Com 300 expositores e mais de 900 marcas, a edição Inverno 2016 da Zero Grau – Feira de Calçados e Acessórios, promovida pela Merkator – Feiras e Eventos, fez de Gramado, no Rio Grande do Sul, semana passada, o epicentro do setor calçadista e outros acessórios. Só para você ter uma ideia, o Brasil é o terceiro maior exportador de chinelos do mundo e o 18º em calçados de couro. Portanto, pelos estandes do Centro de Convenções Serra Park, além dos mais de 12 mil visitantes e lojistas de todo o país, 150 compradores de 10 países compareceram ao evento, firmando importantes parcerias com a indústria nacional e reconstruindo laços vitais para a expansão do nosso mercado no exterior. Tivemos o prazer de testemunhar in loco essa grande efervescência econômica e pudemos presenciar mais uma vez a consolidação de um evento que se mostra essencial para o calendário fashion brasileiro.
Apesar da crise financeira que assola o país, a alta do dólar trouxe consigo um fator positivo no que diz respeito às exportações: aumentou a margem de lucro dos países importadores e, consequentemente, a demanda pelos nossos produtos. “Hoje, nós temos duas opções de venda: o mercado interno e a volta da exportação, algo que está muito forte agora. Portanto, não acho que estejamos em crise, mas sim atravessando uma crise. Para esta edição, temos a confirmação de pelo menos quatro compradores dos Estados Unidos. É um ótimo sinal de que poderemos voltar a explorar esse mercado no curto prazo”, comentou Fred sobre a volta de um dos principais compradores internacionais dos nossos produtos.
Para Frederico, expandir a rede dos fabricantes e levar o produto brasileiro para o maior número de lugares possíveis é um dos papeis fundamentais da Zero Grau, e ele ainda destaca que este é o momento mais oportuno para alinharmos a qualidade dos nosso calçados ao preço. “Sempre estamos muito preocupados em vender os sapatos. Nosso objetivo não é só colocar os expositores aqui dentro, é trazer muitos lojistas e, nesse ano, fizemos um esforço ainda maior para atrair importadores, cientes da configuração atual do cenário mundial. Acredito que essa seja uma obrigação de eventos como esse: mostrar o que tem acontecido e o que ainda pode acontecer no mercado. Eu vejo o ano que vem como um período de grandes melhorias. Antes, era difícil trazer 20 ou 30 compradores do exterior. Hoje, podemos ter até 500 nomes aqui”, analisa, com boas expectativas para 2016.
O otimismo de Frederico Pletsch não é simplesmente uma aposta, mas sim um reflexo de como a edição de inverno 2016 da Zero Grau foi bem recebida tanto por importadores, quanto por lojistas de todo o país. Dentre os motivos para tamanho sucesso, destacam-se a inovação dos produtos nacionais, com tecnologia de ponta e sempre alinhados às tendências internacionais sem jamais perder o caráter brasileiro, assim como a data certeira em que o evento foi organizado.
Ao final dos três dias de feira, Frederico explicou um pouco do impacto que viu pelo evento e fez um balanço geral de como a edição de 2015 foi positiva para os negócios. “Ela confirmou tudo o que prevíamos. Acho que o mercado de calçados não terá problema no próximo ano. Conseguimos mostrar aqui que a exportação deve crescer e muito nos próximos meses. Vi muitas pessoas que estiveram pela feira com as fábricas paradas, tentando se decidir se continuavam ou não com os negócios e, no final, optaram por reabrirem as portas. Concluindo: acho que atingimos nosso objetivo e mostramos ao mercado que há saídas”, contou.
Werner Júnior, diretor da Werner e presidente do Sindicato de das Indústrias de Calçados de Três Coroas, também se declarou otimista com o resultado das vendas: “Acreditamos que esta feira irá demarcar um novo momento, pois o consumidor final busca novidades e estamos na data certa para apresentar os lançamentos”, reiterou. Por fim, o empresário comentou os resultados que esperava obter com a participação no evento: “Acreditamos que a Zero Grau possa ser o momento da renovada de energias que o setor tanto precisa. Uma feira que está na data correta e que abre o calendário de compras da próxima estação”.
