Márcia Castro aposta em nova sonoridade eletrônica, faz show no Rio e dispara contra o governo: “Primeiramente, fora Temer”


Cantora, que se apresenta neste fim de semana na Caixa Cultura do Rio, comentou os recentes casos de homofobia através do mundo: “Temos uma politica muito suja. Estamos vivendo um momento de intolerância em que é imprescindível que a gente mostre nossa cara nesse retrocesso todo”

Há tempos que a Bahia ficou pequena para a cantora Márcia Castro, que vem, aos poucos, fazendo um barulho cada vez maior no cenário musical. Seu mais recente disco é o autoral e experimental “Das Coisas que Surgem”, produzido por Gui Amabis, que foi lançado no mercado fonográfico há cerca de dois anos e, agora, ela se prepara para fazer uma revolução em si mesmo com um novo disco que chega ao mercado no segundo semestre, com a artista misturando novas influências à sua sonoridade. Em entrevista exclusiva ao HT, Márcia, que se apresenta no Rio, na Caixa Cultural, nos dias 8, 9 e 10 de julho, contou como montou o show Eletrobailada que promete não deixar ninguém indiferente ao som desta mulher de 37 anos.

Márcia Castro se apresenta na Caixa Cultural neste fim de semana (Foto: Divulgação)

Márcia Castro se apresenta na Caixa Cultural neste fim de semana (Foto: Divulgação)

“Tocar no Rio é sempre uma alegria, por ser um dos lugares mais importantes para a difusão da nossa música, pela familiaridade com a Bahia, pelos tantos amigos que estão na cidade. Lancei ‘Das Coisas que Surgem’ no Rio, onde também encerro essa etapa, tocando coisas dos meus três discos e já dando o sabor dos meus novos sons que virão logo adiante”, garantiu ela, que ainda deixou escapar que também promete apresentar faixas que devem entrar no seu próximo CD, que vai ser uma reviravolta em sua carreira – com direito a repaginação by Paulo Borges e lançamento pelo selo Joia Moderna, do nosso colunista incansável Zé Pedro.

“É bem mais dançante, no qual eu pego as canções mais animadas da minha carreira e transformo para esse clima mais de pista. A ideia é arriscar uma sonoridade nova e bem mais pop onde estou me relacionando muito mais com minhas origens baianas, que não estavam tão presentes nos trabalhos anteriores. É um reencontro com a música baiana de raiz, da música afro, misturando com a sonoridade do que está acontecendo por lá”, adiantou.

Márcia Castro (Foto: Divulgação)

Márcia Castro (Foto: Divulgação)

Márcia, que também toca violão, começou sua carreira tocando em barezinhos da noite de Salvador e não se arrepende. De acordo com ela, esse tipo de trabalho a ajudou a ter mais empatia com o público. “Dos 16 aos 20 anos eu fiz muito barzinho em Salvador, onde peguei um traquejo com essa relação com o público. E só há dez anos que tenho uma carreira que considero profissional. A partir do momento em que gravei meu primeiro disco eu decidi sair de Salvador, porque, diferente de hoje, era uma época em que só o axé music tinha possibilidade de crescimento”, acrescentou ela, que, atualmente, vê seu estado como um dos lugares que mais exporta novidades para o Brasil.

“A Bahia sempre esteve presente na minha música, através das influências da música dos anos 70, com Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso e os Novos Baianos, por exemplo. Hoje me anima ver uma sonoridade ligada aos ritmos afros. O grupo que mais representa essa vertente é o BaianaSystem. Acredito que vai ser uma linguagem que vá atingir muita gente. No carnaval já é um sucesso, porque provoca essa mistura coletiva e que dá um respiro e renova a festa, que estava presa ao axé e às mesmas pessoas”, contou.

Cantora aposta em canções mais eletrônicas (Foto: Divulgação)

Cantora aposta em canções mais eletrônicas (Foto: Divulgação)

Engajada socialmente e politicamente, a cantora foi convidada recentemente para cantar o Hino do Brasil durante a abertura da Parada Gay da Bahia, que acontece no mês de setembro. “Na verdade foi uma coisa que aconteceu naturalmente pela minha música e pelo meu posicionamento. Tenho uma empatia muito grande com esse público e ele comigo. Eu fico muito feliz porque estamos em um momento em que a gente tem que se reafirmar. E não deixar a peteca cair”, contou ela. “Estamos vivendo um momento de intolerância em que é imprescindível que a gente mostre nossa cara contra esse retrocesso todo”, revelou ela, que ainda comentou os casos de intolerância aos gays.

“Isso é um movimento que tem acontecido mundialmente. É a volta do conservadorismo, em que você tem um movimento que vem avançando em busca de seus direitos e, em contraproposta, outro que surge tentando vetar isso. Enquanto a gente continuar vendo mortes absurdas, temos que nos reafirmar. Temos uma politica muito suja. As pessoas que estão à frente destas questões estão causando mais confusão do que trazendo soluções”, comentou.

Seguindo esta linha, questionada sobre a atual crise política no país, Márcia Castro é categórica. “Primeiramente, fora Temer“, iniciou o papo. “Eu sou contra o impeachment, por questões jurídicas, morais e culturais. Esse movimento foi um crime contra a democracia brasileira. Existe um jogo político muito forte, mas também acredito que seja um momento de crescimento, para o brasileiro olhar para si”, ponderou ela.

Voltando aos trabalhos musicais da moça de 37 anos, que seguem a todo vapor, Márcia, que também ataca de escritora nas horas vagas, garantiu que volta à Cidade Maravilhosa em agosto para um show gratuito oferecido pelo Comitê Olímpico, na Praça Mauá. “Vou cantar no Boulevard Olímpico, na Praça Mauá, no dia 16 de agosto. O evento será aberto ao público, como uma forma de celebração das Olimpíadas 2016“, adiantou ela, que acredita que o evento trará bons fluídos para a cidade. “O que define uma Olimpíada no país não é o momento que ele está passando, mas sim a celebração do esporte. Se a gente for pensar em urgências, existem coisas muito mais importantes a serem discutidas, mas acredito que será importante para o Brasil”, avaliou ela, que recentemente também participou do projeto de atravessamento artístico e literário Metrônomo, da nossa colunista Fabiane Pereira, e uma coletânea de histórias, no livro “Amor em Silêncio”. “É um texto autoral, mas ficcional também. Foi só um trabalho, mas como eu gosto muito de literatura talvez eu faça algo futuramente”, completou.