Exclusivo! Paulo Miklos estreia no teatro carioca com a peça “Chet Baker, Apenas um Sopro”: “Quero abrir um novo capitulo da minha história”


Escrita por Sergio Roveri e dirigida por José Roberto Jardim, a peça é inspirada em um episódio real da vida de Chet: “É preciso estar atento para que a vida não se torne uma especie de reality show”

Do Titãs para o mundo! Paulo Miklos é o típico artista inquieto que está sempre procurando uma boa e nova fórmula de se reinventar. Depois do fim do casamento de 34 anos com uma das maiores bandas de rock do cenário nacional, o cantor, ator e multi-instrumentista consegue enfim dar prioridade ao antigo sonho de viver bons personagens nos palcos do teatro brasileiro. Apesar do esfuziante brilho de principiante, o momento era de mudanças e reviravoltas na vida de Paulo, tanto que ele mesmo definiu o período como um “salto no desconhecido”. Essa sensação começou de fato a ganhar mais espaço no início de 2016, quando o ex-titã decidiu dar por encerrada sua parceria de sucesso com os antigos companheiros de banda. Pode não ter sido a decisão mais fácil de sua vida, mas foi a partir daí que Miklos recebeu a oportunidade de sentar na cadeira de jurado do “The X Factor Brasil e mais: nesta quinta-feira, ele dá pontapé inicial na temporada carioca da peça “Chet Baker, Apenas um Sopro”, no Teatro I, do Centro Cultural Banco do Brasil. E acreditem ou não, é a primeira vez que o artista sobe em um palco para dar vida a um personagem.

Paulo Miklos como Chet Baker (Foto: Divulgação)

Paulo Miklos como Chet Baker (Foto: Divulgação)

Em entrevista exclusiva ao HT, Paulo falou sobre o novo momento de sua carreira e ainda avaliou como “anti-democrática” a crise política encarada pelo nosso país. “A gente está vivendo um momento muito difícil da democracia. Aguardo ansiosamente por novas eleições. O nosso povo necessita de um governo legítimo e um governante escolhido através das urnas. Este período é complicado e rompe a nossa ideologia política. Eu desejo fortemente que o nosso sistema democrático seja restabelecido. É inadmissível que depois de longos anos de luta pela liberdade, estejamos passando por esse tipo de situação no Brasil”, declarou pertinentemente o artista.

Sem medo de expor suas opiniões e amante de bons desafios, como todo bom roqueiro – diga-se de passagem, Paulo embarca agora no fascinante e controverso mundo de Chet Baker, uns dos maiores trompetistas e músicos de jazz norte-americanos. No entanto, a montagem está longe de ser um produto biográfico, já que transita por momentos específico da trajetória do instrumentista. “Eu me encantei pela peça logo de cara. Imagine só ter a oportunidade de viver um ícone do jazz no teatro? A história acontece durante um ensaio onde o Chet se reencontra com os músicos no estúdio, depois de viver uma agressão fortíssima que o afastou de suas atividades musicais. Paira uma dúvida se ele vai ser capaz de retomar essa carreira também. Eu estou muito feliz de poder contar essa história de um cara tão complexo e tão importante para a estrutura da música mundial”, comentou ele, que ainda relembrou a influência do artista para a construção da bossa nova no Brasil. “O interessante é que ele é uma das grandes referências para a criação da bossa nova. Inclusive, ele morava na Califórnia (EUA), um ambiente muito solar, assim como o Rio. Acho que vai ter um significado todo especial chegar com essa montagem na cidade carioca”, avaliou.

Miklos e a atriz Anna Toledo (Foto: Divulgação)

Miklos e a atriz Anna Toledo (Foto: Divulgação)

Escrita por Sergio Roveri e dirigida por José Roberto Jardim, a peça é livremente inspirada em um episódio real da vida de Chet Baker, que, no fim dos anos 60, após ser agredido por traficantes, ficou três anos sem poder tocar. Viver um personagem que faz parte de um universo do qual é tão íntimo contribuiu para que Miklos se sentisse ainda mais à vontade na nova empreitada. “O fato de ser ambientado em um estúdio também criou uma familiaridade e me deu muita força para aceitar o desafio. Porque o teatro era até então um grande mistério. Eu ia estar em cena, ia ter música, mas não da maneira como eu sempre vivi. Eu não ia estar cantando, com meu instrumento. Isso faz toda a diferença. Mas depois rapidamente eu descobri que meu instrumento era meu corpo, minha voz, e a minha canção era o personagem”, avaliou Paulo, que, ainda assim, é antigo conhecido do público como ator de cinema. “Quando topei fazer a peça, veio aquela mesma sensação de estar me jogando no desconhecido, sem saber muito bem o que fazer, mas sabendo que precisava fazer”, relembrou ele, que há 15 anos dava seus primeiros passos no mundo da interpretação em “O Invasor”, de Beto Brant.