Por sinal, a Werner foi uma das grifes responsáveis por ancorar o “Hot Spot”, desfile que usa as principais marcas da Zero Grau para apresentarem as tendências do inverno 2016. Há 45 anos no mercado, a empresa aposta em produtos voltados para uma mulher elegante, contemporânea e antenada e, atualmente, exporta seus calçados para 30 países, como França, Inglaterra, Itália, Alemanha e Grécia. Para a próxima estação, a Werner apostou no handmade brasileiro, nosso grande cartão de visitas pelo mundo afora, através de aplicações de brilho e construções que remetem à renda, mas utilizadas em scarpins. As estampas vão desde a atemporal python às formas geométricas, enquanto modelos clássicos como as ankle boots ganham fivelas e amarrações ultra-chiques.
Outro trabalho que merece destaque é o da Cecconello, por exemplo, que foi um primor. Unindo as aplicações em handmade, a um patchwork de cores perfeito para a temporada que se aproxima, a grife apostou em estampas florais, botas over-the-knees, peep toes poderosíssimos e um jogo de amarrações que deixa a mulher confiante e sensual, sem perder a classe. Por onde se olhava no Serra Park, as engrenagens da economia nacional giravam e, acima de tudo, com criatividade e atitude.
Rateb Mansouri, um dos compradores que veio direto dos Estados Unidos, estava em Gramado pela primeira vez e falou sobre seu apreço por nossos calçados: “Eu amo a produção brasileira e a feira gerou novos fornecedores e compras para mim”. Kelly Lehner, representante da Klub Nico, também da terra do Tio Sam, explica que encara a valorização do dólar como um motivo impulsionador para os negócios com o Brasil: “Eu gosto muito de trabalhar com os calçados brasileiros e a desvalorização do real me ajuda bastante a efetuar compras mais baratas. Mas é importante lembrar também que o produto daqui merece ser apresentado ao mundo em qualquer momento, independente da situação financeira em que o país vive”, destacou.
Outro atrativo para esse grande número de importadores foi a diversidade de produtos expostos pela Zero Grau. Além da qualidade já citada acima, o evento conseguiu cobrir todos os segmentos da indústria de calçados e acessórios, desde coleções infantis ao que há de mais novo para os mercados masculino e feminino, incluindo estandes especializados em peças plus size.
Diretora de mercado da Merkator, Roberta Pletsch, que também participou da rodada de palestras do evento, o “Papo Legal”, comentou sobre a abrangência de produtos na Zero Grau e fez suas apostas de tendências para a estação: “Acho o máximo que as franjas vão continuar com tudo no outono/inverno. Também vi muitas botas mais compridas, bem elegantes, já que essa é uma estação é mais chique para mulher”, comentou. Roberta ainda analisou uma das principais tendências internacionais que marcou forte presença na feira: “Eles estão transportando as obras de arte para os sapatos. Então, podemos notar muitas formas geométricas que, ao identificarmos em um calçado, remete ao que observamos em museus mundo afora, o que acho muito bacana”.
Kelvin Nuñez, da Tonu Import, da República Dominicana, estava presente ao evento pela primeira vez e também mantinha as expectativas mais positivas possíveis. “Estou vendo a feira como uma grande oportunidade para o mercado de exportação. Pretendo adquirir produtos com qualidade e variedade”, destacou. Enquanto isso, o lusitano Manuel Ferreira fez eco aos desejos e observações de Rateb: “Minha empresa atua em 17 países, com cerca de 81 fornecedores. Ou seja, estamos à espera de que a Zero Grau nos surpreenda de forma positiva”.
Claro, não foram apenas os compradores internacionais que conseguiram atender seus pedidos durante a Zero Grau. O mercado interno brasileiro também representou grande movimento e lucro pela feira, como exemplifica Dinara Ferreira, da Rebel, de Joinville/SC: “Acredito que consiga adquirir todo o meu estoque para o próximo inverno aqui. Vou voltar para casa com a compra de pelo menos 4.000 pares, e estamos priorizando botas e scarpins. Está tudo muito bonito”, elogiou.
Já Luís Diogo, da Tacha Magazine, de São Bernardo do Campo/SP, abasteceu o estoque de suas quatro lojas para os meses de fevereiro, março e abril do próximo ano. “A Zero Grau é realizada em um bom momento, por nos dar exatamente o preview para o próximo inverno”, explicou, reforçando as constatações de Frederico Pletsch e comentando que pretendia levar cerca de 600 pares para cada um de seus estabelecimentos.
