Ainda Back2Black! Festival encerra com soul de Bobby Womack, tributo ao poetinha e balanço de James Brown


Sex machine! O último dia de festival trouxe, pela primeira vez ao Brasil, a lenda do soul music Bobby Womack, além de homenagens a Vinicius de Moraes e James Brown

Mudanças climáticas, imprevistos com a aparelhagem de som e programação atrasada marcaram o início da noite, no último dia do Back2Black. Se, por um lado, havia indícios de um dia triste para os pagantes, em contra partida o line up contava com artistas de peso no maior festival de música negra da América Latina, neste último domingo. Com seu talento, os músicos conseguiram reverter a situação com aquele ‘jeitinho’ (quase) brasileiro e, como a  Apollo 11, levaram a noite do caos ao sucesso retumbante. A famosa frase proferida por Tom Hanks no filme dos astronautas – “Houston, nós temos um problema” – não poderia sequer ser imaginada pelos organizadores do festival após o seu término, mesmo com os contratempos surgidos no início da noite. Sucesso!

Desta vez, com  time quase inteiramente inédito no país, o evento trouxe, pela primeira vez ao Brasil, Bobby Womack, o ‘pai do soul’, a cantora espanhola Buika, a sambista Mart’nália cantando Vinicius de Moraes e um tributo à James Brown com participação de Ed Motta, Negra Li e a banda Black Rio, na Cidade das Artes, no Rio.

Abrindo a noite, na grande sala acústica,  Mart’nália deu um verdadeiro show ao entoar clássicos da bossa nova em homenagem ao “branco mais preto do Brasil”. Verdadeiro admirador da cultura negra, Vinicius carregava, em sua obra, a dualidade entre o erudito e o popular, e sua paixão pelos ritmos africanos foi sintetizada no álbum ‘Afrosamba‘ (1966), em parceria com Baden Powell, que trazia a fusão da sonoridade africana ao samba. No repertório, a cantora deu nova roupagem à músicas marcantes como, ‘Sei la, a vida tem sempre razão‘ e ‘Formosa‘, recebendo o carinho do público que acompanhava tudo com a letra na ponta da língua.

Fotos: Vinícius Pereira

Com um significativo atraso ocasionado por problemas técnicos que não ficaram muito esclarecidos pela produção, a cantora espanhola Buika, proporcionou, em sua primeira passagem pelo Brasil, um dos momentos mais emocionante da noite, para os fãs presente na Grande Sala. Famosa por ser uma das vozes mais populares do flamenco, suas letras carregadas de densidade e a forte presença no palco foram suficientes para levar o público às lágrimas em diversos momentos do show. A emoção pairava sobre a plateia como uma espécie de bruma, tudo a ver quando o público se deixa levar pela contundência da música andaluz. Em certo momento, esta mesma  emotividade também tomou conta da cantora, que não conseguiu conter o choro ao ser aplaudida de pé a plateia majoritariamente carioca. Pura catarse!

Em sua primeira visita ao Brasil, Bobby Womack também foi prejudicado pelo som e precisou transferir o show do palco Rio para a sala acústica. Com show previsto para começar às 20h50, a modificação no planejamento fez os fãs aguentarem estoicamente até 23h50 para assistir o ‘pai do soul’ cantar hits como  ‘Woman’s gotta have it‘, ‘If you think you’re lonely now‘ e ‘Across 110th street‘, entre outros. Mas, mal começou o espetáculo, todos pareciam ter se esquecido do atraso. Na plateia, bem pertinho do palco, o cantor Ed Motta, aguardava ansiosamente pelo show: “Sou o maior fã do cara”, nos contou. Acompanhado de numerosos percursionistas e três backing vocals com timbres arrepiantes, o músico americano mostrou carisma de sobra, conquistando o público logo de cara: “Esperei muito tempo por esse momento”, disse, em solo brasileiro.

Antes mesmo de Womack finalizar a apresentação, no palco Rio – com o problema técnico resolvido – já acontecia a celebração a James Brown. Comandados pela banda Black Rio, músicos bacanas como Arthur Maia, Negra Li e Pee Wee Ellis – que integrou a própria banda de Brown – relembraram sucessos do ‘pai do funk’ e uma das maiores referências da música negra. Ed Motta foi o último a se juntar à turma do black music, mas, antes, nos contou a importância do homenageado em sua vida: “O disco ‘Rocklands‘ foi um divisor de águas para mim. Comprei quando era garoto, naquela época em que buscava referências com que me identificasse. Por aí, comecei a acompanhar a carreira dele”, revelou. Até o próximo!

Fotos: Vinícius Pereira