Com grandes nomes do rock brazuca e internacional, Circuito Banco do Brasil mistura tribos na Praça da Apoteose


Evento que já passou por São Paulo, BH e Brasília, chegou ao Rio de Janeiro com shows de Pitty, Frejat, MGMT, Paramore e Kings of Leon

*Por João Ker

Com a presença de grandes nomes e diferentes estilos da cena rock nacional e internacional, o Circuito Banco do Brasil mobilizou cariocas e parou o trânsito durante este sábado (08/11). Depois de passar por Belo Horizonte, São Paulo e Brasília, o evento trouxe à Praça da Apoteose shows da baiana Pitty, do eterno Frejat e das bandas gringas queridinhas MGMT, Paramore e Kings Of Leon, em uma tarde que foi noite adentro marcada pela histeria dos fãs e apresentações inesquecíveis (infelizmente, o line-up por aqui não incluiu também Panic! At The Disco e Linkin Park).

Quem abriu os trabalhos do evento foi Pitty, que  mesclou músicas do novo álbum Setevidas”, assim como antigos sucessos que a galera finge que não, mas ama. “Admirável Chip Novo”, “Memórias” e “Na Sua Estante” tiveram seus momentos e, apesar de o local ainda não estar completamente cheio, foi o suficiente para fazer o pessoal cantar junto, mesmo com o calor nada agradável. Mais tarde, a cantora liberou o vídeo do novo single, “Serpente”, onde aparece revivendo o tema das bruxarias exotéricas que ela sempre curtiu mostrar em seus clipes.

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Na sequência, mais um representante tradicional do rock brasileiro. Apesar de não ter muitas novidades, Frejat mesclou em sua setlist seus próprios sucessos com algumas músicas da época do Barão Vermelho e alguns covers, como “Malandragem” (Cássia Eller). Sucesso, sempre!

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O MGMT apresentou uma performance satisfatória, com auge nos hits “Kids” “Electric Feel”, as músicas de maior sucesso da banda nova-iorquina. Por sinal, o grupo assumiu de vez o seu caráter hipster/alternativo/psicodélico, o que bastava olhar para as imagens aleatoriamente abstratas que apareciam no telão para constatar isso. Apesar de o fato poder ser encarado como uma evolução, tanto no estilo quanto na aptidão musical do grupo, os fãs presentes acabaram se perdendo em toda essa viagem, especialmente quem não conhecia muito bem a banda.

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Comandada pela sempre elétrica, performática e saltitante Hayley Williams, a Paramore, banda queridinha dos teens e que sempre consegue lotar shows aqui pelo Brasil, cativou mesmo quem não gostava do seu som. Se a grande gama de hits não fosse suficiente – das antigas “That’s What You Get”, “Crushcrushcrush” e “Never Let This Go” às novas “Still Into You” e “Part II” -, a simpatia da vocalista e sua trupe tratou de conquistar o público. O grupo arrebentou, fosse interagindo com a plateia e gongando a equipe técnica toda vez que aparecia no telão – “Sério, eu sou a menos importante aqui!” -, ou  tocando as favoritas da sua fan base, como aconteceu em “Last Hope”, que ganhou um coro emocionado enquanto a ruiva arrebentava no piano. A apresentação serviu para agregar ainda mais pessoas ao seu já enorme e abrangente grupo de fãs.

Taís caindo no show do Paramore

Mas, o highlight da apresentação e fato que dominou todas as redes sociais neste domingo (9/11) foi a queda de uma fã, que não se chamava Giovana, mas também não conseguiu segurar seu forninho, coitada. Convidada durante “Misery Business” para subir ao palco e cantar a música sozinha – sonho de qualquer fã, não é mesmo? – a tal Taís acabou se empolgando mais do que devia e caiu feito jaca mole no chão. Mas acontece que foi ali embaixo que ela ficou por cima da carne seca: em uma demonstração de extrema fofura e com vários “ooowns” do público, Hayley e o resto da banda se deitaram ao lado da menina e continuaram executando a música dali, fazendo companhia para a cover de Letícia Sabatella. Pronto, pontos mais que positivos para o grupo e missão cumprida.

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Kings Of Leon, com mais de dez anos de carreira, mostrou o porquê de ter sido escolhido como headliner do festival. Caleb e o resto do clã Followill finalmente entenderam que já passou da hora de abandonarem a origem “rock de garagem” do grupo e conseguiram mostrar um verdadeiro espetáculo digno de uma das maiores bandas da atualidade. Foram vários os motivos que fizeram o público sair boquiaberto do centro carioca: a precisão vocal e o talento exímio que já conquistou pessoas como Cris Martin, do Coldplay e Eddie Vadder, do Pearl Jam; a megaprodução com direito à pirotecnia da cascata de fogos durante o fim, ao som de “Sex On Fire” (sem contar com o fogo nas ventas que o grupo desperta); a ótima escolha de setlist, que abrangia desde músicas dos primeiros álbuns, como a rara “Taper Jean Girl” – que já apareceu na trilha de filmes como Cloverfield” (idem, Matt Reeves, 2008) e “Paranoia” (“Disturbia”, D. J. Caruso, 2007) -, aos singles mais recentes, como “Supersoaker”.

Normalmente avesso às interações com o público, nem Caleb Followill resistiu ao charme dos cariocas, e bateu altos papos com a plateia, ao contrário do que aconteceu em São Paulo (cof cof). No palco, ele fez piadas enquanto tomava goles de cerveja, contou casos de praia – “O Matthew [guitarrista] foi surfar e caiu de ouvido na areia, então se o som estiver ruim é culpa dele” -, lembrou a última vez que esteve no país (outubro de 2005), sorriu e declarou seu amor trocentas vezes, entre promessas de que, com certeza, voltaria à cidade quando tivesse a oportunidade. Os fãs – que a essa altura da noite já haviam ganhado espaço no gargarejo, antes dominado pelos adolescentes sedentos por Paramore – souberam muito bem responder ao seu líder. Em “Knocked Up”, cantaram em uníssono os “oh oh ohs” mesmo depois de a música ter acabado; sob o comando do vocalista, entoaram sozinhos o refrão de “Pyro”, para a alegria e comoção dos norte-americanos; e, interagindo com o telão, fizeram o já tradicional mar de luzes formadas por isqueiros e celulares, ao que a imagem transmitida foi  ganhando um fade-in para dar lugar a uma constelação.

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O show terminou com gosto de “quero mais”, e mesmo aqueles que não estavam familiarizados com o som de bandas como as duas principais, tiveram motivos de sobra para aproveitar a noite e não sair com aquela sensação de que tempo e dinheiro foram desperdiçados. Aos poucos, o Circuito Banco do Brasil vem se firmando como um dos eventos nacionais mais importantes para os amantes do rock que, se não contam com uma programação estendida como o Rock in Rio, ao menos têm na agenda uma data garantida para um dia eclético em que o som é realmente a atração principal.

*Obs: Este texto contou com a ajuda de Thaís Vieira e  Rodrigo Barbieri.