Exclusivo! Gal Costa fala sobre “Estratosférica”, turnê e nova fase na carreira: “Não tenho medo de me arriscar e não me cobro nada”


Completando 50 anos de carreira, uma das maiores vozes do mundo comenta com HT sobre as constantes mutações ao longo de sua trajetória, seu espírito jovem e como alimenta a vontade de inovar

“Sou uma artista que não tem medo de buscar uma linguagem nova, de me arriscar, de me jogar  em um trabalho que pode ou não pode dar certo. É um risco que eu corro, e o trabalho de um artista é sempre um risco”, comenta Gal Costa, em entrevista exclusiva ao site HT. Em 2015, uma das maiores vozes do Brasil – e por que não do mundo – completa 50 anos de carreira, ao mesmo tempo em que lança o disco “Estratosférica”, reunindo 14 faixas de compositores que ela nunca gravou em sua vida. E Gal prova que está com fôlego e vontade de fazer muito mais do que aquilo que já realizou nesse meio século de estrada.

Com 50 anos de carreira, Gal Costa fala que não pretende parar de se reinventar: "Sou uma artista que não tem medo de buscar uma linguagem nova, de me arriscar, de me jogar num trabalho que pode ou não pode dar certo. É um risco que eu corro, e o trabalho de um artista é sempre um risco" (Foto: Bob Wolfenson | Divulgação)

Com 50 anos de carreira, Gal Costa fala que não pretende parar de se reinventar: “Sou uma artista que não tem medo de buscar uma linguagem nova, de me arriscar, de me jogar num trabalho que pode ou não pode dar certo. É um risco que eu corro, e o trabalho de um artista é sempre um risco” (Foto: Bob Wolfenson | Divulgação)

A mensagem da fase atual da artista é clara e chega logo na primeira faixa, ali pelos versos iniciais. “Nada do que fiz, por mais feliz, está à altura do há por fazer”, canta Gal em “Sem medo nem esperança”, um rock feroz escrito por Antonio Cícero. Para uma cantora que já passou pela bossa nova, pelo Tropicalismo, enfrentou uma ditadura, colocou inúmeras músicas no imaginário popular e conseguiu se manter no topo através de todas essas cinco décadas em que esteve ativa, afirmar que ainda pode se superar é uma prova de inquietude criativa e autoconfiança que poucas pessoas sonham em conseguir. Mas essa é e sempre foi Gal Costa.

“Você nunca sabe como as pessoas vão reagir. Saio da zona de conforto, que para mim é algo normal. Não me cobro nada. Gosto de viver a vida de forma natural. As coisas na minha vida sempre aconteceram naturalmente. Por enquanto, estou vivendo meu momento, esse momento Estratosférica”, conta ela. “Esse disco foi mais um período de renovação, de ruptura, mais um salto na minha história. Marcus [Preto, quem assina a direção artística do projeto] sabe que eu tenho essa coragem de ousar, de mudar, de criar novos caminhos, de dar saltos dentro da minha carreira. Caetano [Veloso] já havia me dito que eu tenho essa tendência. E o Marcus, convivendo comigo, percebeu isso em mim também”.

Para esse momento Estratosférica, Gal resolveu se expressar através de vozes que trazem tanto o frescor da nova geração da MPB, como grandes nomes que já mantêm carreiras tão longevas quanto a da própria. Além de Antonio Cícero citado acima, Caetano Veloso, João Donato, Milton Nascimento, Tom Zé, Lincoln Olivetti e Arnaldo Antunes se alternam em um repertório que também traz Mallu Magalhães, Céu, Moreno Veloso, Criolo, Marisa Monte, Thalma de Freitas, Pupillo (da Nação Zumbi), Marcelo e Thiago Camelo e outros artistas que impressionam não só pela qualidade artística, mas também pela variedade de gêneros e estilos, todos muito bem adaptados à voz da musa, que garante: só canta o que lhe soa verdade e condiz com sua vida.

