Exclusivo! João Bosco & Vinicius falam de Zeca Camargo, meio sertanejo e lamentam: “a fiscalização dos direitos autorais é falha”


Com o álbum “Estrada de Chão” no mercado, a dupla falou com HT que desde o começo da carreira os valores de direitos autorais “não mudaram nada” e que Zeca Camargo “pecou quando ele começou a fazer comparação expressando um gosto pessoal” ao falar de Cristiano Araújo

Pare de ler esse texto se você nunca escutou uma música ou ouviu alguma crítica ou elogio ao sertanejo universitário. Com a certeza de todos ainda por aqui, uma explicação: o termo, tão disseminado na música brasileira com hits e artistas mil, nada têm a ver com musicalidade. Quem põe fim à confusão é a dupla pioneira na vertente, João Bosco & Vinicius. “As pessoas associam o sertanejo universitário à música, sendo que se tivesse de haver uma associação seria com o público”, explicou Vinicius acompanhando por João Bosco: “Isso surgiu pelo fato de eu e Vinicius sermos universitários. Se isso não faz parte da historia dos outros, isso é com eles. Os primeiros shows que nós fizemos fora do nosso estado [eles são de Mato Grosso do Sul] eram realizados por comissões de formatura, pelas repúblicas. Essa galera da faculdade que foi nosso primeiro público fiel”. Portanto, mais a ver com história que com gênero, o sertanejo universitário é como diploma de faculdade: se não tem, não vale. “A gente não esta inventando e não tem vergonha nenhuma de ser desse sertanejo. Alguns falam: ‘Ah, música ruim é o tal sertanejo universitário’. Não. Música ruim é musica ruim”.

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Enquanto João labutava para se tornar odontologista e Vinicius fisioterapeuta, os paulistas que iam para Campo Grande estudar começaram a disseminar o som da dupla que já arranhava uns agudos pelo Centro-Oeste. De lá para cá, se passaram 22 anos de carreira, sendo metade deles cantando em barzinhos numa época em que tinham um repertório baseado nos pesos pesados do gênero como Leonardo e Chitãozinho & Xoróró. Os tempos foram tão áureos que motivaram a gravação de um álbum, o “Estrada de Chão”. “A nossa influência musical veio dos grandes cantores mais tradicionais e esse é um dos motivos que a gente quis resgatar esses clássicos”, justificou João, que foi além. “Hoje o gênero está vivendo seu melhor momento. Das 100 músicas mais tocadas nas rádios, 58 foram sertanejas. 2014 foi o ano, em termos de número de artistas e de execuções em rádio, que o gênero teve sua maior visibilidade. Então, de a gente chegou até aqui, a gente tem que considerar que também foi graças aos grandes ícones da música sertaneja como Sérgio Reis e Zezé di Camargo & Luciano”.

E já que o assunto era mercado sertanejo, não dá para esquecer a famosa declaração de Jorge, da dupla com Matheus: “nosso meio é podre e eu tenho nojo”. Se João Bosco & Vinicius dão eco? “Tem gente que trabalha visando seu próprio benefício, enquanto tem gente que trabalha visando o vizinho. Isso é muito normal. Foi um desabafo. Eu não sei o que ele estava pensando, o que o motivou a falar isso. Eu acho que o cenário que eu vivo, de todos os gêneros, é o mais unido. Todo mundo sempre procurou se ajudar. O fato de agora ter muitos artistas ocupando o mesmo espaço, pode acontecer de ter um atrito. Mas isso é disputa de mercado, acontece em qualquer lugar”, opinou João Bosco. E sobre os rostinhos bonitos de barriga tanquinho que roubaram a cena? Um torso de fora vale mais que um modão?  “É claro que o conjunto da obra pode ser importante. Se você perguntar para o mercado e para as meninas bem assim: ‘você quer um cara bonito ou um feio”? Nem precisa falar a resposta. Mas gosto não se discute e beleza também não. O que se discute é talento, é qualidade vocal do artista e o repertório. Se for bonito e malhado, é melhor. Mas tem que ter talento”, disse João, acompanhando pelo gracejo de Vinicius: “se fosse assim nossos amigos César Menotti & Fabiano não estariam fazendo sucesso”.

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Com vídeos no YouTube que passam das casas dos milhões e álbuns completos disponibilizados em serviços de streaming, a dupla diverge um pouco de opiniões quando a questão passa a ser a polêmica em torno do dinheiro de direitos autorais repassados pelas empresas aos artistas. Movimentos como o Procure Saber, por exemplo, já aumentaram a voz para alertar que a conta não fecha. João Bosco, com bons argumentos, se mostra um pouco desacreditado. “Honestamente? Desde o começo da nossa carreira musical até agora não mudou nada. A gente continua recebendo sempre um valor compatível ao que a gente sempre recebeu. Não teve nenhuma mudança. O que dá dinheiro para o artista é show”, disse. Mas Vinicius reclama. “Quando a gente vai gravar um DVD, a gente paga imposto em cima do cachê do musico, do LED que é alugado, do som. E na hora de voltar não volta bulhufas nenhuma. Sou a favor que as pessoas combatam essas mídias de graça. Já que a galera prefere baixar a música do artista, isso tem que ser melhor fiscalizado. Imagina se, por exemplo, a gente ganhasse dinheiro com show e investisse só em show? A gente ganha dinheiro no show, mas investe em radio, TV, gravação de DVD e CD e mídias sociais. Então não é justo”, opinou.

João Bosco ainda alertou que o assunto é mais amplo do que imaginamos. “Quando a gente fala de arrecadação, não falamos só de serviço. A fiscalização, como tudo no nosso país, é muito falha. Na música, desde que a gente ingressou, sempre foi assim e ate agora não houve mudança. Tinha que ter uma lei mais rígida que beneficiasse o artista, a cultura. Mas olha, não vai mudar nossa vida”, disse. Como o assunto estava quente e HT está sempre de olho em tudo que acontece, aproveitamos para voltar um pouco no tempo e resgatar o episódio polêmico entre os sertanejos e o jornalista de música Zeca Camargo. Lembramos: quando Cristiano Araújo morreu vítima de um acidente de carro, Zeca escreveu uma crônica questionando o clamor nacional em torno da morte. Bastou para alguns sertanejos se revoltarem. “O Zeca pecou quando ele começou a fazer comparação expressando um gosto pessoal. A gente ficou um pouco chateado pelo fato de que a gente vive a vida que o Cristiano vive. O único pecado que vejo nisso tudo é que não foi pensando nos familiares dele e da namorada. Ele não pensou em quem estava sofrendo com aquilo tudo”, falou Vinicius. Para João Bosco, Zeca “expressou uma vontade, um desejo”. “A gente sabe que ele é do rock. Não sei baseado em que ele falou aquilo”.