Cantora estoniana apaixonada pelo Brasil, Pille-Rite Rei faz apresentação única no Blue Note quinta-feira (dia 13)


Na Europa, Pille é considerada um prodígio do jazz:  já foi indicada por voto popular para o Festival de Jazz da Estônia e, em 2016, ganhou o prêmio Compositora Revelação de Jazz pela Liga Dinamarquesa de Compositores

*Por Jeff Lessa

No fantástico “Samba da Bênção”, parceria de Vinicius de Moraes com Baden Powell, um verso se destaca: “A vida é a arte do encontro”. Não há como não lembrar desse trecho da canção quando se ouve a história da cantora, saxofonista e compositora estoniana Pille-Rite Rei, que está de volta ao Brasil para lançar o CD “Brazilian Adventures” no Blue Note (no próximo dia 13 e já tem shows agendados em São Paulo (no Blue Note SP, em 4 de julho) e Curitiba. Em 27 de junho, vai se apresentar ao lado de um dos seus maiores ídolos: Roberto Menescal.

Completamente apaixonada pelo Brasil, ela vai se apresentar no Rio, em Sampa e em Curitiba (Foto de Felipe Clark)

Prossigamos. Como falávamos, a história de como Pille-Rite veio parar no Rio é daquelas situações que, num filme, seria considerada inusitada. Deixemos a jovem contar: “Num dia frio de dezembro, em Malmö (ela mora na Suécia), fui a um concerto de Natal em que uma peça minha para orquestra e coro seria apresentada. Depois, os amigos me chamaram para comer pizza. Tinha uma brasileira no grupo, Daniela Mesquita. Perguntei de onde era e ela disse: ‘Brasil’. Do nada, comecei a cantar ‘O Pato’. Ela disse que eu tinha que ir para o Brasil e que ia dar um jeito de fazer isso acontecer. Eu ria, pois não acreditava”, conta a cantora, acrescentando: “Poucos dias depois, porém, recebi um telefonema do líder de um programa de intercâmbio dizendo que tinha ouvido falar a meu respeito e que, se eu quisesse, poderia morar no Brasil como estudante. Dois meses depois, eu estava instalada em Ipanema”.

É ou não é um super encontro? Mas isso foi apenas o começo. O encontro maior foi com o país. Pille-Rite conta que sonhava em vir para o Brasil desde que começou a aprender a tocar saxofone, com 12 anos (atualmente ela tem 26). Perguntamos se o choque entre o Brasil sonhado e o real foi muito grande. Para a nossa total surpresa, a moça garante que não: “Tudo era exatamente como eu imaginava! Até melhor. Era como se eu tivesse estado no Rio antes”.

Aqui, no ano passado, Pille-Rite ganhou o coração dos músicos cariocas. Apresentou-se no Blue Note, cantou em bares com ‘pegada’ jazzística e ganhou fama no meio musical. A trajetória da jovem na Europa também teve seus momentos de guinadas surpreendentes. Nascida e criada na ilha de Saaremaa, na Estônia, ela se dedica à música desde muito jovem. Aos 16 anos, ficou em terceiro lugar no concurso de canto nacional da Estônia e, no ano seguinte, foi considerada a Melhor Jovem Saxofonista do país. Estudou canto e, assim que se formou, mudou-se para Copenhague, onde se aperfeiçoou na técnica do improviso. Em 2012, largou tudo para percorrer o Caminho de Santiago de Compostela.

Na Europa, Pille é considerada um prodígio do jazz:  já foi indicada por voto popular para o Festival de Jazz da Estônia e, em 2016, ganhou o prêmio Compositora Revelação de Jazz pela Liga Dinamarquesa de Compositores. E cá está Pille-Rite de volta ao Rio. Em suas apresentações, ela deixa evidentes as influências dos artistas brasileiros que admira: “Elis Regina, Djavan, Astrid Gilberto, Gilberto Gil… são muitos. Entre os compositores, gosto de Roberto Menescal, Tom Jobim, Hermeto Pascoal, Ivan Lins, Toninho Horta”.

Os ritmos latinos correm nas veias há anos: “Quando eu ainda morava na Estônia, tinha uma banda chamada Let’s 5. Nós tocávamos desde a salsa cubana até o samba. Eu era a única escandinava, todos eram cubanos. Não conseguíamos conversar, nos falávamos através da música”. Mas teve uma surpresa gratíssima com o chorinho: “Nem sabia da existência. Adorei”.

Pille-Rite Rei toca saxofone desde os 12 anos, mas descobriu que sua vocação é cantar (Foto de Felipe Clark)

Simpática e alto-astral, Pille se derrete pelo Purgatório da Beleza e do Caos. “Eu amo o Rio. Jamais vou me esquecer da experiência que tive em 2018. Estava tocando na rua, em Ipanema. Um homem visivelmente pobre parou para me ouvir. Era vendedor de esponjas de cozinha. Ele mostrou com gestos que tinha gostado da música, mas não poderia colaborar. Respondi que não precisava dar dinheiro, bastava escutar. Ele ouviu todas as músicas e, quando terminei, me deu uma esponja de presente. Nessa altura, estávamos os dois com lágrimas nos olhos”, lembra.

Outro belo encontro, o mais importante, foi (vem sendo) com os amigos que fez na cidade. “Fiz amigos incríveis no Rio. Gosto de chamá-los de família e estou muito feliz por alguns deles me acompanharem nesse tour por São Paulo e Curitiba – diz. – Hoje mesmo passei por um vendedor de água de coco e ele disse que, só porque eu estava sorrindo, ia ganhar um de graça. É lindo”.

A vida é a arte do encontro. Alguma dúvida?

SERVIÇO

Lançamento do CD “Brazilian Adventures”, de Pille-Rite Rei

Blue Note Rio: Av. Borges de Medeiros 1.424, Lagoa – 3799-2500

Com Pille-Rite Rei (sax e vocal) Ana Azevedo (piano), Lipe Portinho (contrabaixo) e Renato Endrigo (bateria)

Quinta (13), às 20h

R$ 90 e R$ 45 (meia-entrada)

350 lugares