Exclusivo! Flávio Venturini defende a briga pelos direitos autorais e confessa: “a música de hoje não me emociona muito”


Antes de se encontrar com Sá & Guarabyra e o Grupo 14 Bis no Citibank Hall, no Rio de Janeiro; o cantor e compositor conversou com HT e revelou que está escrevendo um livro de memórias

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(Foto: Facebook)

Flávio Venturini iniciou essa conversa com HT de sua casa em Minas Gerais.  Ele tinha acabado de chegar de Campinas, no interior de São Paulo, onde participou de um festival com o grupo O Terço, e estava ofegante. Aos 65 anos, o cantor e compositor – de sucessos como “Todo Azul do Mar” e “Linda Juventude” – está equilibrando uma quantidade de projetos paralelos que quase fogem dos dedos das mãos, o que explica muita coisa. Ele, aliás, não os enumera de imediato. Precisa pensar. “Tem um show do meu último disco solo lançado, um com orquestra sinfônica, o show baseado em um disco da década de 90, e os com O Terço que são eventuais”, lista. E não acaba por aí: Flávio ainda faz um show instrumental que quer transformar em CD. Tempo é que lhe falta.

A gama de atividades o impossibilitam, por exemplo, de desenvolver um livro de memórias, que ele nos confidencia que já está no terceiro capítulo. Quando terminará é um mistério. Ele não sabe precisar nem se quisesse. Falta tempo também para vasculhar seu acervo de canções que nós mortais nem sonhamos que existem. Se bobear, nem ele lembra. São quase 600 que nunca vieram a público. Flávio Venturini, neste papo exclusivo, ainda conversou sobre o cenário musical atual, serviços de streaming, o saudoso Clube da Esquina e a polêmica dos direitos autorais. Tudo antes de se encontrar com Sá & Guarabyra e o Grupo 14 Bis (grupo que ele já pertenceu) no dia 06 de junho no Citibank Hall, no Rio de Janeiro, para mais uma edição do Encontro Marcado – ocasião em que celebrarão sucessos marcantes de suas carreiras como “Planeta Sonho”, “Dona” e “Espanhola”.

HT: Você prefere seu trabalho como compositor, vendo sua música ir muito longe em outras vozes, ou seu lado intérprete?

FV: Compositor. Embora eu sempre tenha estado na estrada. Eu não sei contabilizar nesses quarenta anos de carreira, mas desde que eu entrei n’O Terço, eu nunca parei de tocar. E eu não faço música e fico mandando para as pessoas. Eu acho até legal quem escreve e envia, mas é opção minha. E mesmo assim acabei sendo regravado por grandes artistas. Eles gravavam, me avisavam e quando via já estava lá (ri).

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(Foto: Luiza Reis)

HT: O Clube da Esquina – movimento musical mineiro – assim como a Tropicália e a Jovem Guarda se esvaíram com o passar do tempo, apesar de estarem de formas marcadas em muitas canções e carreiras por aí. Por que esse esgotamento?

FV: São outros tempos. Todos esses movimentos aconteceram quando o Brasil vivia uma ditadura. A gente tinha uma necessidade de se expressar e foi uma geração particularmente rica criativamente. Isso, para se ter uma ideia, foi do final dos anos 60 para os 70. E nisso ainda teve a Bossa Nova.

HT: Me conta uma história que sempre vem na mente quando o assunto é o Clube da Esquina.

FV: Eu estou escrevendo aos poucos as minhas memórias. Já tenho três capítulos escritor. Comecei há cinco anos mais ou menos. Ah, eu me lembro de muita coisa legal dos anos 70, quando o Chico [Buarque] e o Caetano [Veloso] já estavam exilados. Os únicos dois artistas que lotavam praças – coisa que hoje quem faz é o axé e sertanejo – eram o Milton Nascimento e a Gal Costa. Eles seguravam a onda. Tem também minha casa em Minas Gerais que era uma parte do Clube da Esquina. No final da noite, todo mundo se encontrava lá mostrava uma música nova. Isso foi uma grande aula.

HT: Mas fazendo um comparativo com a situação atual, em meio a sofrências e refrões fáceis, a qualidade caiu….

FV: Se eu falar que diminuiu, vão falar que estou sendo saudosista (ri). A música de hoje não me emociona muito. Hoje a avalanche de novidades é muito grande. Eu nem procuro acompanhar tanto. Gosto de rock inglês, de música instrumental.

HT: Não bate uma tristeza pensando que, quando o assunto são composições, a gente retrocedeu no lugar de evoluir?

FV: (Ri). Eu acho que a gente não tem tempo mais. No meu arquivo por exemplo, já estou chegando em 600 composições. Metade são inéditas. Eu sempre estou fazendo alguma coisa. Uma coisa boa que fiz foi sempre gravar tudo. No meu caso, a área mais fértil foi quando me mudei para Rio de Janeiro. Acho que foi o mar (ri). Mas daquelas quase 300 músicas inéditas talvez nenhuma nunca vire música, mas sempre que eu preciso vou ali e pesco. Realmente, gente tinha mais tempo antes. O mundo era mais leve. Compor era um exercício sextante.

Edição do Encontro Marcado em Belo Horizonte (Foto: Demetrio Aguiar)

Edição do Encontro Marcado em Belo Horizonte (Foto: Demetrio Aguiar)

HT: Não tem nenhum cara novo na cena que você tenha gostado?

FV: (Pensa bastante). Eu não estou apaixonado por nenhum trabalho. E olha que eu interajo muito com as redes sociais.

HT: Falando em redes sociais, há uma peleja de alguns artistas como Frejat e a turma do Procure Saber em relação ao Google, YouTube e os serviços de streaming. Dizem que os direitos autorais não estão sendo pagos na forma devida. Acha que eles estão certos?

FV: Realmente a gente atualmente ganha infinitamente menos com direitos autorais. Isso embora  a música seja um oceano, e que você é escutado por milhares de pessoas. Eu acho que nesse ponto poderia haver um reajuste maior. Hoje o artista não pode mais depender disso. Tudo caiu, até a venda de discos. A boa do streaming é que pelo menos você paga. Hoje já tem a cultura do pelo menos se pagar alguma coisa. Antes não era nem isso.

(Foto: Jane Monteiro)

(Foto: Jane Monteiro)

HT: Bate-bola. Uma composição?

FV: “Nascente”

HT: Uma música para cantar?

FV: Qualquer uma dos Beatles.

HT: Um lugar para compor?

FV: Perto da praia.

HT: Alguém para fazer um dueto?

FV: Caetano Veloso.

HT: Alguém para compor?

FV: Chico Buarque seria um sonho.

Serviço

Encontro Marcado

Apresentação: Sábado, dia 06 de junho de 2015.

Horário: 22h30.

Local: Citibank Hall – Rio de Janeiro (RJ) – Av. Ayrton Senna, 3000 – Shopping Via Parque – Barra da Tijuca.

Capacidade: 3.120 lugares .

Ingressos: de R$ 40 a 200 (ver tabela completa)

Duração: Aproximadamente 1h40

Classificação etária: 14 e 15 anos: permitida a entrada acompanhados dos pais ou responsável legal. 16 anos em diante: permitida a entrada desacompanhados.

Pontos de venda no link: http://premier.ticketsforfun.com.br/shows/show.aspx?sh=pdv