Comemorando 40 anos de carreira, Fafá de Belém se apresenta no Teatro Rival neste fim de semana e dispara: “Eu não tenho partido e muito menos candidatos”


A cantora ainda contou sobre a emoção de ter carregado a Tocha Olímpica, em Belém: “Foi um renascimento. Corri 200 metros por ruas que contam a minha história. Na hora, foi passando um filme na minha cabeça”

Comemorando 40 anos de estrada, Fafá de Belém é puro auto astral! Nascida na região central de Belém do Pará, a cantora, que se apresenta hoje, sábado, no Teatro Rival, no Rio, faz uma volta ao passado para buscar suas antigas origens na sonoridades do carimbó, revisitando o melhor do cancioneiro brega nordestino, mas antenada ao que está acontecendo no cenário musical brasileiro. Prova disso? Seu mais recente disco, curiosamente – ou não – intitulado “Do Tamanho Certo Para Meu Sorriso”, gravado pela Joia Moderna, gravadora do nosso colunista Zé Pedro. A artista, famosa por sua contagiante e inconfundível gargalhada, contou com exclusividade ao HT que, em breve, estará com material fresquinho no mercado.

Fafá de Belém (Foto: Divulgação)

Fafá de Belém (Foto: Divulgação)

“No mês de julho, eu gravo no Teatro Bradesco, em São Paulo, meu segundo DVD, que deve ser lançado no mês de setembro. Esse show é para comemorar meus 40 anos de carreira e os quase 60 de idade. Apesar disso, meu último disco, que costura os shows dessa turnê, vem na contramão de tudo o que se esperava: é um álbum que não olha para trás. Eu não faço releituras de músicas antigas. Nos últimos anos, fiz discos muito intelectualizados, como ‘Maria de Fátima Palha de Figueiredo’, ‘Piano e voz’, ‘Tanto mar’…”, avalia Fafá, que teve um hiato de oito anos sem lançar músicas inéditas. “Nesse período sem gravar, todo mundo falava: ‘Faz um best of, grava com orquestra’. Já fiz tudo isso. Não queria gravar um disco por gravar. Até que vi Criolo e Emicida, fiquei louca e pensei: ‘Isso eu entendo’. E coincidiu com o fato de eu começar a voltar para Belém”, revelou.

Parece que esse tempo fez com que Fafá sentisse a necessidade de beber de fontes já esquecidas por ela e que, hoje, se mostram cada vez mais presentes na nossa música contemporânea. “O CD busca influências no brega do Pará. Eu ouço de tudo e gosto principalmente das músicas que estão surgindo. Adoro o desconhecido”, contou ela, soltando uma de suas gargalhadas. “Meus amigos estão sempre me mandando letras que acham que eu possa me interessar. Eu assisti ao filme ‘Tatuagem’ e fiquei louca pela música ‘Volta’, do Johnny Hooker. Eu tive que regravar. Já o Zeca Baleiro é amigo de longas datas. É a sonoridade do Pará que chamam de Caribe Amazônico e que mistura bolero, cumbia, guitarradas e carimbó. É uma volta ao começo para olhar para mais 40 anos de estrada”, avaliou.

No entanto, quem vê a cantora toda sorridente nem imagina os percalços que ela já teve que superar até chegar ao estrelato. Segundo ela, sua música regionalista nem sempre foi vista com bons olhos pela mídia. “Sofri muitos preconceitos por ser do Norte do país, mas a gente passa batido. A memória é apenas referência. Quando anunciei o CD, senti dificuldades, mas a minha trajetória é inusitada e intuitiva. Hoje, o Zé Pedro me convidou para fazer esse
disco pela sua gravadora e estamos bombando por aí”, disse. Recentemente, “Do Tamanho Certo Para Meu Sorriso” levou o prêmio na categoria de Melhor Álbum na 27ª edição do Prêmio da Música Brasileira e Fafá eleita a Melhor Cantora em Canção Popular. “Foi uma emoção muito grande”, disse. “O segredo para se manter no mercado fonográfico é não parar. Não ficar deitada sobre a história e revirar baú. Sou muito curiosa. Assisto show do Liniker, Simone Mazzer, Criolo, Emicida, Maria Bethânia, Alcione… Eu sou de uma de uma geração muito curiosa. Eu estou sempre aberta às possibilidades”, revelou.

Leia também – A 27ª edição do Prêmio da Música Brasileira teve homenagem a Gonzaguinha com direito a apresentação de seus três filhos. Vem saber tudo o que rolou!

