Holofotes sobre Lizzo, a cantora e compositora que usa a arte contra o preconceito e a gordofobia


Uma das artistas mais incensadas no atual cenário musical dos Estados Unidos, a estrela vem usando a sua autenticidade para falar sobre aceitação corporal e estimular o amor próprio

Lizzo, a cantora vem superando preconceitos e quebrando padrões com a sua arte (Foto: Divulgação/Twitter)

*Por Iron Ferreira

Muito se discute, atualmente, sobre os padrões de beleza impostos pela sociedade e a forma como nos comportamos diante dessas exigências. Ao analisarmos as décadas passadas é possível identificar as transformações que ocorreram na moda, na tecnologia, na cultura, na música, no cinema e na nossa maneira de agir e pensar. A democratização do acesso à internet, assim como a popularização das mídias, permitiu que grupos sociais que até então não tinham voz começassem a mostrar a sua realidade e reverberar as suas opiniões. O resultado? Uma maior inclusão, mesmo que ainda estejamos longe do ideal.

Na direção do empoderamento, o mundo conheceu a cantora e compositora norte-americana Lizzo, que colocou o  hit “Truth Hurts” no top 10 da parada musical mais importante dos Estados Unidos, a Billboard HOT 100. A artista utiliza suas composições para dar um banho de autoestima, como nos primeiros versos da canção “Juice”, single do seu terceiro disco de estúdio, lançado em 2019 e intitulado “Cuz I Love U”: “Espelho, espelho meu. Não diga, porque eu já sei que sou linda”.

Assista:

Recentemente, ela apareceu na capa da revista Playboy. Para a publicação, a estrela reafirmou a relevância de exibir a sua forma como instrumento de provocação e transformação: “A Playboy representou um tipo de mulher por muito tempo. Peitos grandes, barriga lisa, pele clara. Então é legal mostrar uma garota gorda e negra por aqui. Quando você é você mesma percebe o impacto que tem na vida. E esse é um dos momentos que eu escolhi para reforçar essa lembrança”.

Além da luta contra a gordofobia, ela também usa sua arte contra o machismo. Segundo Lizzo, os homens já dominam o mundo há muito tempo e chegou a hora de as mulheres se apoiarem e conquistarem os seus espaços: “Quando as mulheres eram adoradas como deusas, alguém sempre teve problemas com isso e tentou nos impedir de sermos deusas. Especialmente na cultura ocidental existem dispositivos reais no esforço de manter as mulheres separadas e intimidadas, e em concorrência entre si. Especialmente no hip hop. Os homens ainda dominam a indústria da música e empresas americanas, mas quando nós, mulheres, nos encontramos e ficamos juntas, é incrível. Eles não podem nos quebrar”.

Outro exemplo internacional nesse quesito é a britânica Adele, que alcançou o estrelato mundial em 2011 com o lançamento do disco “21”. Ainda no auge de sua carreira, em fevereiro de 2012, a celebridade chegou a ter seu corpo criticado pelo famoso estilista Karl Lagerfeld (1933-2019), que disse: “A artista do momento é a Adele. Ela é um pouco gorda demais, mas tem um rosto lindo e uma voz divina”. Após ser rebatido por personalidades como a rainha do pop Madonna, o estilista se desculpou: “Eu gostaria de dizer a Adele que sou o seu maior fã. Às vezes, quando você tira frases do contexto, muda todo o sentido”.

Mundialmente conhecida, a artista multipremiada chegou a ser criticada pelo estilista Karl Lagerfeld (Foto: Divulgação)

Vencedora de um Oscar, um Globo de Ouro e 15 prêmios Grammy, a cantora revelou, em 2015, em uma entrevista para a revista Rolling Stone, que respeita o trabalho das pessoas que usam a sensualidade como artifício de vendas, mas que esse não é o seu caso: “Exibiria meu corpo se eu fosse mais magra? Provavelmente não, porque o corpo é meu. Às vezes, eu fico curiosa para saber se alguma vez iria ter sucesso se não fosse gorda”.

Voltando ao Brasil, temos como exemplo de empoderamento a funkeira Jojo Todynho. Com um físico bem distante dos padrões, ela ficou famosa na internet pela personalidade forte. Ignorando os comentários maldosos e colocando a sua autoestima na frente de tudo e todos, a cantora foi responsável pelo hit do carnaval de 2018, com a faixa “Que Tiro Foi Esse”. Com mais de oito milhões de seguidores em seu perfil oficial no Instagram e seis mil inscritos no YouTube, ela é um sucesso. Em entrevista ao “Programa do Porchat”, exibido em março de 2018, ela falou sobre o preconceito que sofre até hoje: “Eu sou um afrontamento. As pessoas dizem que abominam o preconceito, mas quando aparece uma Jojo, as máscaras caem. As pessoas idealizam tanto um corpo perfeito, mas tem a alma podre. O meu padrão sou eu, não é a sociedade”.

Jojo enfrentou preconceitos (Foto: Divulgação/Facebook)