Alcione inaugura o projeto “Boteco da Marrom” com convidados no Rio e fala sobre o governo: “Eu quero mais é que o Temer faça um belíssimo governo”


O “Boteco da Marrom” inaugura hoje, dia 5, com a presença mais do que confirmada do cantor Ferrugem. Mumuzinho, Preta Gil, Mart’nália, Sandra de Sá, Xandi de Pilares e Ludmilla são alguns dos amigos que Alcione fez questão de convidar para sua roda de samba. “Convidei pessoas pelas quais admiro o trabalho e estão de alguma forma ligadas ao samba”, disse

Uma das cantoras brasileiras mais aplaudidas pela crítica e pelo público, Alcione está prestes a dar o pontapé inicial a uma série de shows que fará no Clube Ginástico Português da Barra da Tijuca, na urbe carioca, a partir de hoje, dia 5, todas as segundas-feiras até a estação mais quente do ano, o verão. Sempre com um convidado diferente no palco, o projeto “Boteco da Marrom” pretende se tornar uma grande vitrine para tudo aquilo que está rolando no universo do samba, além de uma boa opção para começar a semana no maior auto-astral. No melhor estilo da artista. Em entrevista exclusiva ao HT, ela aproveitou para explicar um pouco melhor sobre os novos projetos e ainda soltou o verbo sobre feminismo, a nova cara do samba,  sua escola Mangueira e o que verdadeiramente pensa sobre o presidente recém empossado Michel Temer. Vem!

Alcione (Foto: Marcos Hermes)

Alcione (Foto: Marcos Hermes)

“O Beteco já era uma ideia antiga que só estamos conseguindo tocar em frente agora. Ele ficou meio enrolado para sair, porque vieram as Olimpíadas e as pessoas só queriam saber dos jogos, assim como eu, claro”, disse ela, aos risos. “Vamos apresentar toda segunda-feira sempre com um convidado diferente e ainda teremos um espaço para uma banda ou cantor da nova geração mostrar seu trabalho. Será uma vitrine da música popular brasileira. No meu show, eu vou cantar músicas do meu repertório e me arriscar em alguns boleros. Engraçado, porque eu sou uma sambista, mas o público sempre pede para que eu cante bolero. Eu acho ótimo, até porque eu amo músicas românticas e nesses projeto a gente vai ouvir todo tipo de canção e se divertir bastante” disse.

O “Boteco da Marrom” inaugura no dia 5 com a presença mais do que confirmada do cantor Ferrugem. Mumuzinho, Preta Gil, Mart’nália, Sandra de Sá, Xandi de Pilares e Ludmilla são alguns dos amigos que Alcione fez questão de convidar para sua roda de samba. “Convidei pessoas pelas quais admiro o trabalho e estão de alguma forma ligadas ao samba”, disse ela, que ainda explicou o porquê de optar pelo primeiro dia útil da semana para os shows. “Normalmente na segunda-feira ninguém tem compromisso, além do trabalho. As pessoa escolhem ficar em casa, talvez até por falta de opção. A Barra da Tijuca, por exemplo, não oferece muita distração nesse período. Por isso tivemos a ideia de convidar todo mundo para ouvir uma boa música, beliscar uma coisinha gostosa, tomar um chopinho, enfim, começar a semana com o pé direito”, enfatizou a interprete de grandes sucessos, como “Não Deixe o Samba Morre”, “A Loba”, “Você Me Vira a Cabeça” e “Meu Ébano”.

Marrom lança projeto de shows às segundas-feiras na Barra (Foto: Divulgação)

Marrom lança projeto de shows às segundas-feiras na Barra (Foto: Divulgação)

E falando em começar com o pé direito, Alcione definitivamente não é daquelas artistas que estão levantando a bandeira do “fora Temer”. Apesar de ser uma simpatizante de Dilma Rousseff, a cantora espera que o atual presidente faça um bom governo que, para ela, já está rendendo frutos. “Para dizer a verdade, eu ainda não sei se foi a melhor opção para o Brasil, mas fiquei feliz hoje ao saber que ele conseguiu um investimento de R$ 15 bilhões para o país, sendo que 7 foram destinados para a siderurgia do Maranhão – terra natal da artista. De fato, eu não estou de acordo que se magoe a Dilma, eu gosto dela. Acho que ela foi uma mulher que não tirou dinheiro de ninguém. Muito pelo contrário, o seu governo ajudou muita gente. Mas estou otimista, sim. Eu quero mais é que o Temer faça um belíssimo governo”, ponderou ela, que, no entanto, se disse revoltada com a atitude de alguns outros políticos. “Eu tenho mágoa mesmo é do Eduardo Cunha e do Aécio Neves, que não sossegaram até tirar a mulher do poder. O Bolsonaro, então, eu não posso nem ouvir falar o nome”, completou a Marrom.

