A cara por trás dos sucessos, o produtor musical Rodrigo Gorky fala sobre trabalhar com Pabllo Vittar, Luiza Possi e Banda Uó: “Não dá para fazer mais do mesmo.”


Para além dos trabalhos com grandes artistas, ele falou sobre as dificuldades e desafios da produção musical.

Quando você ouve uma música, sua mente se conecta com a letra que está sendo cantada e faz com que você se identifique e crie uma empatia com quem entoa aqueles pensamentos. Por outro lado, o seu corpo vai se relacionar com os sons escolhidos para ritmar aquela canção. Esse segundo lado do trabalho da composição musical é, em grande maioria, designada pelo artista para que um produtor musical o desenvolva. Rodrigo Gorky é um dos nomes bem sucedidos nesse trabalho na música pop brasileira. Responsável por sucessos como Pabllo Vittar e Banda Uó, ele contou ao HT um pouco da sua trajetória e do perfil necessário para o trabalho nessa área.

“Minha relação com a música começou desde pequeno. Minha mãe conta que uma vez minha tia me perdeu no shopping e só foi me achar meia hora depois dançando em frente a caixa de som da loja de discos. Eu costumava juntar o dinheiro da merenda para comprar CDs e pedir de aniversários alguns. Quando eu tinha uns 10 ou 12 anos, eu falava que queria ser o cara da gravadora que diz sim ou não para um artista. Quero sentar o dia inteiro e ouvir músicas. Todos os clichês possíveis que você possa imaginar, eu sou, mas a partir disso para trabalhar com música profissionalmente foram outros quinhentos. É muito difícil você botar na cabeça que vai trabalhar com música e seguir em frente”, contou o produtor. A persistência e sucesso no carreira, Gorky credita aos pais que sempre o apoiaram nessa decisão.

Amante da vida noturna, Rodrigo aprendeu a tocar com um amigo pelas noites e acabou virando DJ. Ele e mais dois amigos se juntaram e começaram a misturar samples de diversos estilos com funks cariocas, assim surgiu o Bonde do Rolê, que fez sucesso por onde passava e ajudou o músico a se tornar um nome referência entre as mixagens da música pop: “A gente começou esse trabalho porque queríamos ter as nossas músicas para ninguém mais ter. Foi esse pensamento que motivou a gente a fazer isso tudo.” Mas não foi tão simples assim! Gorky ressalta que desse episódio inicial da sua vida musical até onde ele está hoje foi uma longa jornada percorrida.

Bonde do Rolê: Rodrigo Gorky, Laura Taylor, Pedro D’Eyrot

Uma das parcerias destacáveis durante essa trajetória é a com a Banda Uó. Rodrigo, juntamente do seu amigo Pedro D’Eyrot, viraram empresários e produtores. “A gente se interessou por eles e foi no momento em que a Mel (Gonçalves) entrou como vocalista. No mesmo dia que a gente viu o show, já falamos com eles e toparam. Foi incrível e deu super certo.” Depois dessa parceria que impulsionaria o grupo de Goiânia a nível nacional, Gorky e Pedro tentaram trabalhar com alguns artistas e não tiveram o mesmo sucesso: “Durante esse tempo, eu continuei trabalhando com publicidade e com remixes para festas. A vida com música é isso. Esse vai e volta com bandas e artistas que dão ou não certo.”

Nesse meio tempo, ele recebeu a ligação de um amigo jornalista que fez um convite inesperado: “Ele me ligou e disse ‘A Luiza Possi tá gravando um CD (‘LP’)e acha que esse trabalho é a sua cara’. Isso foi em 2015 e eu passei o ano gravando com a Luiza. A nossa troca foi boa. Ela me mostrou um novo mundo e todas as maluquices que eu inventava, ela ouvia. Isso abriu muito a minha cabeça. Nós gravávamos em casa e em estúdios caseiros. O que foi ótimo porque eu nunca gostei de estúdio porque eu fico intimidado. Eu aprendi tudo o que eu sei sozinho e chego lá ao lado de pessoas que estudaram e sabem muito.”

Gorky e Luiza Possi

Mais talvez o maior acerto da carreira de Rodrigo Gorky tenha sido descobrir o potencial na drag queen Pabllo Vittar. Ela – que hoje é dona de um dos hinos do carnaval de 2017 – chamou a atenção do produtor através do instagram. Sobre o que chamou a atenção na artista, ele dispara sem pensar duas vezes: “Carisma e voz.” Com a mesma espontaneidade que surgiu o convite para a Banda Uó, surgiu para Pabllo: “Depois que eu a vi no instagram, nós logo gravamos ‘Open Bar’ e estourou. Tem horas que você pensa que vai dar certo e sabe que vai dar certo. Não é preciso nada muito inovador, mas você precisa preencher um mercado que falta. Por exemplo, não ia adiantar nada se eu copiasse alguma coisa pop brasileira, se eu tentasse fazer algo parecido com Anitta ou Ludmilla. As pessoas pensam ‘Para que eu vou ouvir essa novata se eu posso ouvir Anitta e Ludmilla?’ Cada artista tem que trilhar o seu próprio caminho” explicou sobre a sua logística de investimento.

Para desenvolver essa sensibilidade artística musical, Gorky acredita ser o seu tempo como consumidor de música: “Como consumidor, eu vejo esses buracos. Também precisamos de um pouco de doideira. Eu até brinco que ainda não existe um sertanejo eletrônico, mas não é nem tanta brincadeira, sabe? O público da Maiara & Maraísa é o mesmo da Lorde. O Luan Santana já fez umas coisas diferentes no último dele e eu fiquei fascinado. Acho que as pessoas estão começando a entender que já não dá para fazer mais do mesmo. Você tem que pensar fora da caixa.”

Trabalhar em uma carreira como essa exige atenção e sensibilidade para perceber o mercado além de muita, muita persistência e coragem para encarar as dificuldades que o mundo da música apresenta. Rodrigo Gorky ainda ressalta mais uma vez o elemento da criatividade, essencial para que o sucesso seja atingido. “Eu gosto muito de estudar a matemática da música pop. Tudo é muito calculado. Você tem que entender os elementos que estão presentes e a conta certa a ser feita. O legal desse trabalho é tentar sempre descobrir os novos ângulos e fazer a música de um jeito diferente. Todo mundo que dá certo hoje em dia tem o seu quê de originalidade.” Para os amantes do pop brasileiro, basta apenas esperar as próximas inovações loucas que Gorky e seus amigos de profissão irão propor aos nossos ouvidos.