Artista Silvia Machete sobre o papel do circo em sua vida: “Tudo que eu sei fazer aprendi na rua”


Dona de uma voz potente e com músicas que exaltam a força da mulher, Silvia Machete é sinônimo de versatilidade

Cantora, artista circense, atriz, performer. Silvia Machete são várias em uma. Afinal, viver de arte é um pouco disso tudo: “Eu sempre fui dramática. A minha avó fala: ‘Nossa, você faz isso desde que a conheço’, a gente só vai se aprimorando”, brinca. Essas diferentes facetas de Silvia podem ser percebidas nas suas criações musicais, que unem teatro, humor, e muito circo, algo que faz parte da sua vida desde que era adolescente: “Eu levo o circo para o palco, faz totalmente parte do meu show. Isso de envolver o público, tem muita coisa do palhaço sem nariz, da comédia física, comédia dell’arte. Eu bebo dessa fonte”.

O circo tem uma grande influência nas músicas de Machete (Foto: Divulgação)

Atualmente, Silvia faz shows com a cantora Simone Mazzer pelo país, em um repertório que vai desde Edith Piaf até Inezita Barroso. Os toques sensuais e burlescos com um leve tom de comédia estão presentes nas apresentações, e a diversidade das músicas é um diferencial. “Eu e a Mazzer sempre fomos nos shows uma da outra. Eu fiquei super fã dela e acho que depois se tornou minha fã também. Como nós somos duas mulheres bem diferentes, a gente achou curioso juntar isso no palco, visualmente e foneticamente. A gente está se divertindo muito, eu vejo uma longa vida ao High Times, são músicas que nunca pensamos em cantar e que estão cabendo nesse repertório”, conta a artista. Além do High Times, Silvia vai para São Paulo em breve com a turnê Dussek veste Machete, seu último álbum, mas o maior projeto no momento ainda é quase segredo. Ela apenas adiantou para o site HT que vai viver uma personagem no cinema, em um filme sobre a música de Rosa Passos, cantora que tem forte admiração.

Simone Mazzer e Silvia Machete apresentam suas veias performáticas no show “High Times” (Foto: Aurelio Oliosi/Divulgação

Com 23 anos de carreira, a artista reflete que a maior motivação no palco é cantar o que a emociona veemente e isso também é essencial no processo de criação. No momento, ela tem descoberto novos lados. Sim, Silvia tem mais facetas! “Cada vez mais estou indo para o mundo do teatro, de como fazer o show acontecer, sabe? Direção de arte, direção de outros espetáculos, o próprio High Times me abriu outra janela para criar momentos cênicos. Eu adoro mudar, e como eu sou muito persistente e me apaixono pelas coisas…Se eu invento um número, eu quero levar ele até o fim, tenho me aperfeiçoado nisso”, frisou.

Silvia já cantava letras empoderadas que falavam da liberdade da mulher desde muito tempo, é só ouvir “Toda Bêbada Canta” ou “Simplesmente Mulher“, ambas de 2008. “Sem saber eu era feminista, agora eu sou a maior feminista de todas. Não costumo levantar bandeiras, mas meu trabalho é incrivelmente feminista”, ressalta Silvia.

Um momento primordial em sua vida foi o período que morou na França estudando a arte do circo, onde procurou vivenciar ao máximo a experiência. “Eu comecei a trabalhar na Europa e na rua, imagina! Uma mulher brasileira na rua. Eu fui contra tantas coisas que poderiam ter me impedido de ser feliz, sabe? Mas eu fui lá sem saber e fiz”, contou. Todas as dificuldades que a carioca passou, não deixaram ela desistir. “Eu passei perrengues, meus pais me ajudaram a ir para França, claro, mas eu vivi em um caminhão durante muito tempo do ano. Isso é sempre difícil, estar na estrada, foi uma vida bem puxada para uma jovem. Mas valeu a pena cada verão, tudo que eu sei fazer eu aprendi na rua, como me comportar e como me “mal” comportar”, sentencia.

(Foto: Arthur Nobre e Ilana Bessler)

Nessa onda de ódio e fake news, é comum as pessoas descontarem as inquietudes do país nos artistas, por falta de informação ou pela falta de valorização da própria cultura. “Eu acho que as pessoas estão com raiva dos artistas no Brasil. A cultura é fundamental. É como a gente se vê como sociedade, e quando isso não está sendo feito, a sociedade desmorona. As pessoas não vibram juntas e precisamos disso. Rir e chorar com a arte juntos, para se sentir parte de uma sociedade”, finalizou.