Às vias de estrear no Rock in Rio, o CPM 22 nada contra a maré e afirma: “o rock é marginalizado no país”


Badauí, Japinha, Luciano, Heitor Gomes e Phil Fargnolli vão subir ao Palco Mundo do Rock in Rio no mesmo dia que bandas como System of a down e Queens of the stone age. Nessa entrevista, antes de cantarem na Aquarius Fest, no Ilha Shows, em Vitória (ES), eles falaram que “os holofotes nem sempre estão virados para onde há trabalhos que realmente mereçam estar valorizados”

Os caras do CPM 22 – que estão comemorando 20 anos de estrada, sendo 14 destes profissionalmente – acham que o rock no Brasil tem se enfraquecido na última década. O motivo? Não houve renovação de qualidade.”É importantíssimo que haja essa renovação até para podermos garantir o espaço do segmento na mídia. Estamos nadando contra a maré”, contaram ao HT. As nadadas, aliás, são a braçadas fortes, já que o CPM 22, assim com o Rock BR, saiu do mainstream, afogado por sertanejos universitários. E aqui não tem nenhum juízo de valor. Isso sem contar com os quatro anos sem inéditas. Fracasso? Pelo contrário. Não passaram um final de semana sem fazer shows nesse período, para muitos, nebuloso. “Os holofotes nem sempre estão virados para onde há trabalhos que realmente mereçam estar valorizados. No Brasil existem as ondas passageiras como a lambada e as boy bands. O rock tem a vantagem de ser um estilo perene, que se mantém vivo e não depende tanto da mídia quanto os outros”, ponderaram.

CPM 22.

Badauí, Japinha, Luciano, Heitor Gomes e Phil Fargnolli são a prova viva dessa independência. “No lançamento do acústico de 2013 (gravado em Cotia/SP), que foi basicamente uma coletânea de sucessos, inserimos quatro sons inéditos, sendo que dois desses foram parar nas rádios. E olha que elas estavam num momento de pouca atenção para com o rock”, lembram. Sobrevivência essa que é narrada com maestria numa canção que leva o nome da banda. Eles cantam: “Expor os meus pensamentos nunca foi fácil, acertando ou errando é normal” e “depois de muitas viagens, calotes, roubadas e muita incerteza no ar”. Se os versos expiraram? “Não e vão sempre valer. As incertezas sempre existiram e sempre existirão. Faz parte da vida, da carreira e nós não somos diferentes. Não dá para prever o dia de amanhã, o ano que vem, como será o desempenho do próximo disco. Mas gostamos disso tudo e temos convivido bem com essas dúvidas todas”, garantiram.

Tão bem que conversaram com HT horas antes de terem se apresentado na Aquarius Fest, no Ilha Shows, em Vitória (ES), já pensando em subir pela primeira vez ao Palco Mundo do Rock in Rio no dia 24 deste mês.  “O convite não poderia ter vindo em melhor hora. Nos sentimos honrados pois, além de tudo, essa ocasião serve para uma consolidação da nossa banda no cenário do rock nacional. Ainda mais que estaremos tocando ao lado de bandas incríveis como System of a down e Queens of the stone age“. O convite, além de se encaixar perfeitamente na ode que o festival quer fazer ao rock, é reflexo do atual momento do CPM 22. “Retornamos à Universal Music e estamos novamente fazendo um trabalho de maior porte, com uma major”.

Mas uma rápida olhada para trás mostra que nem sempre foi assim. “Já passamos por duas fases independentes. Sabemos bem as diferenças e gostamos de trabalhar nessa parceria [com gravadoras]. Em um país como o Brasil, onde o rock é marginalizado e ao mesmo tempo tem um espaço enorme entre os apreciadores e o grande público, sabemos a diferença de podermos contar com a estrutura de uma grande gravadora para trabalharmos”, avaliaram. Donos de sucessos como “Um minuto para o fim do mundo”, “Vida ou morte”, “Não sei viver sem você” e “Dias atrás”, eles nunca pensaram em se separar. Nem nesses últimos meses quando os colegas do Forfun anunciaram o fim. “Apenas nos questionamentos o que faríamos se não tivéssemos mais a banda para trabalhar, para viver dela”admitiram.

Tamanha certeza despertou a curiosidade de HT. “Isso acontece por dois motivos: nós temos muito amor por essa trajetória, por esse trabalho que fizemos até agora; e pelo nível de reconhecimento que atingimos, pelas possibilidades que a banda nos deu e continua dando de vivermos de música, de viajamos o país inteiro, de fazer show para multidões, de conhecer lugares, pessoas. Isso tudo é muito satisfatório e prazeroso então fica difícil trocar esse estilo de vida por algum outro”, explicaram. Tanto amor refletiu na tribo particular que o CPM 22 formou nesses 20 anos. “A gente acabou virando uma banda paulista que entrou no imaginário do pessoal na época. É como se aquela banda que está ali a TV ou na rádio fosse sua amiga, como se os integrantes da banda fossem amigos seus e conversassem com você através das letras, da postura, da roupa. Isso construiu uma imagem nossa como artistas, e não como uma simples banda de rock”. Desafiamos alguém a negar.