Ao lado de Alcione e Zeca Pagodinho, Monarco de todos os tempos: “Eu lutei com a Portela e com a minha música”


Aos 85 anos, o baluarte do samba lançou mais um trabalho na noite de ontem, no Teatro Bradesco Rio. Com mais de 60 anos de carreira, ele confessou emocionado ao site HT: “Se hoje eu estou aqui é porque os mais experientes me empurraram para frente. Então, eu faço questão de dar força aos mais jovens. E olha que tem uma garotada boa chegando, viu? Eu assino embaixo”

Com a promessa de uma emocionante e acalorada viagem no tempo, o site HT esteve, na quinta-feira, ao lado de quase 1.000 pessoas que, reunidas, esperavam a voz potente e histórica de Monarco. No Teatro Bradesco Rio, todos puderam revisitar o passado carioca ao serem embalados por cada nota musical durante o show. O anfitrião da noite, lançando o CD Monarco de todos os tempos, fez questão de dividir o microfone com Zeca Pagodinho e Alcione, que, além de soltarem a voz, ajudaram a relembrar as tantas histórias que formaram os mais de 60 anos de carreira do sambista. “Compus o meu primeiro samba aos 18 anos e não consegui mais parar. E subir ao palco faz com que eu siga feliz a minha vida hoje”, reforçou. Apertem os cintos, pois a viagem com Monarco começou!

No CD Monarco de todos os tempos, o cantor faz homenagens a grandes nomes, como Dona Ivone Lara (Foto: Marcos Hermes/Divulgação)

Os muitos convidados, que lotavam o hall de entrada do Teatro Bradesco uma hora antes do show, já demonstravam a expectativa. Entre amigos, familiares e fãs e integrantes da Portela, como o presidente Luís Carlos Magalhães, o nome de Monarco era reverberado como um mantra a ser repetido. Ainda assim, ao primeiro aviso de que o show estava prestes a começar, todos se aquietaram em um esperar coletivo e ansioso para prestigiar o clipe que iniciou a apresentação. “Se chegar lá onde eu moro procurando o Hildmar ninguém vai saber quem é. Recebi o apelido de Monarco ainda na infância e o samba eternizou ele em mim”, afirmou o cantor no vídeo produzido pela gravadora Biscoito Fino.

Para a alegria dos presentes, não demorou para que a ilustre voz deixasse o formato audiovisual para pisar em carne, osso e memórias no enorme palco. Acompanhado dos amigos de banda, Monarco agradeceu a presença de todos, mas logo começou a fazer o que mais sabe: cantar. À frente de um cenário bem carioca, o baluarte de 85 anos, abriu a noite com Agora é Tarde e Obrigada, Pelas Flores, duas músicas que podem ser encontradas em seu mais recente CD, sendo uma delas uma bonita homenagem a um nome importantíssimo da música. “Em uma ocasião, Dona Ivone Lara me entregou lindas flores pelo meu trabalho. Então, eu fiz essa música para ela, a minha querida e eterna rainha do samba. Lembro que quando mostrei a letra, Dona Ivone disse: ‘Monarco, você não tem mais o que inventar?’. O que eu poderia fazer se não agradecer pelas flores e pela amizade?”, contou.

Durante o show, Monarco exaltou colegas, o samba e a Portela (Foto: Felipe Bretas/Divulgação)

Aumentando a velocidade e intensidade da nossa viagem e puxando Senhora Tentação, de Cartola,ele fez um convite: “Agora, eu proponho que vocês embarquem de vez, pois voltaremos ao passado. Eu e meu samba somos de todos os tempos”. Após a sequência, que contou ainda com músicas de Noel Rosa e de própria autoria, ele comemorou: “Eu sou um cara de sorte, pois tive a oportunidade de ver meus trabalhos fazerem muito sucesso. É emocionante e gratificante”.

Assim, em meio a uma composição de Beth Carvalho, uma boa surpresa deu continuidade ao show: Zeca Pagodinho pisou no palco e ajudou Monarco a cantar os versos que relembravam Bernardo Sapateiro e os seus sapatos de cetim. “Você tem a estrela. Pode fazer o que quiser aqui”, disse o anfitrião ao convidado, que levou a plateia à loucura com o suingue de Vai Vadiar. A harmonia entre os dois grandes nomes da música brasileira e as considerações feitas de um para o outro transformaram a noite em um bonito encontro entre amigos.

 

 

O show, que parecia já ter chegado ao auge com o dueto entre Monarco e Zeca, surpreendeu mais uma vez, quando Alcione apareceu ao lado do anfitrião. “Ela é a maior cantora do Brasil hoje”, afirmou, causando risadas envergonhadas na intérprete que, com todo o respeito o chamou de “Seu Monarca” diversas vezes. Depois de cantarem juntos, a convidada se despediu e Monarco, emocionado, confessou: “Estou muito feliz por vocês acreditarem em um senhor de 85 anos. Assim como Cartola guerreou com a Mangueira, eu lutei com a Portela e com a minha música. Já posso me aposentar feliz e realizado”.

Lembrando ainda de Paulinho da Portela e Marisa Monte entre uma atração e outra, ele pontuou sobre sua escola do coração: “Eu amo a Portela acima de tudo. Ela guarda um baú de histórias lindas e eu faço questão de contá-las sempre”. Porém, apesar da óbvia admiração pela águia da Sapucaí, o sambista revelou que também é apaixonado pelo verde e rosa de outra escola: “A Mangueira, ao lado da Portela, são as grandes instituições que mantém o samba vivo hoje. As duas são companheiras históricas e passaram pelos mesmos perrengues”.

Ao lado de Alcione, ele relembrou clássicos de Ney Matogrosso (Foto: Felipe Bretas/ Divulgação)

O público, depois das declarações sinceras do ídolo, repetia o seu nome em meio a muitas palmas e pedidos de uma última canção. Feliz e atencioso, Monarco retornou cantando Foi um rio que passou em minha vida. Com as mãos levantadas e de pé, a plateia acompanhou o ritmo do artista que, por um instante, pareceu ter 18 anos novamente. Após o momento de catarse, Monarco confessou ao site HT em seu camarim: “Acho que já posso pendurar as minhas chuteiras e dizer que joguei uma boa partida. Eu sei que tenho um dom e agradeço a Deus, pois ele me deu o poder de criar, compor, cantar e ser muito feliz”. Antes de se despedir da nossa equipe, porém, deixou claro com toda personalidade que lhe é característica: “Se hoje eu estou aqui é porque os mais experientes me empurraram para frente. Então, eu faço questão de dar força aos mais jovens. E olha que tem uma garotada boa chegando, viu? Eu assino embaixo”.