A montagem estreia no Rio nesta quinta-feira (Foto: Divulgação)

A montagem estreia no Rio nesta quinta-feira (Foto: Divulgação)

No palco, ao lado de Miklos, estão a cantora e atriz Anna Toledo e os músicos Jonathas Joba, Piero Damiani e Ladislau Kardos. Entre uma canção e outra, executadas ao vivo, há a fragilidade de Chet, a insegurança em relação ao futuro, a discussão sobre o impacto negativo do abuso das drogas e a dinâmica entre seus anseios artísticos e as expectativas do mercado. “Abrimos uma série de importantes discussões sobre dependência química e alcoolismo, sobre como isso piora, às vezes, quando o dependente é um artista. Existem as pessoas que não falam francamente, que passam a mão na cabeça. Tem tudo isso e a expectativa de saber se ele vai conseguir tocar ou não”, afirmou ele, sem entregar na montagem Chet vencerá seus traumas e retomará sua carreira. Ainda nessa linha, Miklos comentou que a sensação de poder que a fama traz pode se tornar letal na vida de um artista. “É uma armadilha do sucesso. A adulação que o artista recebe… É preciso estar atento para que a vida não se torne uma especie de reality show, enquanto o ser humano está passando por momentos difíceis”, revelou.

A trama relata o período mais conturbado da vida do trompetista (Foto: Divulgação)

A trama relata o período mais conturbado da vida do trompetista (Foto: Divulgação)

E falando em reality show, como um dos jurados do “The X Factor Brasil”, reality musical da Band, Miklos comentou sobre a experiência de agora estar do outro lado do jogo. Depois de passar anos sendo avaliado como cantor e instrumentista, agora chegou a vez de dar seus mais preciosos conselhos. “Olha, é uma responsabilidade muito grande. Primeiro porque nós estamos lidando com o sonho das pessoas. Mas às vezes aparecem candidatos que não têm a menor noção do que estão fazendo ali. Os conselhos que damos é para o enriquecimento. Às vezes uma palavra forte e sincera pode ajudar muito uma carreira”, disse ele, que ainda relembrou seus tempos de banda de garagem. “Eu ouvi muitos ‘nãos’, mas que hoje vejo que me ajudaram a trilhar o meu caminho. Eu entro com a minha experiência de maneira franca para jugar os participante. O ‘sim’ e o ‘não’ é um incentivo”, disse.

Miklos ao lado de , Di Ferrero, Alinne Rosa e Rick Bonadio nas audições do 'X Factor Brasil' (Foto: Divulgação)

Miklos ao lado de , Di Ferrero, Alinne Rosa e Rick Bonadio nas audições do ‘X Factor Brasil’ (Foto: Divulgação)

No entanto, apesar da boa audiência que o programa tem tido nas noites da Band, a repercussão sobre a qualidade dos candidatos têm sido debate em posts nas redes sociais. De acordo com Miklos, a oportunidade que o programa dá é para todos. “Eu não concordo que o nível seja baixo. Na internet a gente ouve muita coisa. O que acontece é que tem muita gente talentosa, mas também tem muita gente jovem, que ainda precisa de mais experiência. Ainda estão verdes. E essa tem sido uma grande oportunidade para essa turma toda. E só acontece ali quem acontece. É uma grande vitrine para os artistas brasileiros”, avaliou o cantor e ator, que aproveitou para comentar sobre sua saída do Titãs. “Eu tenho certeza que foi uma decisão correta. Eu estou muito feliz e cheio de projetos pela frente, assim como os Titãs estão buscando novos rumos. Eu torço e sou muito fã deles. São meus parceiros de uma vida todo. No entanto, quero abrir um novo capitulo da minha história”, ponderou ele.

O artista e os parceiros do Titãs (Foto: Divulgação)

O artista e os parceiros do Titãs (Foto: Divulgação)

No entanto, mesmo estreando no teatro, ele segue cheios de planos paralelos com a música e a televisão. Ao HT, Miklos entregou que segue em pré-produção para seu primeiro disco solo e uma série no Canal Space Brasil. “Estou preparando um novo disco pro ano quer vem, meu primeiro solo, que pretende ser bem plural. Com parcerias novas e um novo jeito de criar. Mas ainda é muito embrionário. Recentemente também participei da série ‘A Lei’, onde faço um policial corrupto. É um daqueles vilões”, disse ele, que ainda contou sobre oportunidade de ter participado do filme infantil “Carrossel”. “Hoje tenho fãs de oito anos. É uma delícia”, completou.