Em noite dedicada a Ney Matogrosso, 28º Prêmio da Música Brasileira é marcado pela resistência da classe artística, apresentações emocionantes e diversidade sexual


Sem verba para a realização da cerimônia, José Maurício Machline contou com a ajuda e o incentivo de artistas, pessoas físicas e empresas para a edição deste ano. “Eu passei por uma verdadeira peregrinação para estar vivendo esse momento que eu acredito que deva ser em respeito a quem faz a música acontecer”

De um lado, um ícone da música brasileira e a necessária grandiosidade ao se falar de Ney Matogrosso. De outro, a crise econômica e cultural que assola o país e traz a desvalorização da nossa arte como consequência. O resultado: a união e a parceria em uma cerimônia feita com apoio de empresas e dedicação integral da classe artística que compareceu ao Theatro Municipal na fria noite do inverno carioca para o 28º Prêmio da Música Brasileira. Esta foi a equação que agitou o centro do Rio de Janeiro ontem à noite. Para homenagear Ney Matogrosso, o idealizador da cerimônia, José Maurício Machline, ultrapassou todos os obstáculos de um evento sem recursos e apresentou em um Theatro Municipal nu e cru a grandeza da nossa cultura brasileira.

Este slideshow necessita de JavaScript.

No palco, artistas como Chico Buarque, Ivete Sangalo, Pedro Luís, BaianaSystemLenineKarol Conka, Laila Garin e Alice Caymmi interpretaram grandes sucessos que marcaram a trajetória de Ney Matogrosso – todos eles soltaram a voz em carinho à cerimônia e ao homenageado, já que este ano ninguém recebeu cachê para participar da festa. Além deles, o repertório ainda teve seis apresentações do próprio nome da noite, que arrancou aplausos do público e transformou o clássico Theatro em uma grande festa no fim ao som de “Pro Dia Nascer Feliz”. Sobre a experiência de ser o nome do 28º Prêmio da Música Brasileira, Ney agradeceu sem se alongar. “Eu agradeço ao Zé e a todos que conseguiram organizar isso para que estivéssemos todos juntos. Estou muito feliz e muito grato. Obrigado”, disse Ney Matogrosso seguido de muitas palmas.

Este slideshow necessita de JavaScript.

E, realmente, não foi uma tarefa fácil fazer com que a noite de ontem acontecesse, e, pela primeira vez, vendeu ingressos para a premiação. “Eu passei por uma verdadeira peregrinação para estar vivendo esse momento que eu acredito que deva ser em respeito a quem faz a música acontecer. Eu tive muitos momentos de desânimo. Todos nós brasileiros estamos vivendo uma fase de angústia no país, principalmente no Rio de Janeiro. Parece que tudo a nossa volta quer que a gente desista”, disse José Maurício que destacou o outro lado desta experiência. “O que nos encorajou foi o apoio da classe artística, de algumas pessoas físicas e de empresas. Nós descobrimos que ainda existe solidariedade e amizade, mesmo em um país com tantas desilusões”, completou o idealizador sobre a edição que teve cinco vezes mais gente envolvida nos bastidores, todas na base da amizade, do que nos anos anteriores.

José Maurício Machline, idealizador do Prêmio (Foto: AgNews)

No entanto, para além da homenagem ao gênio da nossa música, o prêmio, que foi apresentado por Maitê Proença e Zélia Duncan, também destacou o trabalho de artistas em diferentes categorias. No total, foram 21 jurados responsáveis por eleger o melhor de cada quesito dos 79 indicados nesta edição. Entre os destaques, Lenine garantiu dois troféus como melhor cantor e melhor álbum por “The Bridge” na categoria MPB assim como o grupo BaianaSystem que, além de se apresentar no palco do Municipal, ganhou em dois quesitos: revelação e melhor grupo de Pop/Rock/Reggae/Hip/Hop/Funk. Representando as mulheres vencedoras, Ivete Sangalo foi eleita melhor cantora e Elza Soares, que recebeu o prêmio em mãos em sua cadeira, ovacionada com o público de pé, como melhor álbum por “Elza canta e chora Lupi”. (Confira a lista completa dos vencedores no final da matéria)

Este slideshow necessita de JavaScript.

