Carnaval -“Brega-funk, o novo reggaeton, e brota no bailão”, diz Thiaguinho MT, autor do hit ‘Tudo Ok’


‘Tudo Ok’, em parceria com a cantora sertaneja Mila e do beatmaker JS O Mão de Ouro, ocupa hoje a segunda colocação no Top50 Brasil do Spotfy e acumula 86 milhões de visualizações no Youtube. “É o estilo inovador do momento, com uma batida envolvente e dançante. Suas marcas são os sons de lata, montagens de vozes e pontos durante a música”, explica o beatmaker JS O Mão de Ouro, que compôs a melodia

*Por Felipe Rebouças

Despretensiosamente, Thiaguinho MT, funkeiro carioca desde 2014, transformou o conteúdo que chega até ele através das redes sociais em um dos hits do Carnaval 2020. ‘Tudo Ok’, em parceria com a cantora sertaneja Mila e do beatmaker JS O Mão de Ouro, ocupa hoje a segunda colocação no Top50 Brasil do Spotfy e acumula 86 milhões de visualizações no Youtube. Tudo começou quando Thiaguinho recebeu mensagem de uma pessoa dizendo que cabelo e sobrancelha estavam Ok. Em outro dia, ele viu no Twitter um internauta publicando que brotaria no bailão para desespero do ex dele. “Juntei essas duas histórias e criei a letra da música”, revela Thiaguinho, que saiu de Araruama e se mudou para São Paulo depois do sucesso.

No embalo do carnaval, ‘Tudo Ok’ segue a linha brega-funk, estilo que mistura as batidas de brega e arrocha nordestinos com o funk carioca. “É o estilo inovador do momento, com uma batida envolvente e dançante. Suas marcas são os sons de lata, montagens de vozes e pontos durante a música”, explica o beatmaker JS O Mão de Ouro, que compôs a melodia do hit.

O lançamento do clipe, no último mês de novembro, coincidiu com um episódio que veio a calhar com o refrão “brota no bailão pra desespero do seu ex”. Pois o ex-marido de Mila foi visto beijando outra mulher em público. A coincidência contribuiu, inevitavelmente, para o compartilhamento da música nas redes e sua transformação num hit de empoderamento pós-término.

Thiaguinho MT (esq.), Mila e JS O Mão de Ouro (dir.) (Felipe Max)

Uma montagem com imagens da atriz Bruna Marquezine e do jogador Neymar  – ex-namorados desde 2018 –, ao som do hit, foi visualizado milhares de vezes nas redes sociais. Além disso, a #TudoOKChallenge, iniciada por Luccas, digital influencer de make-ups, também foi outro vetor para disseminar o som do trio. Numa rápida pesquisa no Instagram, é possível encontrar mais de 40 mil resultados com a tag. “O Luccas das maquiagens que começou com isso e muitas pessoas foram conhecendo a música por ele”, conta o funkeiro.

 

 

Não é de hoje

Embora seja o ritmo pop do momento, o brega-funk não surgiu agora. Ele tem origem nos anos 1980, quando o funk carioca começava a dar os primeiros passos. Inspirado nos MC’s do Rio de Janeiro, o brega-funk tem como sede a capital pernambucana. O ritmo cresceu e ganhou muita popularidade por todo o Norte e Nordeste e guardou por muito tempo um potencial de alcance nacional, exibido a todos nos últimos anos.

Usando a força da internet, a jovem Paloma Roberta Silva Santos, a MC Loma, nascida em 2002 no interior de Pernambuco, ajudou a colocar o brega-funk na cena brasileira através de uma brincadeira em forma de vídeo acompanhada de duas amigas, as Gêmeas Lacração. Ao som de ‘Envolvimento’, Paloma, Mirella e Marielly, três jovens do bairro dos Prazeres, no município de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife, receberam mais de 280 milhões de visualizações (juntando as duas edições do clipe).

DJ exalta estilo

Para o DJ  Guilherme Acrízio, o brega-funk vem num “momento importante e de grande efervescência social no país”. “Eu acho que a gente está num momento político e social que pede a voz de nordestinos, mulheres, trans, negros. Na TV, vemos atores negros, gordos. Na música, artistas trans. Acho que é um caminho sem volta. É um momento de grande efervescência social. E lá fora a gente também vê um posicionamento negro muito forte. A Beyoncé cumpre esse papel há muito tempo, e agora está chegando com força ao Brasil”, comenta.

“Acho que é um caminho sem volta. É um momento de grande efervescência social. E lá fora a gente também vê um posicionamento negro muito forte” (Divulgação)

Ele ainda destaca que a presença de Pabllo Vittar e Duda Beat no mainstream, por exemplo, influencia bastante o consumo do gênero brega-funk. “A presença dessas músicas nas novelas também contribui muito no alcance e na reverberação. Além de falar para o público gay e sobre o público gay, o estilo tem um som gostoso de escutar, é feito para grudar na mente, é chiclete”, ressalta.

Ao montar uma lista com suas apostas de hits para o Carnaval 2020, Guilherme inseriu ‘Tudo Ok’. “O critério [para indicar os hits] é o olhômetro. Quando percebo as pessoas pegando o celular e cantando a música quando abaixo o volume no refrão é sinal de que a música pegou. É bizarro! Não tem erro, se isso acontece num show pode ter certeza: vai fazer sucesso. Isso acontece com todas as músicas em todos os ritmos”, afirma o DJ.