“Gostaria que as pessoas fossem menos individualistas e prestassem atenção umas nas outras”, diz Emanuelle Araújo


Cantora lançou clipe de “Hotel das Estrelas’, parte integrante de CD em homenagem a Jards Macalé. Ela exalta a potência e a relevância do artista, fala dos novos projetos no teatro e no cinema e diz que o novo disco, a ser lançado em janeiro, é especial. “Trazer Jards Macalé para uma galera que não o conhece, é muito bom. Essa música do single foi eternizada na voz da Gal (Costa), então é também eternizar a MPB, que é cultura, identidade. É preciso revisitar essa história para a geração atual”

*Por Brunna Condini

Em clima voyeurístico (já que a câmera faz a vezes dos nossos olhos) e um belo plano-sequência dirigido por Jorge Farjalla, com direção de fotografia de Marcelo Borja, Emanuelle Araújo lançou o clipe da música “Hotel das Estrelas”. O single faz parte do novo álbum da cantora e atriz, e é uma homenagem ao multifacetado artista Jards Macalé.

Emanuelle lança trabalho carregado de emoção em janeiro: “É afirmar meu gosto musical” (Crédito: Fernando Diniz)

“Ele é um grande compositor, suas letras são muito potentes e necessárias ao nosso momento atual. Quero reverenciar a obra do Jards. Este projeto é muito especial para mim e um desejo antigo”, conta, a também plural Emanuelle, que diz se identificar com a obra do cantor e compositor. “Sou fã desde a adolescência. Fã da atitude artística, social”.

A música está no disco “Quero viver sem grilo”, que chega ao mercado em 2020, pela gravadora Deck. Esse é o segundo álbum de sua carreira solo. A cantora conta também, porque esperou três anos para lançar um novo projeto musical: “Fiquei uns três ou quatro anos entre o Brasil e o Estados Unidos. E agora senti que era a hora. Fiquei muito mexida com a situação política do país, achava que devia cantar Jards”.

Ela revisita Jards Macalé no single que faz parte do novo álbum em sua homenagem (Crédito: Dêssa Pires)

O novo trabalho, todo gravado ao vivo em Nova York, foi concluído logo após o término da novela “Orfãos da Terra”, em que a atriz viveu Zuleika. “Foi sincrônico. Quando terminei a novela e pude me dedicar a ele, finalizei. O disco todo lanço em janeiro”, anuncia. E fala do formato escolhido, que aproxima: “Gosto muito de gravar o disco ao vivo. No meu primeiro solo, teve uma preparação maior, esse tem a pura emoção do ao vivo. Deu um clima novo ao meu trabalho. Sou uma cantora de palco, gravar esse disco foi quase como fazer um show, deu uma bossa sonora ao projeto. Além disso, é afirmar meu gosto musical, a sonoridade do power trio e tem um quê de nostalgia nele também. A obra que gravo do Jards percorre os anos 70, é fazer arte para revolucionar”.

Para Emanuelle, salientar a relevância de um trabalho como este no cenário atual, é preciso. “Claro que existe uma sincronicidade na minha vontade de fazer esse disco hoje, neste contexto político. Tenho um público diverso, que me conhece. Mas trazer Jards Macalé para uma galera que não o conhece, é muito bom. Essa música do single foi eternizada na voz da Gal (Costa), então é também eternizar a MPB, que é cultura, identidade. É preciso revisitar essa história para a geração atual”.

“Separo bem as carreiras de cantora e atriz”, garante Emanuelle (“Crédito: Dêssa Pires)

Ela, que começou a fazer teatro aos 10 anos e a cantar, aos 15, aprendeu a fazer cada coisa a seu tempo, sem se atropelar. Aos 43 anos, Emanuelle literalmente não quer viver “com grilos”. “Separo bem as carreiras. Quando estou como atriz, fazendo a novela, estou focada ali. As pessoas até esquecem que sou cantora. E vice-versa. Não sei se é como eu conduzo ou a naturalidade com que vivo as duas carreiras”, avalia. “Me perguntaram porque não lancei o disco na época da novela, porque ajudaria com a divulgação e tal. Mas não quero me atropelar, gosto de dedicar meu tempo ao que estou fazendo no momento, viver aquilo intensamente”.

Não querer equilibrar muitos “pratos” ao mesmo tempo, não significa que a atriz não esteja produzindo com toda sua força criativa. “Acabei uma novela em outubro, agora estou focada na música. E já filmei “Juntos e enrolados” e começo o ano rodando mais dois filmes. Divulgando também, “O barulho da noite”, da Eva Pereira e “Longe do Paraíso”, do Orlando Senna”, diz. “Acho muito importante fazer e falar de cinema neste momento do país”.

Emanuelle mistura a necessidade de desaceleração, foco e sua inquietude artística. Tanto, que voltará aos palcos ano que vem, como atriz, depois de cinco anos. “Farei o musical “Chicago”, a preparação começa já no início do ano”, conta a atriz, que viverá a protagonista Velma Kelly, na segunda montagem brasileira. “É um espetáculo da Broadway feito no Brasil. Tenho a vivência da música, do canto e do teatro, e agora vou viver tudo junto. É um tesão artístico, um resgate ao teatro, que amo, minha arte primeira. Já fiz um musical antes, mas com temática brasileira. A partir de julho estarei totalmente voltada para ele”, anuncia.

E fazendo um balanço de 2019, a artista avalia o ano como produtivo e difícil. “Foi um ano duro para mim pessoalmente a para o Brasil também”, observa Emanuelle, que perdeu o pai em fevereiro. “Minha melhor forma de trabalhar isso tudo, de resistir, é produzir, produzir e produzir. Estou fazendo a roda girar. Me aguarde que em 2020 vou produzir ainda mais”, garante. Nós acreditamos, Emanuelle. E torcemos.

E conclui: “Sou uma otimista. E reconheço que este ano teve muita coisa boa, por isso fiz questão de fechá-lo lançando uma música, mesmo que o disco todo só chegue no início do ano que vem. Posso dizer que fecho 2019 feliz: entrego para o universo dois projetos importantes para mim, a música e o clipe. É um trabalho que transborda sentimento, emoção. Esse é um trabalho íntimo. Estou falando da obra do Jards, mas estou falando de mim mesma. Reflete o momento em que tudo brotou. Tem força, tem garra”.

Apesar de falar de trabalho com energia, ela entrega que só deseja sossego para fechar esse ciclo. “Vou passar o fim de ano em uma praia de Alagoas, no Nordeste. Sem celular, com meu namorado (o modelo e empresário Fernando Diniz) e com amigos”, revela. “Pretendo me energizar para o ano que começa. E tenho vários rituais, que este ano estarão todos feitos. Tenho uns particulares, mas o que mais vai ser forte para mim, serão minhas orações, meditações. Aprendi a equilibrar corpo, mente e coração. Também vou jogar luz para o universo, para o coletivo, para o Brasil e o mundo”.

E se a atriz pudesse ter um desejo realizado, qual seria? “Gostaria que as pessoas fossem menos individualistas, prestassem mais à atenção umas nas outras. Olhassem para as pessoas que nunca são olhadas. Faria um convite ao coletivo, é isso”.

E um sonho para os 365 dias que virão? “Paz de espírito, minha irmã. Conseguir fazer tudo na vida com equilíbrio. Não adianta nenhuma conquista, sem paz de espírito. Desejo que nós tenhamos um ano iluminado!”.

E anuncia: “Estou fazendo a roda girar. Me aguarde que em 2020 vou produzir ainda mais” (Crédito: Dêssa Pires)