Rodrigo Pitta e Arto Lindsay viajam em projeto pop-lisérgico no Rio!


Depois de CD, espetáculo e até apresentação em festival de cinema em L.A., a dupla musical institui festa-show cabeça em clube carioca, com DJs, vídeos, música eletrônica, experimentações artísticas e ate batida de candomblé!

A fim de viajar sob os efeitos de um estado alterado de consciência? Bom, o barato aqui é bem saudável : o diretor Rodrigo Pitta (Cazas De Cazuza) lança hoje (quarta-feira), no recém-inaugurado clube Cave, no Rio, o show e festa “Estados Alterados”, o badalo que já havia movimentado Sampa na D-Edge, onde recebeu as presenças bacanas do DJ americano Terrence Parker e do legendário Dimitri from Paris, um dos reis da house music.

Para Rodrigo, que atua desta vez como intérprete,  e seu partner nesta empreitada, o incensado Arto Lindsay, “a arte é uma experiência por si só, já que se configura em um estado alterado de consciência”.  Acha conceitual? Mas isso tem mesmo tudo a ver com a proposta dos dois amigos. O diretor revela: “Eu queria criar uma sonoridade incomum, original, contemporânea e, ao mesmo tempo, popular. Queria sons eletrônicos, que são comuns em uma pista de dança, reproduzidos, na sua maioria, por instrumentos acústicos gravados em estúdio. Nossa ideia, sem pretensões,  parece nova para o cenário de música popular brasileira”. Entusiasmado, Rodrigo Pitta ainda completa dizendo que, na pista, a poesia ganha ecos tão fortes quanto beats eletrônicos. Com isso, os dois viajam, caindo de cabeça em canções que, de uma forma ou de outra, conectam-se a estados alterados, desde a música para dançar, que faz quem escuta sacolejar full time na boate, em um flerte com um universo à parte, até os ritmos do candomblé, usados para se entrar em transe. A palavra aliás é essa: transe.

Mas, embora haja conotações lisérgicas no trabalho da dupla, Rodrigo  faz questão de salientar que não são somente os aditivos químicos que alteram consciências: “O amor altera as percepções. A dor também”, filosofa, mostrando que, no fundo, os sentimentos também não passam de reações físico-químicas interiores, capazes de levar às maiores elucubrações. No show, além do trabalho autoral dos dois, eles intercalam obras de Vinicius de Moraes, Caetano Veloso e Raul Seixas. E, como rola música eletrônica, montaram um poderoso line up de DJs, com o impagável Mau Mau, Dirty Clean (direto do El Destino Ibiza),  Vivi Seixas e Mike Frugalletti, além de Diogo Reis, que agita a badalada festa Moo.

O palco da Cave ganha um cenário especial para receber o show e está mantida a mesma atmosfera underground criada na D-Edge. “Eu acho que estrear em um clube ajuda a plateia a imergir no universo da música eletrônica, que foi a primeira inspiração do espetáculo”, revela o diretor.

Tudo de acordo com a trajetória do seu parceiro neste projeto, aliás. Afinal, Lindsay é um nome na música que tem tudo a ver com experimentações e, embora seja um artista de peso no contexto internacional, sempre preferiu flanar pelo conceitual ao invés de entregar sua própria cabeça na bandeja do apelo comercial. Com sessenta anos de estrada, Arthur Morgan Lindsay faz parte daquela fornada de artistas americanos que caiu cedo na estrada e, com suas múltiplas funções (cantor, compositor, produtor musical e guitarrista), no final dos anos 70 já fazia parte da sub cultura de Nova York com sua banda DNA, lançada no álbum-projeto “No New York”, produzido por ninguém menos do que Brian Eno. O artista, nos anos 80, se tornou presença constante no cenário jazzístico nova-iorquino, participando de grupos como The Lounge LizardsGolden Palominos e Ambitious Lovers, além de produzir faixas para a inteligentsia musical da época, como a minimalista Laurie Anderson, Ryuichi Sakamoto e David Byrne, dos Talking Heads, com quem contribuía no selo de world music – umas das paixões de Byrne – Luanka Bop.

Apesar de americano, Lindsay viveu boa parte da adolescência no Brasil, junto com seus pais missionários, e isto o aproximou da tropicália de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Por isso mesmo, sua presença pelos palcos tupiniquins, algumas vezes em duo com o próprio Caetano, sempre foram frequentes e o músico chegou a firmar parcerias com gente brazuca bacana, como Vinícius Cantuária, Arnaldo Antunes e Marisa Monte, além de introduzir sonoridades eletrônicas, como o techno, a covers de João Gilberto.

Agora, no projeto com Rodrigo Pitta, Arto ressurge na cena musical brasileira fazendo aquilo que mais gosta: viajar no conceito. E é enfático sobre seu novo companheiro de jornada: “O Pitta é muito bom e canta muito bem. Por ser diretor e ter esta experiência, ele concebe tudo junto. Não é o único a fazer isso, mas ele faz música e vídeo, tudo ao mesmo tempo, o tempo todo”. Ele lembra que a ideia toda começou com um CD de ambos, com o mesmo nome, gravado em março e que se desdobrou em um show de lançamento no meio do ano, em 12 de julho, no HSBC Brasil, em São Paulo. A noite reuniu 1.400 pessoas ávidas para degustar arte, música urbana, cinema e poesia, e teve a inclusão de videoclipes produzidos especialmente para costurar o roteiro. Um sucesso que rendeu à dupla o convite para fazer a abertura do Hollywood Brazilian Film Festival em Los Angeles, no Egyptian Theater, no dia 31 de julho. Depois, a canção ‘Sambas Urbanos’ , que faz parte do repertório do CD, foi escolhida para fazer parte da trilha da novela “Amor à Vida”, na TV Globo. Ou seja, em pouquíssimo tempo, o projeto está frutificando mais do que os dois supunham e se desdobra em inúmeras ações. Possivelmente, fruto dos estados alterados promovidos pela química entre os artistas.