Crítica: “Beauty Behind The Madness”, novo álbum do The Weeknd, reflete sobre o sucesso comercial de Abel Tesfaye sem se render ao mainstream


Disco será lançado oficialmente dia 28, e traz participações de Lana Del Rey, Ed Sheeran e Labrinth, sem perder a mistura de pop, R&B e hip hop que conquistou os fãs do artista

Com lançamento previsto para dia 28, eis que “Beauty Behind The Madness”, segundo disco de inéditas do The Weeknd (que já vem conquistando fãs há mais de três anos com suas mixtapes), chegou à internet na sexta-feira, antecipando em uma semana o que os fãs já aguardavam desde 2013. O momento não poderia ser mais propício para Abel Tesfaye (nome original do cantor): nos últimos tempos, ele participou da trilhas sonoras importantes como Cinquenta Tons de Cinza” (“Fifty Shades Of Grey”, 2014) e “Jogos Vorazes: Em Chamas” (“The hunger Games: Catching Fire”, 2013);gravou um hit com Ariana Grande (“Love me harder”); participou de festivais como o Coachellae está, hoje, com três músicas no Hot 100 da Billboard, duas delas no Top 5 (“Can’t Feel My Face”, em #2 e “The Hills”, em #5) . O álbum, por sinal, resume muito bem esse atual momento do artista: as músicas falam sobre sua ascensão meteórica na indústria ao mesmo tempo em que refletem sobre suas origens, dualidade que também aparece na lista de produtores e colaborações, que vão de Kanye West e Max Martin a Ed Sheeran e Lana Del Rey.

Capa de "Beauty Behind The Madness"

Capa de “Beauty Behind The Madness”

Falando em Lana Del Rey, sua parceria com o The Weeknd na faixa “Prisoner” traz a mesma dor de cotovelo e o sentimento de “alma condenada pelo vício” que parece unir os dois artistas, com uma mistura de deslumbramento e sentimento de peso/culpa pela fama. Em “Prisoner”, ambos cantam sobre estarem presos a uma vida à qual estão destinados: o estrelato pelas colinas de Hollywood, enquanto fazem questão de lembrar suas ambições e que “querem tudo”.

The Weeknd – “Prisoner” (Feat. Lana Del Rey)

A parceria com Ed Sheeran em “Dark Times” soa menos coerente do que “Prisoner”, mas igualmente boa. Afinal, um disco que fala sobre a sensibilidade masculina, nada faz mais sentido do que o britânico que tem se tornado uma referência nessa imagem, junto de conterrâneos como Sam Smith. Com uma pegada meio faroeste country, montada por um violão perigoso, os dois cantam sobre suas “fases obscuras”, em uma música que foi escrita após uma noite de bebedeira no apartamento de Abel. O único problema é que o ruivo não é muito bem o tipo bad boy, né?

O disco traz ainda músicas mais influenciadas pelo rock, como “Shameless”, uma faixa cheia de cordas e sensualidade, e batidas mais pesadas como na faixa de abertura, “Real Life”, com guitarras distorcidas e uma bateria cautelosa ao fundo. A ascensão do The Weeknd com hits nas paradas e apresentações nas maiores premiações e programas de TV parece ter criado um conflito interno em Abel Tesfaye, que ao longo de todo o álbum reflete sobre a fama – já perceptível no primeiro single, “The Hills” -, a sinceridade daqueles que o cercam, um estilo de vida regado a drogas e sexo, e seu carma de “não merecedor” de um amor, quase sempre em tom de autodepreciação.


The Weeknd – “The Hills”

Uma das melhores qualidade de “Beauty Behind The Madness” é que o The Weeknd soube muito bem como dosar o apelo comercial com produções de gente como Max Martin (Can’t Feel My Face”) e Kanye West (Tell Your Friends”, que traz um início bem parecido com o clássico do reggae You don’t love me (No, no, no)”), e ainda assim trazer um som novo e uma produção que se diferencia do mainstream, em grande parte pelas mãos de Illangelo, e outros como Mike Dean (grande nome do hip hop contemporâneo, com músicas como “Niggas In Paris”, “Monster”, “FourFiveSeconds” e “Illuminati” no currículo), sem perder o tom que ele construiu ao longo dos anos com sua trilogia anterior, soando mais como uma evolução artística do que como uma mudança de direção. A parceria com Labrinth em “Losers” traz uma música que não bebe, mas se afoga na fonte do jazz, enquanto a previamente divulgada “Often” traz uma forte influência do dubstep.

Um dos momentos mais brilhantes do disco é a faixa “In The Night”, uma óbvia e auodeclarada homenagem a Michael Jackson – talvez como uma forma de o The Weeknd frisar que não se importa e, na verdade, se orgulha das comparações com o Rei do Pop. A música, também produzida por Max Martin – que sabe-se lá como consegue se manter como um dos principais e melhores produtores há quase três décadas – consegue superar a outra colaboração do músico sueco no álbum, “Can’t Feel My Face”, com uma batida dançante, cheia de vibe 80’s, com vocais que lembrar o auge de Michael em “Thriller”, mas com aquele ápice enérgico de “Billy Jean” no refrão, enquanto Abel canta sobre uma garota que sofreu abuso sexual na infância e se tornou uma dançarina da noite. Ah, o simbolismo…

O álbum termina em “Angel”, uma música de libertação e aceitação, com uma pequena, mas crucial participação da novata Maty Noyes, em uma faixa dramática, com direito a coral e tudo. Não há dúvidas de que “Beauty Behind The Madness” é um divisor de águas na carreira do The Weeknd e um dos lançamentos mais fortes do ano. Se o objetivo do álbum era mostrar toda a beleza por trás da loucura do showbizz e de sua vida, o The Weeknd conseguiu atingir sua meta, sem deixar de fora a parte “feia” do mundo em que vive daqui para frente, onde strippers e corações partidos, sucesso e vida nas ruas, depressão e euforia caminham lado a lado.