Cordestinos e Sargento Pimenta dão o pontapé para o Carnaval no Circo Voador e agitam o público ao som de violinos e tambores


Com um singelo toque europeu, Lapa sentiu o clima carnavalesco às vésperas do Natal, antecipando a folia da próxima temporada

*Por Yuri Hildebrand

A música, assim como todas as formas de arte, nada mais é que uma reinvenção do clássico. O que deu certo no passado  é repetido de forma diferenciada no presente e futuro. As releituras são o berço do “darwinismo musical” – o que agrada é mantido e acaba se tornando algo recente, mesmo que beba da fonte de algo já existente. Ao contrário do plágio, o tributo a uma obra já feita é muito mais que uma homenagem; é uma nova vertente, um novo som. Nesta sexta-feira (12/12), o Bloco do Sargento Pimenta apresentou-se no Circo Voador diante de uma plateia animada, já aquecida pelo francês Nicolas Krassic e os Cordestinos. A mescla do tambor tupiniquim ao pop-rock britânico rendeu (e continuará assim em 2015) seguidores desde sua primeira apresentação, no Carnaval de Rua do Rio de Janeiro.

Idealizado em 2010, o Bloco do Sargento Pimenta mistura diversos ritmos brasileiros ao clássico som dos Beatles, trocando as batidas simples e diretas por tamborins, caixas e surdos; uma verdadeira bateria de escola de samba. Seguindo seu trio, reúnem-se pessoas de diferentes idades, mostrando que a música – quando bem feita e bem trabalhada – é atemporal. Através do método pedagógico intitulado “O Passo”, os participantes aprendem com facilidade o que precisam saber para que a folia aconteça. Através do apoio de diversos produtores, dentre os quais destaca-se a Superlativa, os idealizadores conquistaram bastante espaço na cena musical da Cidade Maravilhosa, unindo-se a blocos já famosos como Orquestra Voadora, Monobloco, entre outros.

Antes da folia carnavalesca ao som de Beatles, outros estilos abrasileirados precisavam ser explorados pelo público presente na Lapa. Os Cordestinos, com violinos substituindo as já tradicionais guitarras elétricas, trouxeram ao Rio de Janeiro um pouco de Nordeste com sotaque francês. Desde 2001 no Brasil, Nicolas Krassic se apaixonou pela música produzida aqui e vem fazendo sucesso há anos dentre os principais artistas do país. Com a banda fundada em 2007, o experimento baseia-se na cultura nordestina: xote, baião, forró e frevo misturam-se ao jazz – especialidade de Krassic – e até ao rock. O baixo distorcido e a percussão eletrônica dão um tom mais pesado para algumas músicas, que contam com solos de violino e bateria bastante firmes.

Nicolas Krassic e Cordestinos – “Azul Elétrico”

No show dessa madrugada até homenagem ao deus da guitarra, Jimmy Hendrix, virou música. Por ser um estilo de música não muito frequente, além de toda a criatividade envolvida, a banda chama atenção. Muitas pessoas puseram-se a dançar, sem vergonha de expôr a alegria do momento. Com uma execução um tanto incomum, os ritmos do Nordeste certamente ganharam mais adeptos com o sucesso de Nicolas Krassic e os Cordestinos.

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Ao fim do primeiro show, veio um breve intervalo regado a canções clássicas em novas versões ou outros sucessos regravados – como “A Menina Dança” (Novos Baianos) e “Tropicália” (Caetano Veloso) -, seguidas pelo incansável público que dançava mesmo entre as apresentações. Enquanto todo o esquema da bateria era montado, a pista do Circo parecia cada vez mais lotada; até o mezanino, normalmente o local mais tranquilo do espaço, parecia cheio. O Carnaval de Rua do Rio, o maior do planeta, deu ao projeto do Sargento Pimenta uma visibilidade gigantesca – e que cresce cada vez mais.

A produção visual alia-se à musical, dando ao show um quê de espetáculo, com sintonia entre a bateria, as cordas e os instrumentos de sopro. Com a música que dá nome ao bloco, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, o bloco mostrou toda a sua energia – devidamente contagiante – aos presentes. Em poucos minutos, todos começaram a balançar ao som dos Beatles, mas de uma forma diferente daquela comum nos anos 1960 e 1970.

Em ritmo de carnaval tocaram sucessos como “Help”, “Day Tripper”, “Hard Day’s Night” e “The Walrus”, evidenciando a criatividade dos mestres à frente da bateria e a irreverência dos músicos presentes no palco, coisas que quem já passou pelo Aterro do Flamengo durante a Festa da Carne pôde conferir em meio a uma missa de milhares de foliões. Após anos de conflitos ideológicos entre o rock e o samba, ambos têm no Sargento Pimenta um lugar comum; todas as idades, tribos e gêneros participam ativamente do espetáculo, mesmo que somente curtindo a energia passada pelo grupo.

Sargento Pimenta apresenta “All You Need Is Love” no Aterro do Flamengo – Carnaval 2013

Assim como no Carnaval de Rua deste ano, os integrantes parabenizaram toda a equipe e apresentaram seus setores ao público, inclusive os produtores e colaboradores. Todo o sucesso atingido pelo bloco é fruto de muito trabalho, aliado à criatividade dos idealizadores e ao interesse dos participantes. Após o pedido da plateia por uma palinha extra, eles voltaram ao palco para improvisar um ensaio de escola de samba, além de tocar um último sucesso dos precursores do pop-rock. O ano vai acabando, mas o clima de Carnaval já começa a florescer na Cidade Maravilhosa. No próximo dia 17 de fevereiro, no Aterro do Flamengo, a folia continua com mais música britânica – ou melhor, brasileiríssima.

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