Atenta aos movimentos sociais, Alcione sabe que fazendo sua parte pode ser capaz de mudar o futuro de muita gente. Prova disso, é o projeto Mangueira do Amanhã, fundado pela cantora, onde crianças de rua são cuidadas e recebem a oportunidade de uma vida mais digna. Com aulas de música, orientação de esportes e prestações de serviços de saúde, o espaço hoje tem servido de espelho para muita gente. “Esse projeto foi fundado em 1987 e foi justamente criado para tirar as crianças da rua. A ideia foi investir no esporte com a Vila Olímpica que montamos, além de colocar as crianças no samba. Para participar, todos tinham que estar matriculados no colégio. Nós conseguimos unir as três coisas principais que podem mudar a vida de uma criança, que é educação, arte e o esporte. É muito gratificante ver a evolução de uma comunidade. Hoje, mais da metade da bateria principal da Estação Primeira de Mangueira vieram do nosso projeto”, disse ela, orgulhosa do feito.

A cantora com a bandeira da Estação Primeira de Mangueira (Foto: Divulgação)

A cantora com a bandeira da Estação Primeira de Mangueira (Foto: Divulgação)

No entanto, apesar de ser um dos maiores ícones da nossa música popular brasileira, ela revelou ao HT que por muitas vezes teve que se impor para fazer valer sua opinião, já que o berço do samba é predominantemente comandado por homens. Segundo ela, entre machistas e feministas o ponto ideal é que todos vivam em parceria. “Sabe, eu não sofri tanto com o machismo porque tive uma boa educação nesse sentido. Apesar de ser de uma outra época, meu pai sempre me ensinou a ter dignidade, ser independente, me sustentar, trabalhar e a respeitar a mim e aos outros. Claro que, às vezes, é preciso pegar mais pesado, porque a gente não pode engolir o homem que nos olha diferente Que nos menospreza. Todos precisamos ser respeitados acima de tudo”, disse ela, que ainda comentou sobre os exageros da atual face do emponderamento da mulher. “O machismo é cafona. Eu sou a favor do movimento feminista, mas não aquele que exclua o homem. Independente da nossa libertação, precisamos todos estarmos unidos com amor, companheirismo e igualdade acima de tudo”, enfatizou.

E voltando a falar sobre os trabalhos musicais da sambista, no auge dos seu 68 anos, Alcione não para. Além do projeto “Boteco da Marrom”, ela está prestes a gravar seu próximo CD/DVD ao vivo, “Alcione Boleros”, que como o próprio nome sugere, é completamente dedicado ao ritmo cubano. A gravação será realizada dia 17 de setembro, na Cidade das Artes, também contará com as participações de atriz e cantora Elisa Lucinda, Nana Caymmi e da cantora e sobrinha Sylvia Nazareth. “Será um trabalho apenas com canções de bolero. Eu acho que as pessoas vão amar. Mesmo sendo conhecida pelo público por cantar samba, eu sempre introduzi alguns bolerinho aqui e outro ali no meu repertório”, disse. No novo trabalho, regravações de canções emblemáticas do ritmo como “Risque”, “Segredo”, “Corsário” e“Escribeme”.

A cantora grava DVD com repertório dedicado ao bolero (Foto: Divulgação)

A cantora grava DVD com repertório dedicado ao bolero (Foto: Divulgação)

Embalada no clima das músicas, a cantora ainda revelou ser uma romântica à moda antiga. “Olha eu sempre gostei de musica romântica. Eu sou de uma geração que adorava ir para festa e ser tirada para dançar”, recordou ela, que apesar de se aventurar no novo estilo musical, garantiu que na turnê do novo trabalho também estarão outras canções de sua carreira de mais de 40 anos. “O samba tem raízes muitos fortes e já deu muitos frutos como a bossa nova, o pagode e o chorinho. Ele é tão rico que pode se dar o luxo de se misturar com diversos estilos musicais e ainda assim ter sua identidade”, completou.