“É tanto tempo que eu estava até com medo de esquecer as músicas”, brinca Zeca Pagodinho que faz live no Dia dos Pais


O sambista fará apresentação especial domingo, às 17h, direto do seu canal no Youtube. E em entrevista exclusiva, ele fala sobre as dificuldades do isolamento, a família, paternidade e revela quem deixaria em uma quarentena eterna: “Os políticos que roubam merenda das crianças, material e verba dos hospitais. Ainda mais durante isso tudo que estamos vivendo”

*Por Brunna Condini

Ele já passou por “quase tudo nesta vida” como na letra de um dos seus maiores sucessos, “Deixa a Vida me Levar”. Mas Zeca Pagodinho nunca imaginou passar por uma pandemia, e ter que ficar isolado do contato com o mundo por tanto tempo. “Estou há quase quatro meses em quarentena. Nos primeiros, estávamos no apartamento (na Barra da Tijuca), mas já estamos há algum tempo em Xerém. Aqui é melhor, tem mais espaço, posso andar, fazer as coisas por aqui, porque é casa”, conta. “Sinto falta de fazer show, cantar, de ir na rua a hora que eu quiser, ir ao shopping, bar, tomar cerveja na praia, coisas que eu fazia e não estou podendo no momento”.

Zeca, que é pai e avô, vai matar um pouquinho da saudade de cantar para o seu público neste domingo, Dia dos Pais, em uma transmissão ao vivo, às 17h, direto pelo seu canal no Youtube. Que músicas não vão faltar no repertório? “Vou cantar as que o público pede sempre, que estão no meu repertório direto, como “Coração em Desalinho”, “Vai Vadiar”, “Verdade”, “Judia de Mim”, “Isolado no Mundo”, “Deixa a Vida Me Levar”, por aí”, diz . “Não vou estar com a banda toda, mas já é bom poder ver alguns deles, vou estar acompanhado do Paulão Sete Cordas (violão), Vitor Motta (sopros), Alessandro Cardoso (cavaquinho), Marcos Esguleba, Jaguara e Ura (percussão). Mas tudo com o distanciamento que tem que ter”.

“Sinto falta de fazer show, cantar, de ir à rua a hora que eu quiser, ao bar. tomar cerveja na praia” (Foto: Gusto Costa)

É a segunda live do sambista. A primeira foi em maio, no Dia das Mães, com mais de 4 milhões de visualizações. Tomou gosto pela lives? “É uma forma de estar perto das pessoas, dos músicos, cantar, ter algum contato com o público. Acho bom, porque eu estava até com medo de esquecer a letra das músicas”, brinca. Falando nisso, ele revela que não tem conseguido usar o tempo livre para compor: “Não tem saído nada. Eu tinha um trabalho novo para apresentar quando começou isso tudo, esse que vamos mostrar domingo. Tenho usado o tempo para ficar com a minha mulher, a Monica. E, por aqui, em Xerém, tem duas filhas e um neto comigo. Além disso, tenho tido mais tempo para inventar minhas obras, meus reparos por aqui, que já gosto. E vejo TV. Não tem muito mais o que fazer. Ah, também bebo a minha cerveja, claro”.

“Em Xerém, tenho tido mais tempo para inventar minhas obras, meus reparos por aqui. Não tem muito mais o que fazer” (Foto: Guto Costa)

Dias melhores virão

Zeca Pagodinho, batizado de Jessé Gomes da Silva Filho, nasceu no Irajá em 4 de fevereiro de 1959 e foi criado em Del Castilho. Solto, livre. Fazendo samba e parcerias por aí, nas rodas, nos bares, nos estúdios. Sem vocação para a fama, com simplicidade e muito contato com seu público. Contato que agora está suspenso pela pandemia do novo coronavírus. É difícil encaixar isso no “modo Zeca de ser”, aos 61 anos. “Mas temos que esperar, não tem jeito. Muita gente sofrendo, sem poder ficar em casa. Então, quem pode, tem que ficar. Me apego na família, na música, na fé, acendo minhas velas. Aprendi a ter paciência. Nem sei se aprendi. Mas vou aprendendo (risos). Uma hora isso vai ter que passar, e vão vir os dias melhores”.

Ele revela ainda, que fez questão de manter o emprego de todos os funcionários durante a quarentena. “E o pessoal que trabalha direto comigo está em casa. Todo mundo tem família”, frisa Zeca, que disse ter entre 40 colaboradores no total.

“Muita gente sofrendo, sem poder ficar em casa. Então, quem pode, tem que ficar. Me apego na família, na música, na fé, acendo minhas velas” (Foto: Guto Costa)

Você disse em uma outra entrevista, que a primeira providência quando acabar a pandemia é pedir para sua esposa e ficar uma semana na rua. Fale mais disso…o que vai fazer? “Eu brinquei. Imagina, nem aguento ficar uma semana na rua. Tenho neto, filhos. Mas ia fazer uma bagunça, circular por aí. Não ia fazer nada fora do normal, mas ia reunir as pessoas que gosto, cantar, beber minha cerveja”, afirma, com saudade de uma “aglomeração” entre amigos.

E quem o Zeca Pagodinho deixaria em uma quarentena eterna? “Os políticos que roubam merenda das crianças, material e verba dos hospitais. Ainda mais durante isso tudo que estamos vivendo”. E se tivesse um superpoder do bem? “Ah, pediria que todas as pessoas que estão passando dificuldades ficassem bem, mas isso é sonho, né?”.

Zeca com os filhos: Eduardo, Maria Eduarda, Eliza e Louis Carlos (Acervo pessoal)

Pai de Eduardo, Maria Eduarda, Eliza e Louis Carlos, e avô de Noah e Catarina, o cantor comenta que ainda não sabe como vai celebrar o Dia dos Pais, e se vai ver todos os filhos. “Ainda não sabemos como vamos fazer. Mas tenho saudade de muito junto sempre”. E fala sobre a paternidade: “É uma responsabilidade grande, desde que o filho nasce. Tem 33 anos que fui pai pela primeira vez. Me orgulho de ter ensinado os meus filhos a serem honestos e cumprirem com as suas obrigações”. O que é ser pai para você? “Cuidar, dar amor, ter responsabilidade com aquela vida”.

Zeca Pagodinho como gosta de estar: entre os netos Noah e Catarina (Acervo pessoal)

Você viu os ataques transfóbicos que o Thammy Miranda, que é pai do Bento, de 6 meses, sofreu ao ser anunciado como um dos personagens da campanha de Dia dos Pais da Natura? “Nem tenho tempo para essas coisas. Cuido da minha vida, dos meus filhos. As pessoas têm que cuidar da própria vida. Cada um tem sua família, organiza sua vida como quiser. Pai é quem cuida, cria. E desejo feliz Dia dos Pais para todos, e que consigam ver os seus filhos da melhor forma, a mais segura, que seja um dia bom”.