Depois de muitos anos na Record, Roberta Santiago do Melanina Carioca volta à Rede Globo na pele de uma personagem trabalhadora em Malhação


Além da personagem, a atriz está se formando agora em teatro o que facilitará a divulgação de seu novo disco Nuvem com o Melanina Carioca

Direto do Egito em Os Dez Mandamentos para o sul da cidade de São Paulo em Malhação Viva A Diferença, Roberta Santiago volta a Rede Globo depois de muitos anos na grade da Record. A atriz está se formando agora em Teatro pela faculdade Candido Mendes, mas já tinha um atestado de qualidade por ter participado do grupo Nós Do Morro, o qual fez parte por quinze anos. Ao todo, são vinte anos de carreira se dedicando a atuar. “Trabalhar na Record foi maravilhoso para mim, fiz novelas leves e algumas até bíblicas. Ter este viés religioso foi um desafio porque eram personagens completamente diferentes de mim. Raspei a cabeça, uma vez, porque precisava colocar peruca e o cabelo atrapalhava. Fora estes papéis, a função na Globo é muito parecida. Preciso decorar textos e estudar, coisas normais que qualquer artista faz. No entanto, parece que estou começando de novo porque na outra emissora já conhecia todo mundo. Agora, estou sendo apresentada a outros grupos e isto é muito positivo. Reencontrei alguns atores que já trabalhei na vida. No início, fiquei com muito receio de mudar de universo. Mas estou muito feliz de atuar com pessoas incríveis”, informou.

Roberta Santiago volta a rede Globo e participa da novela Malhação (Foto:Faya)

Na vigésima quinta temporada de Malhação, Roberta faz Nena uma mulher que, às vezes, acaba deixando a relação com os filhos de lado para se dedicar ao trabalho. A atriz se inspirou em seu núcleo familiar para compor esta personagem. “Sinto que estou representando as mulheres brasileiras como a minha mãe, por exemplo. Cresci a vendo trabalhar incansavelmente para dar uma vida digna aos filhos. No horário de serviço, ela me deixava na casa da minha avó. Para mim está sendo maravilhoso ter uma personagem que tenha esta vivencia. Minha família sempre foi matriarcal e me inspirei nisso, no que via em casa”, contou. No entanto, a personagem de Roberta é muito criticada por esta dedicação, porém para a atriz a mulher está coberta de razão. “Faria a mesma coisa que a minha personagem. Ou me dedico ao serviço para dar comida aos meus filhos ou todos passam fome. Esse cenário é muito complicado porque o brasileiro trabalha muito para conseguir alguma coisa enquanto os políticos se dedicam a corrupção que vemos nestes escândalos da Lava a Jato”, criticou.

Roberta fez a série Cidade dos Homens e Tropa de Elite (Foto:Faya)

Desde o início de sua carreira, a atriz participou de projetos que levantam bandeiras muito importantes. A série da Globo Cidade dos Homens foi ao ar em 2002 com direito a três temporadas e voltou este ano, com novos atores, no formato de minissérie. “Acho que é preciso ter outra temporada de Cidade Dos Homens porque são assuntos que precisam ser falados. Existem muitas pessoas sem estrutura familiar para encarar uma série de temas que são abordados. É uma série educativa. O que falta na televisão brasileira, em todas as emissoras, é exibir essas dificuldades da sociedade”, sugeriu.

Melanina Carioca, grupo musical que Roberta participa, lança novo álbum chamado Nuvem (Foto:Faya)

Cidade dos Homens, por exemplo, mostrava a realidade de muitas famílias brasileiras que sofrem com a criminalidade na porta de casa e o amadurecimento precoce. A atriz também atuou em Tropa de Elite que mostrava a rotina violenta dos policiais na luta contra o tráfico. Mesmo com mais de dez anos que ambos os programas foram ao ar, o dia-a-dia dos cariocas continuam muito similares às bandeiras levantadas na época. “É triste ver que nada mudou, é doloroso ver como as coisas estão, mas sempre tento ajudar através da arte. Talvez este meu papel de trabalhadora incansável desperte algum sentimento nas pessoas do estado. Se eu como ser humano estou em construção, imagina o nosso país. A galera está roubando e não está preocupada com a estrutura familiar de alguém, educação e saúde”, lamentou a atriz.

Roberta é uma das vocalistas do grupo Melanina Carioca que acabou de lançar o novo LP Nuvem e, agora, se dedica a rodar pelo país para divulgar o conteúdo.  Ao todo, o Melanina é composto por oito artistas que se conheceram na favela do Vidigal, Rio de Janeiro. “Nós somos todos do Nós No Morro, uma amizade muito antiga. Cada um tinha um projeto sozinho como eu, que estava me dedicando a um musical. Resolvemos nos unir quando cantamos juntos em uma festa. Conciliar a agenda da turma é uma loucura. Às vezes, tem que sair correndo da gravação para pegar um avião. É uma correria muito gostosa. Quando não conseguimos unir o grupo, um representa o outro mantendo a qualidade da banda”, contou. O fim da faculdade, neste sentido, veio em um momento muito oportuno para facilitar o encontro do conjunto. “Sinto que com o final da faculdade, é como se eu estivesse fechando um ciclo na minha vida. Era muito difícil conciliar as aulas com a carreira de atriz e cantora. Vou ter tempo, agora, para me dedicar a outras coisas também como ter aulas de canto e piano, para aprimorar o meu lado musical”, relembrou.

Depois de ter construído toda a sua carreira no Vidigal, a atriz se mudou recentemente para Vila Valqueire na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A mesma consegue ver algumas diferenças entre o tratamento do Estado com a população do morro e do asfalto. “Existe uma outra qualidade de vida. Se eu peço uma comida ela vai chegar no meu portão, não vai demorar ou se perder no morro. Existe saneamento básico, por exemplo. Sinto que o governo olha de uma forma diferente para as pessoas que moram em uma comunidade, de um jeito ruim. É preciso que o governo faça projetos que levem educação, que grupos como o Nós No Morro, que foi da onde eu vim, sejam apoiados”, afirmou. Apesar de estar longe da onde foi criada, Roberta garantiu que o local sempre estará em seu coração, afinal, seus amigos e família continuam morando lá.

A atriz com vinte anos de carreira começou a se dedicar ao teatro com apenas quinze anos, por causa do Nós No Morro. Ela morava no interior do Rio, mas se mudou para a comunidade depois da separação de seus pais. “Logo que cheguei na favela, uma prima me obrigou a entrar no Nós No Morro para fazer teatro. Acabei indo, mas tinha muito medo dos palcos. Foi um processo lento e importante para que eu tivesse mais confiança em mim mesma. Os meus professores são pessoas muito especiais, esse projeto transformou a minha vida, senão existisse eu não seria quem sou hoje. É um lugar que tinha cinema, interpretação e música. Me descobri como artista por causa deles”, agradeceu. E a gente também agradece!