Ecos de Salvador: estivemos lá, conferimos e listamos o que funcionou ou não na folia baiana! Vem conferir!


Um balanço geral sobre a ausência de Ivete Sangalo e Claudia Leitte, os preços absurdos, a trilha sonora e tudo o mais

*Por Júnior de Paula

Sidney Magal, em entrevista no Carnaval de Salvador, disse achar que sertanejos e funk não deveriam invadir o circuito do axé na Bahia. Pois é, agora que a poeira começa a baixar e as cinzas começam a ser recolhidas, é hora de pensar nas frases da temporada, no que deu certo e no que deveria ser repensado para o ano que vem em Salvador.

Deu certo:

– Segurança: parece que havia muito mais policiamento nas ruas e tudo transcorreu na maior normalidade. Claro que os casos de furto de celular na confusão do bloco e algumas brigas podiam ser vistas e sabidas, mas em uma festa com 2 milhões de pessoas nas ruas, já era algo para se esperar. No mais, a sensação era que Salvador estava sendo vigiada de perto, e isso fez toda a diferença.

– Trios sem corda: se a boa há dez anos era sair nas cordas com camiseta do bloco e se diferenciar da pipoca, neste ano a força dos trios sem blocos foi elevada à décima potência com gente do naipe de Saulo Fernandes, Bell Marques e Daniela Mercury puxando os foliões sem distinção. Bell fez um dia, Saulo dois e Daniela todos os dias do Carnaval. Um, inclusive, no Campo Grande, trajeto oficial de desfile dos blocos, onde ela não pisava há mais de 20 anos.

Daniela Mercury (Foto: Reprodução Instagram)

Daniela Mercury (Foto: Reprodução Instagram)

 

– Música do Carnaval: pela primeira vez não foi uma, mas várias. “Xenhenhem” do Psirico, “Se você fosse um peixinho”, do Oito7Nove4, “Raiz de todo bem” – nossa favorita! – de Saulo Fernandes, “Pra Frente”, de Ivete Sangalo e “Gordinho Gostoso”, de Neto LX, “Cartório”, de Claudia Leitte, e “Senta”, de MC Tati, tocaram em todos os trios, várias vezes, mas sem a exaustão do Lepo Lepo, no Carnaval de 2014. Assim, com várias estouradas ao mesmo tempo o Carnaval fica mais diverso, mais divertido e cada um escolhe a sua favorita.


“Raiz de Todo Bem” – Saulo

 

– Camarote da Schin: localizado ao lado do Morro do Gato, o maior beco do trajeto Barra-Ondina, que se transforma em uma arquibancada popular na qual os artistas param e fazem a festa para a turma, tinha uma das melhores estruturas do circuito. Bem no meio do caminho, os cantores chegavam ali já quentes do trajeto e ainda com fôlego para aguentar mais algumas boas horas. A varandona imensa – com direito a palco onde se revezava Tonho Matéria, Marcia Freire e Emanuelle Araújo – era cheia de gente bonita e alegre, o jantar servido no segundo andar era delicioso – e farto! – as bebidas eram de fácil acesso e os shows no interior do camarote estavam entre os melhores da avenida. Afinal, que outro camarote recebeu Ivete Sangalo, Michel Teló, O Rappa, Samuel Rosa, Carlinhos Brown e Leandro Sapucahy?

Saulo Fernandes: o nome deste Carnaval. Ele é como se fosse um membro da família de todos os baianos e todo mundo tem uma palavra de carinho ao se referir a ele. Com sua mistura sofisticada de ritmos e repertório, ele comanda a massa como poucos e é o nome mais importante no sentido de reciclar o Axé, trazendo novos públicos e propondo novas possibilidades. Sua música “Raiz de todo bem” já nasceu como hino da Bahia e sua iniciativa de sair com um trio sem cordas por dois dias demonstra o caminho que ele quer seguir. Correndo por fora, teve o BaianaSystem, um grupo relativamente novo da Bahia, que faz uma música da melhor qualidade e levantou a massa no circuito Campo Grande.

Saulo Fernandes (Foto: Reprodução Instagram)

Saulo Fernandes (Foto: Reprodução Instagram)

 

Pode melhorar

– O trânsito: no primeiro dia, do Rio Vermelho ao Shopping Barra, local onde os táxis e vans estão autorizados a chegar durante os dias de Carnaval, foram 2h30. É preciso pensar melhor o esquema de trânsito que melhorou um pouco nos outros dias, mas, ainda assim, qualquer deslocamento te demandava horas e mais horas sentado no banco de um carro.

– Ausência de Claudia Leitte e Ivete Sangalo: é claro que elas têm o direito de fazer o que quiserem. Inclusive show fora de Salvador durante os dias de folia pela primeira vez na história do Carnaval. Mas é inegável que elas façam muita falta no circuito. Em um momento em que o Carnaval de Salvador vive uma crise – mesmo que isso seja assunto non grato entre os organizadores -, não é muito simpático as duas estrelas principais da folia baiana deixarem de se apresentar por um dia, no caso de Ivete, e dois, no caso de Claudia, nos circuitos da folia. Os fãs e quem gosta do axé ficam órfãos quando não vêem as duas musas na avenida.

– Estrutura de alguns camarotes: é certo que não dá para ir contra a força da natureza, mas é preciso se prevenir de todas as formas para evitar qualquer acidente. Uma chuva forte com ventos e muita água destruiu um camarote no circuito Barra-Ondina e destelhou outros dois. Por sorte, a chuva caiu quando os camarotes já estavam fechados, quase pela manhã, e ninguém ficou ferido. Agora, imagina se isso acontece no auge da folia?  É melhor nem imaginar.

– Os preços dos hoteis: normal que os preços sofram um reajuste no Carnaval, mas um reajuste de 600% é, no mínimo, desrespeitoso. O hotel Pestana, por exemplo, na noite da quinta-feira para a sexta-feira de Carnaval, cobrava R$200 dos hóspedes, já na sexta para o sábado, a tarifa já era reajustada para R$1.150. E era assim no Mercure, no Ibis e até em pousadas menores. O jeito era se mandar para bairros mais afastados do circuito, como o Stiep, onde as diárias não surtavam.

Ritmos alienígenas: nos 30 anos do Axé e desde que o Carnaval é Carnaval na Bahia, uma de suas características é o caldeirão de gêneros. Mas, sempre, a favor dos ritmos baianos e não na figura de competição, como ocorreu este ano. Um camarote dedicado à música sertaneja, o Villa Mix, chamava a atenção no circuito, e a invasão de música sertaneja e funk também faziam os mais puristas torcerem o nariz para o alto do trio. Já não basta a invasão das rádios o ano inteiro pelo gênero?