À frente do Foo Fighters, Dave Grohl faz show de quase três horas no Maracanã e mostra que o rock está longe de morrer


Noite dedicada aos roqueiros ainda teve apresentações de Raimundos e Kaiser Chiefs

*Por João Ker

Com muito sol, calor e animação, o Maracanã recebeu na tarde/noite deste domingo (25/1) três shows de rock que não só lotaram o Estádio Jornalista Mário Filho, mas também entraram para a história dos grupos que se apresentaram: Raimundos, Kaiser Chiefs e Foo Fighters. Claro, os responsáveis por arrastar a multidão que se espremeu no espaço foram Dave Grohl + banda, que já tinham passado pelo Brasil em 2013 – durante o Lollapalooza -, e, em 2001,  para o Rock In Rio.

O estádio só foi se enchendo por volta das 21h, já que o show principal estava marcado para 21h15 e, como é de costume do carioca, as pessoas gostam de chegar em cima da hora para os eventos. Nada que preocupasse os ansiosos que já formavam fila em volta do Maracanã desde cedo, querendo pegar um bom lugar na frente e ganhando de quebra os outros dois shows que, apesar de não levantarem muito a plateia, cabiam no clima do dia. Digão, vocalista do Raimundos, bem sabia disso, quando já entrou declarando que “o templo do futebol se tornaria o templo do rock”. Com Canisso (baixo), Marquim (guitarra) e Caio (bateria), a banda conseguiu mandar bem com o curto tempo de show – apenas 30 minutos de apresentação. A plateia respondia cantando junto alguns sucessos, como “Nêga Jurema”, “Esporrei na Manivela” e “Mulher de Fases”.

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Por volta das 20h foi a vez de os britânicos do Kaiser Chiefs trazerem seu rock alternativo para o palco, com poucos hits conhecidos pelo público – “I Predict A Riot”, “Ruby” e “Everyday I Love You Less and Less”, responsável por abrir o set -, o que não atrapalhou em nada a animação do grupo liderado por Ricky Wilson. Com presença de palco, energia de sobra e atitude rock ‘n roll que não decepcionou, os rapazes conseguiram deixar a plateia interessada e já no clima para o que vinha a seguir. E nada de descanso, porque na manhã de hoje eles já lançaram o novo single “Falling Awake”.

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Com a tela ocupada pela imagem de uma lua cheia por trás do Cristo Redentor, o Foo Fighters anunciou sua entrada no palco do Maracanã sem um minuto de atraso, exatamente às 21h15. Com os cabelos compridos e esvoaçantes, Dave Grohl abriu a noite inesquecível – para ele e para o público – com “Something From Nothing”, primeiro single do mais recente álbum da banda, “Sonic Highways”, carro chefe da turnê que os trouxe ao Brasil.

Vestindo a carapuça de um dos roqueiros mais simpáticos e divertidos, Dave passou a noite se dividindo entre piadas com a plateia e sucessos que permeavam seus mais de 20 anos à frente do Foo Fighters. Os hits foram se seguindo um atrás do outro: “The Pretender” (do álbum “Echoes, Silence, Patience & Grace”, 2007), “Learn To Fly” (“There Is Nothing Left To Lose”, 1999) e até “Arlandria” (“Wasting Light”, 2011). Com oito discos de inéditas no catálogo, o que não faltou durante a noite foram músicas conhecidas pela plateia, que se dividia entre os mais diferentes tipos e tribos de pessoas. Do adolescente ao idoso, do roqueiro tatuado à garota patricinha.

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O calor excessivo não passou despercebido nem por Dave Grohl, que além de derramar uma garrafa de água no rosto, ainda atiçou o público comentando: “Está quente aqui! Mas não quente o suficiente. Vamos esquentar mais!”, disse o ex-baterista do Nirvana. Enquanto as rodinhas punks iam estourando pelos gramados do maior estádio do país, mais sucessos eram executados no palco, com “My Hero” como o ponto alto desta primeira parte do show, acompanhado a plenos pulmões pela plateia que foi simpaticamente orquestrada pelo vocalista: “Vocês querem cantar uma música comigo, seus brasileiros loucos da p***?!”.

É preciso ressaltar que este era um espetáculo voltado para agradar todos os fãs dos músicos: tanto os antigos que começaram a acompanhá-los durante os anos 1990, quanto os mais recentes que os descobriram na metade dos anos 2000. Rafaella Gil, jornalista de 23 anos, que admira o grupo desde quando ouviu o álbum “One by One”, de 2002, afirmou: “Eu não escuto mais [o Foo Fighters] todos os dias, mas ainda é aquela banda do coração”. A abrangência da setlist se encarregou de tratar disso, em momento nos quais era fácil perceber os mais velhos acompanhando as músicas, enquanto outros só se pronunciavam durante os hits mais conhecidos.

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Claro, o público carioca também fez bonito durante a noite. O mar de gente no Maracanã muitas vezes se salpicou com as luzes dos celulares e isqueiros que os fãs levantavam durante as músicas mais calmas como “Big Me”. E, se a plateia VIP conseguiu passar grande parte do show com a vista privilegiada da frente, Dave fez questão de compensar a pista quando se dirigiu ao início da passarela construída no gramado e cantou uma versão acústica de “Skin and Bones” ao lado de Rami Jaffee. Em seguida, anunciou: “Nós não costumamos tocar muito essa música, mas sempre que fazemos isso no Brasil acontece algo diferente”, disse, antes de começar “Wheels”, faixa do Greatest Hits lançado em 2009 e raramente executada ao vivo.

“Mar de luzes” durante o show do Foo Fighters no Maracanã

Com a maioria das músicas estendidas em solos executados por Chris Shiflett (guitarra), Dave, o simpático Pat Smear, Nate Mendel ou o enérgico baterista Taylor Hawkins (que também aparecia nos vocais em momentos pontuais do show), a noite foi repleta de momentos especiais (e HT não está falando do arroto que Grohl soltou no palco). O vocalista ainda deu uma palinha de “Blackbird”, cover dos Beatles, além de tocar “Under Pressure”, do Queen; “Detroit Rock City”, do Kiss“Stay With Me”, do The Faces; e “Tom Sawyer”, do Rush. “Vocês são a maior plateia do Foo Fighter no Brasil”, declarou um Dave animadíssimo, provavelmente se referindo a um show solo do grupo, enquanto o público inteiro fazia coro.

A noite terminou com uma versão estendida de “Best Of You”, uma das mais agitadas e entoadas pela plateia, à qual se seguiu “Everlong”, antes de a banda se despedir com promessas de que voltará em breve. Pode até ser que o rock esteja “morrendo” ou perdendo sua força original pelo mundo afora, mas na noite deste domingo, entre rodinhas punk, clássicos noventistas e atitude rebelde por parte dos músicos, o gênero deu um longo e apreciado suspiro pelas guitarras do Foo Fighters.

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