Audio Rebel recebeu show de lançamento do novo disco independente de Amora Pêra que reúne rock, jazz e tambores africanos em um mesmo lugar


‘A Dúpé – Nós Agradecemos em Iorubá’ faz referência ao Candomblé, religião da qual a artista é adepta. Nos palcos, os cantores Fernando Gonzaga, Botika, Nana Carreiro da Cunha, Renata Neves, Vitor Paiva, Daniel Castanheira e sua Aldeia contribuíram para uma noite recheada de cultura

Rock, jazz e música africana são reunidos em ‘A Dúpé – Nós Agradecemos em Iorubá’ que busca mesclar muitas vertentes musicais em um só disco. Quem teve a ideia de unificar as batidas foi Amora Pêra, a neta de Luiz Gonzaga e filha de Gonzaguinha – do seu casamento com Sandra Pêra, que exibiu seu trabalho de produção de quase quatro anos em um show, na Audio Rebel, nessa segunda-feira. “O projeto é independente, ou seja, a preparação é feita dentro da realidade e das possibilidades de cada um, principalmente, porque quis fazer o projeto com Carlos Bernardo, diretor musical, Igor Ferreira, produtor musical, e Pedro Rocha. Todos trabalham muito e para o disco ganhar vida demorou um pouco”, contou a artista. Com distribuição da ‘Embolacha’, o álbum já está nas plataformas digitais e deve ter o disco físico ainda este ano. A noite de segunda-feira no Audio Rebel, localizado em Botafogo, foi palco para a reunião dos convidados especiais de Amora, como Fernanda Gonzaga, Botika, Nana Carreiro da Cunha, Renata Neves, Vitor Paiva, Daniel Castanheira e sua Aldeia.

Audio Rebel recebe show de lançamento do novo disco independente de Amora Pêra que reúne rock, jazz e tambores africanos em um mesmo lugar

Amora Pêra lança seu novo CD hoje (Foto: Divulgação)

Com tantos nomes, a escolha dos parceiros de disco foi muito fácil para a cantora que decidiu se guiar pelo coração. “Minha irmã Fernanda, por exemplo, canta uma música que fiz para a minha avó e, além disso, Botika, Vitor, Pedro e Ava participam de uma faixa que é em homenagem a um amigo. Nenhuma das canções escrevi pensando em cantar com uma pessoa específica, a não ser as duas músicas que fiz para o meu amigo. Na primeira, todos cantam em coro. Queria mostrar a força que ele tinha pra gente, então, é uma canção que fala sobre a intensidade, a corporalidade e uma pessoa que tem coragem de fazer tudo. Já na segunda, cada um fica responsável por um instrumento e busco falar de alguém que sabe que vai embora e está se despedindo de todos. São temas diferentes que falam sobre a existência no mundo e sobre a partida. Queria que saísse do coração de cada um de nós”, explicou a cantora emocionada. O homenageado é Ericson Pires, um poeta que faleceu há cinco anos.

Ensaio fotográfico de Amora (Foto: Divulgação)

A ideia da cantora é trazer fortes emoções para o ouvinte já que, ao escrever, ela conta histórias com o coração. Todas as canções de Amora têm um porquê, assim como a localização em que cada faixa está no disco. “A maior preocupação era saber como ficaria o roteiro das músicas, porque queria que o disco parecesse uma rota que deve ser percorrida. Para mim, o caminho sonoro é bem articulado e faz sentido”, afirmou a artista.

Apesar das músicas saírem de dentro da alma da cantora, Amora afirmou que o ritmo não é lento. Seguindo o roteiro sonoro que preparou para o disco, a cantora contou que o inicio é recheado de batidas fortes que vão se dissipando. “É um disco que tem muitas vozes de grupo para mostrar a força do conjunto, porque foi uma produção cheia de memórias minhas e dos meus amigos. Do meio para o final, a forma muda um pouco, aparentemente se acalmando, mas acaba ficando entre o rock e o jazz. Além disso, o Brasil tem uma ancestralidade muito forte e, por isso, acabei colocando tambores para ilustrar essa influência”, esclareceu. Assim como os ritmos que vieram da África acabaram se alterando, as melodias do disco dela também mudam.

(Foto: Divulgação)

O continente africano faz parte da vida da cantora, assim como do Brasil inteiro. Ela quis resgatar essa cultura que falamos pouco no país, mas é muito presente no nosso dia-a-dia. “Eu sou muito ligada ao candomblé e, além disso, o Brasil tem a cultura africana na sua formação. Junto do aspecto pessoal, acho importante trazer um disco que protagonize esse estilo para mostrar que é algo que temos e precisa ser explorado. Também somos feitos de Áfricas”, contou.

Amora Perâ se apresenta (Foto: Divulgação)

Por causa da religião muito presente em sua vida, Amora decidiu colocar o nome do seu disco em homenagem a esta cultura. “O disco se chama Dúpé que significa em Iorubá ‘nós agradecemos’. Para mim, foi importante deixar sem tradução, pois é algo que faz parte da nossa cultura e precisamos respeitar as pessoas que creem no candomblé. O Brasil precisa saber que existem muitas pessoas que agradecem em outra língua”, sugeriu. Segundo Amora, alguns adeptos do candomblé trocam a palavra ‘obrigada’, em português, por esta de origem Iorubá, uma das maiores línguas de grupos oriundos da África. “A forma como eu falo de fé é muito indireta e não tento pregar nada, apenas cito algumas coisas”, completou.

A artista é herdeira de dois dos maiores artistas brasileiros, Gonzaga e Gonzaguinha, fenômenos musicais em todo o país. Apesar disso, o disco não traz referências aos dois, Amora tem sua própria identidade musical. “Sou carne da perna do meu pai e avô. Os dois me influenciaram a minha vida toda, escuto as músicas e aprendo com elas. O meu avô faz parte da fundação cultural das pessoas e isso é muito importante para mim. Mas eu já recebi inspirações de diferentes lugares, por isso, agora minha música é uma mistura de tudo que já vivi”, informou.