Do rap ao rock, do hip hop e funk ao reggae: Back2Black celebra o melhor da cultura afro em noite de música, arte e muita festa!


Festival conta com dois palcos com artistas consagrados, como Planet Hemp, Damian Marley e Karol Conká, trazendo à tona a discussão sobre a importância da valorização do negro no Brasil e no mundo

*Com Yuri Hildebrand

O que há de melhor na cultura afrodescendente no Brasil e no mundo foi reunido na primeira noite do festival Back2Black. Além de workshops com nomes como Nei Lopes e Ruy Castro, houve também muita música e muita festa. Realizado pelo sexto ano consecutivo, o Back2Black carioca teve como cenário a Cidade das Artes, com um espaço muito amplo e bastante moderno. Conta com dois palcos (Palco Rio e Palco Cidade), foodtrucks, um bar e até uma livraria com exposições. Um projeto interessante é o Meucopo Eco, que traz uma proposta diferente na luta pelo meio ambiente: por apenas R$ 5,00, o consumidor utiliza o copo em todo o evento e, se não o quiser mais, pode devolvê-lo e receber seu dinheiro de volta, evitando assim o desperdício de uma forma mais “simpática”. Além disso, há também a ação da Anistia Internacional, com manequins sem cabeça espalhados pelo espaço, representando os jovens negros assassinados em todo o mundo, vítimas do racismo e da marginalização.

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O produtor cultural Júlio Barroso, que estava em seu segundo ano de festival, ressaltou a importância do evento, mas criticou alguns aspectos: “Faltou um pouco de sensibilidade com o segmento cuja proposta foi feita. O alto preço acaba excluindo justamente os negros, de maioria pobre no Brasil. Mas o conceito artístico é muito bom e extremamente necessário”, concluiu.

O produtor cultural Júlio Barroso (Foto: Vinícius Pereira)

O produtor cultural Júlio Barroso (Foto: Vinícius Pereira)

Os debates começaram cedo, ainda que com atraso. No primeiro deles, Ruy Castro e Nei Lopes, escritores que retrataram bem o que é o negro para a cidade do Rio de Janeiro, passaram a limpo essa influência histórica, com uma pequena crítica à falta de protagonismo vista nos últimos anos. Além dessa mostra, foram apresentados um documentário e um debate sobre o Kuduro, estilo de dança africana. No primeiro piso da Cidade das Artes, o dub rolava solto no Palco Rio com Linton Kwesi Johnson e a banda Dennis Bovell Dub. Pregando a resistência dos negros de todo o mundo, o poeta criticou o renascimento do fascismo e o crescimento da islamofobia. Arranhando no português, ele disse: “Máximo Respeito to Gilberto Gil”, com quem dividiu o palco em 2013, no Back2Black londrino.

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A lenda do rastafári deu lugar a uma promessa do rap carioca. Dughettu subiu ao Palco Cidade e esbanjou energia com rimas que retratam as ruas do subúrbio, acompanhado por um instrumental incrivelmente pesado, sem falar no beat muito bem trabalhado. Lembrando bastante um estilo que tem feito muito sucesso, o trap, Dughettu evidenciou sua origem negra e latina, aquecendo o público para o que estava por vir.

A “ex-quadrilha” assume as caixas de som do Palco Rio, com Marcelo D2 e BNegão nos microfones. O Planet Hemp chegou botando fogo em tudo com “Legalize Já” no que seria o primeiro ato do show: “O usuário e a luta pela legalização”, “Avisa lá que a ex-quadrilha está de volta!”, gritou D2 ao microfone, levantando o enorme público que tomou a Cidade das Artes. O segundo ato chegou com os dizeres: “Os cães ladram, mas a caravana não para” e músicas como “MaryJane”, “Hip Hop Rio” – homenageando os 450 anos da Cidade Maravilhosa – e “Quem tem Seda”, com direito a espetáculo do público e seus isqueiros levantados.

O terceiro e último ato foi basicamente dedicado ao álbum mais famoso do grupo, “A invasão do sagaz homem fumaça”, começando com “Ex-quadrilha da fumaça”. O “Hemp” lembrou também do momento turbulento que vive a política do Brasil, com “A culpa é de quem?”, mais uma vez criticando a corrupção e a criminalização do usuário da maconha. O show seguiu com uma homenagem a Chico Science, que completaria 49 anos no último dia 13: a banda tocou “Samba Makossa”, com a imagem de Chico ao fundo. Faltava uma música – e logo uma das mais famosas –, deixada especialmente para o final. Com “Mantenha o Respeito”, eles se despediram do Back2Black e abriram espaço para as outras atrações.

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Na sequência, mais trap mesclado com batucada brasileira e um hip hop de muita qualidade. Karol Conká, curitibana de raízes baianas, subiu ao Palco Cidade e transformou a Cidade das Artes numa boate. Com sucessos como “Boa Noite”, “Minha Lei” e “Gandaia”, fez o público mexer o corpo ao som das sempre presentes batucadas. “Eu também amo vocês!”, falou algumas vezes a Negrita Loka.

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Logo depois do show da curitibana Karol, foi a vez de um dos filhos de Bob Marley atrair o público. Como disse Beto Kaiser, conhecedor da cultura negra tanto na África quanto na América Central e no Brasil: “Vamos ver o filho do cara que criou uma religião! O negro tem que ser negro, antes de mais nada! Isso que pregava Robert Nesta Marley, e o rastafári é a valorização dessa cultura!”.  Damian ‘Jr. Gong’ Marley chegou ao Palco Rio com “Make it bun dem”, seguida de alguns de seus sucessos: “Affairs of the Heart”, “Land of Promise” e “Road to Zion”. “Brazil, do you love Bob Marley?!”, perguntou Damian, iniciando uma série de covers de seu pai, com “War”, “No more trouble” e “Exodus”. Finalizando o show, “Welcome to Jamrock” levou o público ao êxtase.

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Mas, ainda tinha atração no Palco Cidade, já que a festa não pode parar. O Dream Team do Passinho, que começou com uma simples gravação de comercial, animou a galera com o melhor da música negra brasileira: de Seu Jorge a Tim Maia, passando pelo clássico funk melody dos anos 90 – além, é claro, do funk carioca atual. O grupo mostrou uma nova cara do estilo, bem mais próximo da música eletrônica. No meio do show, subiram ao palco os Bailarinos do Kuduro, diretamente de Angola. Numa mistura Brasil-África, o palco e a pista se juntaram em festa e muita dança, finalizando a primeira noite do festival com muito estilo. E não para por aí: hoje tem mais Back2Black!