Mãe da também cantora Mariana Belém e avó de Laurinha e Julia, Fafá assume que é avó coruja que cozinha e brinca, mas que a maternidade da filha a fez retornar novamente para a adolescência. “Ser avó é tudo. Eu sou exagerada em qualquer coisa que eu faça e sinta. Outro dia acordei meio tristinha e resolvi ir para a casa de Mariana para ficar com elas, fazer bolo, eu adoro cozinhar. Nossa! Aquilo passou em um segundo”, revelou. “Mas eu sou uma avó totalmente fora da casinha. Ver minha falha estabilizada na vida me fez ter aquela sensação de dever cumprido, sabe? Agora me sinto passando por uma segunda juventude”, avaliou.

Laurinha, Mariana Belém e Fafá de Belém (Foto: Divulgação)

Laurinha, Mariana Belém e Fafá de Belém (Foto: Divulgação)

Referência da cultura paraense, Fafá também foi convidada para carregar a Tocha Olímpica durante sua passagem por Belém. Muito emocionada, a cantora nos contou que, curiosamente, o circuito do trajeto que teria que percorrer começou exatamente em frente à maternidade onde nasceu, no dia 9 de agosto de 1956. “Foi muito emocionante. Tudo isso acontece em um momento em que o Brasil passa tanta mensagem negativa, tanta briga, discursos sem nenhuma base, mas a gente vê que, no meio disso tudo, tem um país, que é o Brasil. E uma gente maravilhosa. No dia da tocha, eu chorei muito. Eu não acredito em coincidência. O universo conspirou e me deram o trajeto que foi em frente à maternidade onde eu nasci. Significou um renascimento. Uma mulher próxima dos seus 60 anos passando por isso? Me sentindo mais jovem do que nunca. Corri 200 metros por ruas que contam a minha história. Passou um filme na minha cabeça”, contou emocionada.

Fafá se emociona ao carregar a tocha Olímpica em Belém do Pará (Foto: Divulgação)

Fafá se emociona ao carregar a tocha Olímpica em Belém do Pará (Foto: Divulgação)

Como muitos sabem, Fafá foi nome forte durante o movimento das Diretas Já. Na época, a artista se apresentou gratuitamente em diversos comícios e passeatas, cantando de forma magistral e muito original o Hino Nacional. A partir daí, se tornou a “Musa das Diretas”. Hoje, a cantora assume não ter mais partido político. “A crise é imensa e a pior delas é a econômica. Eu já vivenciei alguns momentos ruins do país. O Brasil é incomensurável, o povo é maravilhoso, o chão dá de tudo, mas tem que pensar na hora do voto. A corrupção é total. Ela começa desde o cara que fura fila no supermercado, até aquele que dá um perdido na namorada. Tudo isso são pequenos desvios. Nós temos que começar a curar isso. O estado democrático só acontece quando a gente respeita o outro. Atualmente, eu não tenho partido e muito menos candidatos”, afirmou.

Mas não pense que apesar disso a artista segue omissa em suas posições e obrigações enquanto cidadã. “Eu cheguei a Belém e a capa de um jornal dizia que o Hospital do Câncer não poderia mais operar, porque não tinha mais sangue por falta de doadores. Eu fiz um mutirão, fui na prefeitura e resolvi levantar uma campanha. Fui para fazer a minha parte. É importante a gente falar sobre nossos deveres também. O mais legal foi que o número de doares aumentou”, disse ela, que ainda deu uma dica: “Em vez de ficar na internet falando suas verdades, faça a sua parte, faça alguma coisa. Seja uma campanha do agasalho, distribuir livros nas praças, doar sangue. Vamos fazer uma corrente do bem. Eu estou nessa há muito tempo”, ressaltou.

Cantora se apresenta nesta sábado no Teatro Rival (Foto: Divulgação)

Cantora se apresenta nesta sábado no Teatro Rival (Foto: Divulgação)

Mulher de muita opinião, como podemos observar, Fafá de Belém não tem se deixado se abater pelos recentes ataques de machismo divulgados nos telejornais. Em suas redes sociais, ela também se juntou a outras mulheres pelo fim da cultura do estupro. “Toda mulher que resolve ser diferente já sofreu olhares tortos até mesmo de outras mulheres. Eu nunca fiquei em casa buscando solução através de um casamento. Sempre fui muito curiosa durante a vida. Esses ataques precisam acabar. As mulheres não estão segurando mais a onda dos agressores. As mulheres estão reagindo. A submissão incentiva o agressor a continuar. A sociedade precisa gritar. Outro grande barato vai
ser quando as mulheres pararem de competir umas com as outras”, completou.