Em "Estratosférica", Gal mistura referências e gerações no repertório e diz: "Nunca tinha cantado e gravado um geração mais nova que a minha e adorei. Cantei aquilo que realmente bateu, que eu gostei. Eu tenho que gostar da canção para gravar" (Foto: Bob Wolfenson | Divulgação)

Em “Estratosférica”, Gal mistura referências e gerações no repertório e diz: “Nunca tinha cantado e gravado um geração mais nova que a minha e adorei. Cantei aquilo que realmente bateu, que eu gostei. Eu tenho que gostar da canção para gravar” (Foto: Bob Wolfenson | Divulgação)

Gal conta como a tracklist foi se formando a partir das ideias de Marcusque pediu faixas novas aos compositores que conhecia. “Eles foram mandando, nós fomos ouvindo, escolhendo entre as opções que tínhamos até chegar nessas músicas. Queria cantar um repertório novo, de gente jovem ou de uma geração que está há muito tempo na carreira, mas que eu não tivesse gravado. Nunca tinha cantado e gravado um geração mais nova que a minha e adorei. Cantei aquilo que realmente bateu, que gostei. Porque tenho que gostar da canção para gravar”, explica.

Para um artista ainda em início da carreira, ter uma de suas músicas imortalizadas na voz de Gal é algo que não tem preço e automaticamente o coloca em um patamar acima do que estava antes. Mallu, por exemplo, não escondeu sua admiração pela baiana e nem sua empolgação ao descobrir que “Quando você olha pra ela” não apenas entrou para o disco, como foi escolhida para ser o carro-chefe de divulgação do projeto. “Assumo, a partir de hoje, o compromisso de fazer apenas grandes canções, para honrar com o posto de compositora gravada pela Gal”, escreveu a jovem no Facebook, que além de fã, é altamente influenciada por Gal.

Esse contato com a nova geração de fãs e artistas vem renovando o público da cantora há anos, com um dos marcos mais recentes sendo o álbum “Recanto”, lançado em 2011, altamente influenciado pela música eletrônica e cujo estilo marcou mais uma das muitas rupturas na carreira da cantora. “Sobre a influência na nova geração de músicos, eu penso que é importante e interessante devolver e retribuir a eles, tendo uma música gravada por mim. Eles bebem na minha fonte, assim como eu me influenciei por outros artistas antes”, conta. “A minha alma é jovem e cantar para esses fãs mais novos é bom, porque a energia é forte. Tem sido comovente ver a recepção do público. A gritaria e a paixão deles durante o show inteiro é inesquecível”.

Moreno Veloso, que ao lado de Kassin assina a produção musical de “Estratosférica”, comenta sobre o período em estúdio com a musa: “Foi muito bom, ela estava bastante animada e queria até ficar mais tempo gravando, se possível. O álbum foi uma ajuda de todos, e a própria Gal nos influenciou bastante”, lembra. A cantora, por sua vez, conta que mesmo com tantos anos de estrada, ainda sente aquele frio na barriga na hora de lançar um álbum, apesar de saber lidar melhor com isso hoje em dia. “Não muda. A expectativa é sempre grande em cada lançamento. Algumas pessoas podem não gostar da mudança. No passado, essa pressão caía de um jeito mais pesado sobre mim na hora de lançar um disco. Hoje, tudo soa mais tranquilo”, confidencia.


Gal Costa – “Quando você olha pra ela”

Gal pretende entrar em turnê nacional com “Estratosférica”, logo após terminar o espetáculo “Espelho d’Água”, o qual apresenta desde o ano passado. Ela conta que, na segunda quinzena de agosto, irá se reunir com Marcus Preto para escolher o repertório. Em setembro, um mês depois, a artista completará 70 anos de vida, e comenta que continua com “a vontade de fazer novas coisas, de criar novos caminhos, novos encontros. De mudar o caminho”, da mesma forma que quando começou a cantar e surpreender nos palcos do Brasil afora. Voltando à frase de “Sem medo nem esperança”, HT pergunta a Gal o que ainda há por fazer em sua carreira, e se falta realizar algo que ainda não tenha conseguido. A resposta vem na lata: “Muito. Minha carreira é uma eterna mudança, é uma eterna busca de novos caminhos, de novas parcerias e encontros. Sempre há algo por realizar”.