios.

Não é a primeira vez, muito menos a última, que uma personalidade de degrau máximo no pedestal da fama afirma desejar autonomia junto a seu público, sem interferência daqueles que fazem a indústria acontecer. Raríssimos casos foram adiante. Na virada dos anos 1990, o baixinho-sensação Prince mandou todos para aquele lugar e chegou a transformar seu nome em um impronunciável signo iconográfico que fez a alegria dos comunicadores visuais. Designers gráficos tiveram orgasmos múltiplos com a ousadia. Deu certo? Bom, à despeito de sua genialidade musical – muito maior que a de Beyoncé, aliás -, o cantor-compositor foi, aos poucos, saindo de cena e nunca mais fez o mesmo sucesso da época em que fazia chover púrpura ou seduzia todos com um kiss, oferecendo ao mulherio diamonds and pearls.

O fenômeno que aconteceu nesta madrugada leva a crer que a atitude da cantora foi muito mais do que um rompante de veneta e que, por trás de tudo, existem executivos engravatados com ternos risca-de-giz comandando a situação, sentados em mesas de vidro com pés de jacarandá. Vale uma reflexão mais apurada que dê mais tempo ao tempo e possa permitir o vislumbre daquilo que está por detrás do fato. Engolir tudo de mão beijada, como se estivessem oferencendo uma sopinha de maçã na colher boca adentro, é o mesmo que receber, na testa, atestado de gado pronto a ser conduzido para o abatedouro do consumo fácil.

Assista aos teasers divulgados: