Exclusivo! Prestes a tocar no Rock In Rio, Sheppard fala sobre o festival, trabalho em família e pop: “Hoje a música está sem substância”


O sexteto australiano formado por irmãos está no seu primeiro álbum, “Bombs away”, e já se destacou nas paradas da Europa e dos Estados Unidos. Em bate-papo descontraído com HT, antes de um pocket show no Bar Lontra, do Fasano, o grupo conversou ainda sobre a expectativa para “o maior show da carreira” e como lida com a cultura brasileira

De Iggy Azalea a Kylie Minogue, a quantidade de artistas pop que a Austrália já proporcionou ao mundo é grande. E, bem no meio desse movimento encontra-se a Sheppard, banda inicialmente formada em Brisbane pelos irmãos Amy, George e Emma Sheppard, e que agregou posteriormente o trio de amigos Jason Bovino (guitarrista), Dean Gordon (bateria) e Jared Tredly (guitarra). Hoje com seis integrantes e após terem escalado as paradas de sucesso dos Estados Unidos e da Europa com o single “Geronimo”, do primeiro e único álbum, “Bombs away”, eles se preparam para uma missão de peso: comandar o Palco Mundo do Rock In Rio antes dos shows de Rihanna e Sam Smith. Em entrevista exclusiva ao HT, o grupo comentou sobre as expectativas para o festival, como é trabalhar em família, fazer pop de qualidade e muito mais.

Hospedado no Hotel Fasano, o sexteto foi um privilegiado ainda antes de começar a sua jornada no festival: durante um pocket show promovido pela Heineken no Bar Lontra, os integrantes do System of a Down resolveram descer de seus respectivos quartos e dar uma canja com o grupo que, claro, não poderia ter ficado mais feliz. Algumas horas antes, a banda australiana curtia o Rio de Janeiro e passeava por pontos turísticos, como o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar, para curtir o entardecer na cidade.

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Unindo letras positivistas e apaixonadas a uma produção épica, os integrantes da Sheppard se espalham no palco com energia incrivelmente contagiante para quem está apenas no primeiro álbum. E é isso que eles pretendem mostrar no Palco Mundo do Rock In Rio. “Estamos super empolgados. Acho que é o maior show da nossa carreira até hoje”, confessam. Curiosos com o funk e fãs do futebol brasileiro, os irmãos Amy, Emma e George, assim como o guitarrista Jay Bovino, ainda comentam com HT que já estão loucos para voltar ao Brasil com um espetáculo próprio, querem muito assistir ao show do Lulu Santos e como reagiram ao descobrirem que iriam tocar no festival. Vem com a gente:


Sheppard – “Geronimo”

HT: O que vocês já sabiam sobre o Brasil antes de chegar ao país?

S: Eu acho que a principal memória que temos do país foi a de ver o Brasil jogando na Copa do Mundo de 2006, se não me engano. Cara, esses jogadores são como máquinas! Eu sei que até hoje sigo todos. Eles são muito inspiradores.

HT: E sobre a música brasileira? Conheceram algum artista ou música que tenham gostado?

S: Bem, nós estamos familiarizados com o funk, e queremos conhecer mais sobre isso. E também o Lulu Santos, que vai tocar antes da gente no Rock In Rio. Dizem que ele é muito bom e estamos ansiosos para conhecê-lo. Com sorte conseguiremos ficar por lá, porque não temos nada marcado para muito cedo no dia seguinte.

HT: Qual a melhor parte de tocar no Rock In Rio e como vocês reagiram ao saber que iriam tocar no palco principal?

S: Eu nunca tinha ouvido falar direito sobre o Rock In Rio. Depois fui pesquisar e vi que é o maior festival do mundo. E ainda nos colocaram antes do Sam Smith e da Rihanna! Quase não acreditamos… Foi um daqueles momentos tipo ‘Me belisca’. Acho que a melhor parte de tocar em um evento desse tamanho é a exposição. Além da audiência, porque algumas pessoas que nunca nos ouviram poderão nos conhecer pela primeira vez. Ah, e isso sem falar em vir ao Rio de Janeiro e poder ficar de frente para a praia (risos).

Sheppard durante entrevista no Hotel Fasano (foto: AgNews)

Sheppard durante entrevista no Hotel Fasano (foto: AgNews)

 

HT: Para vocês, como artistas, qual a diferença entre participar de um festival e poder se apresentar com um show só da Sheppard?
S: Festivais são uma vibe ótima e todos estão em um clima incrível. Mas, claro, há os prós e os contras. Você pode entrar em um grupo de artistas incríveis e levar sua música para pessoas que ainda não a conhecem, e assim conseguir novos fãs. Ao mesmo tempo, no seu próprio show, todos estão ali por você e estão animados de ouvir apenas a sua música. Há uma conexão maior e a chance de criar uma relação com os fãs.

HT: Como é trabalhar com a própria família? Vocês conseguem separar os momentos de falar sobre música e abordar os assuntos pessoais?

S: Nós nunca estivemos em outra banda, com outras pessoas, mas é ótimo que estamos juntos, porque podemos ser sinceros uns com os outros, e temos a sorte de não brigarmos muito – pelo menos não seriamente. É legal poder viver todos esses momentos maravilhosos com a sua família, e nós consideramos todos os membros da banda assim. Nunca falamos de trabalho em casa, na real. Na verdade, não falamos de trabalho nem quando estamos trabalhando (risos)!
HT: Vocês estão apenas no primeiro álbum e já conseguiram um bom destaque nas paradas de sucesso da Europa, da Austrália e dos Estados Unidos com o “Bombs away”. O quanto vocês pensaram em sucesso comercial na hora de comporem as músicas e o quanto vocês acham que isso pode influenciar nos trabalhos futuros?

S: É 95% mais a ver com a música do que com vender ou ter um hit. Se você quer ter a sua música na rádio e tal, é preciso ser esperto e pensar em formas específicas para construir um trabalho. Mas começamos a banda por gostarmos de música e de nos expressarmos assim. Nada do que fazemos é manufaturado. Não escrevemos uma música com o propósito de colocá-la na rádio, apenas nos divertimos e fazemos o que parece certo.

HT: Vocês citam artistas como Elton John e os Beatles entre as referências para esse álbum, por gostarem do pop antigo. Acham que existe algo errado com a música pop hoje em dia? Como a comparam com aquela feita nos anos 1960 e 1970?
S: Há algumas diferenças hoje em dia no pop, principalmente na forma como os artistas lidam com a música, se compararmos aos anos 1970. Nós não olhamos muito o que está acontecendo agora porque muitos dos cantores não escrevem suas próprias letras. Nós vemos o pop como uma forma de arte particular, separada dentro da arte de fazer música. Criar música pop é muito divertido, e hoje em dia parece que se tornou algo manufaturado, sem substância. Queremos trazer de volta aquele sentimento antigo e clássico do pop, com coração e alma. É de onde sempre puxamos as nossas influências, em artistas como Elton John e Fleetwood Mac. Acreditamos que o público se relaciona mais com o som quando sabe que foi o próprio artista quem escreveu aquilo.

HT: A Austrália tem lançado muitos artistas pop com conteúdo nos últimos anos. Há algum que vocês gostam mais ou encaram como uma inspiração?
S: Nós gostamos bastante da Sia. O Gotye também é maravilhoso e bem experimental. Tame Impala é outra banda incrível.