Para completar a noite de festa e esta necessária ode à música brasileira, alguns momentos garantiram um tempero especial ao 28º Prêmio da Música Brasileira. No palco, Laila Garin e Alice Caymmi interpretaram “Bomba H” e depois de tanto cantarem que “o estopim é o beijo” as artistas finalizaram a apresentação com um caloroso beijo que foi bastante aplaudido pelo público. Quem também ganhou destaque na noite foi Karol Conka que com brilho, talento e seu tradicional empoderamento deu voz feminina ao clássico “Homem com H”.

Alice Caymmi e Laila Garin no 28 Prêmio Musica Brasileira (Foto: AgNews)

Lista completa com os vencedores do 28º Prêmio da Música Brasileira:

MPB

Álbum: “The bridge” (Lenine e Martin Fondse Orchestra)

Cantor: Lenine (“The bridge”)

Cantora: Maria Bethânia (“Abraçar e agradecer”)

Grupo: MPB4 (“O sonho, a vida, a roda viva!”)

MELHOR CANÇÃO: “Descaração familiar” (Tom Zé)

REVELAÇÃO: BaianaSystem (“Duas cidades”)

CANÇÃO POPULAR

Álbum: “Elza canta e chora Lupi” (Elza Soares)

Dupla: Zezé di Camargo e Luciano (“Dois tempos”)

Grupo: Saulo Duarte e a Unidade (“Cine ruptura”)

Cantora: Ivete Sangalo (“Acústico em Trancoso”)

Cantor: Odair José (“Gatos e ratos”)

POP/ ROCK/ REGGAE/ HIP-HOP/ FUNK

Álbum: “Canções eróticas de ninar” (Tom Zé)

Grupo: BaianaSystem (“Duas cidades”)

Cantora: Maria Gadú (“Guelã ao vivo”)

Cantor: Rael (“Coisas do meu imaginário”)

SAMBA

Álbum: “Samba original” (Pedro Miranda)

Cantora: Roberta Sá (“Delírio no Circo”)

Cantor: Zeca Pagodinho (“O quintal do Pagodinho: Ao vivo – Vol. 3”)

Grupo: Casuarina (“7”)

REGIONAL

Álbum: “Cabaça d’água” (Alberto Salgado)

Grupo: Grupo Rodeio (“Trilhando o Rio Grande”)

Dupla: Zé Mulato e Cassiano (“Bem-humorados”)

Cantor: Alceu Valença (“Vivo! Revivo!”)

Cantora: Ana Paula da Silva (“Raiz forte”)

INSTRUMENTAL

Álbum: “A saga da travessia” (Letiers Leite e Orkestra Rumpilezz”)

Solista: Toninho Ferragutti

Grupo: Letiers Leite e Orkestra Rumpilezz (“A saga da travessia”)

Arranjador: Letieres Leite (por “A saga da travessia, de Letieres Leite e Orkestra Rumpilezz”)

Projeto visual: Giovanni Bianco (por “Amor geral”, de Fernanda Abreu)

CATEGORIAS ESPECIAIS

Álbum eletrônico: “Craca, Dani Nega e o dispositivo tralha” (Craca e Dani Nega)

Álbum infantil: “Os saltimbancos sinfônico” (Orquestra Petrobras Sinfônica)

Álbum em língua estrangeira: “Yentl em concerto” (Alessandra Maestrini)

Álbum erudito: “Ernesto Nazareth integral” (Maria Teresa Madeira)

Álbum projeto especial: “Delírio de um romance a céu aberto” (Zé Manoel)

Melhor DVD: “Rainha dos raios ao vivo” (Alice Caymmi)