A roda da economia girando meio à Zero Grau
O lojista Fabio Watte, da Zarif Calçados, de Francisco Beltrão/PR, é um dos compradores nacionais que também soube aproveitar o bom preço dos produtos no evento, mostrando que nem só os lojistas internacionais ganharam com a realização do evento: “Os valores dos calçados e acessórios estão muito bons, e o expositor também está mais acessível para realizar ajustes, de forma que não fique tão caro para quem compra, e nem tão barato para quem vende”, ressaltou. Já o estreante Carlos Alberto Pimenta, da Charme.com, de Mucambo/CE, não poderia ter feito uma estreia melhor nas feiras nacionais: “Realizei já algumas compras de produtos femininos, que é o que vendemos em nossas quatro lojas. Estou gostando muito da feira, que é bem grande, movimentada e com ótimas ofertas, sem contar com os belos visuais que a cidade de Gramado proporciona. Com certeza quero vir mais vezes para cá”, contou animado.
Diversidade de compradores na Zero Grau
Sobre as tendências que vimos na feira, observamos o boho, onipresente na estação. A coleção da Valentina, por exemplo, apostou no handmade nas peças que ganham aplicações de paetês, texturas em tricô e crochê nos desenhos de arabescos, além de muito brilho, mesclado a materiais como cordas e trançados. As modelagens vão desde a clássica anabela às ankle boots.
Entre os expositores, além da felicidade de reaquecerem as vendas, reinava o clima de orgulho sobre os produtos desenvolvidos. Um exemplo é a designer Claudia Martinez, que já fabricou calçados, bolsas e acessórios para grandes marcas brasileiras como Animale, Farm, Abrand, Mara Mac e Redley e investe em uma carreira solo. A gaúcha de Porto Alegre tem sua marca própria by Claudia Martinez, e se diferencia pela exclusividade e sofisticação com destaque para looks e acessórios fabricados com Python. Seu estilo é reconhecido pela qualidade e bom gosto identificados em cada detalhe dos calçados que produz como já constatamos diversas vezes. Cláudia aposta sempre em produtos com materiais exclusivos, como forma de diversificar a marca e atrair uma gama maior de consumidores. Outra matéria prima utilizada pela designer é o “mestiço”. Trata-se de um couro de cabra de fino toque e leveza. E mais: couro de animais exóticos como arraia, crocodilo, tilápia, pirarucu e canela de avestruz.
As vendas foram tão positivas que Júnior Veríssimo, diretor de produto da Via Scarpa, confessa que foi pego de surpresa: “Foi muito satisfatório, com um retorno além da média do que estávamos esperando. Saímos daqui com uma perspectiva melhor de mercado”, declarou com otimismo.
Enquanto isso, o presidente da Usaflex, Juersi Lauck, também se uniu ao movimento dos expositores que conseguiram melhorar as perspectivas para o próximo ano: “Posso dizer que me surpreendeu o movimento da feira, porque estamos passando por uma recessão no país, mas a visitação foi muito positiva. Estou muito contente com a evolução do evento”. A marca aposta no trio tecnologia e divide a temporada em três segmentos: o Dark romance, com inspiração na era vitoriana, repleta de scarpins e botas ajustadas à perna; o Classic mood, que bebe na fonte do vintage com modelagens tradicionais e alguns detalhes florais; e o Esporte luxo, que embarca na onda do sem gênero, alinhado ao sportwear.
Depois de anos cobrindo a Zero Grau e testemunhando o crescimento da feira e de sua importância para a indústria calçadista nacional, nos enche de alegria ver o trabalho realizado por Frederico Pletsch se consolidando mais do que nunca e alçando novos vôos para o mercado externo. E, como ele relatou, apesar de a edição ter se provado um sucesso, os desafios encarados só provam o tamanho da dedicação e do esforço de todos os envolvidos: “Muitas empresas ou fábricas estão decidindo aqui se pretendem ou não continuar. Por enquanto, a notícia é que todos pretendem seguir em frente e que o mercado deu uma aquecida, ainda mais nesse período em que atravessamos uma crise. E digo, com tranquilidade, que estamos vendendo bastante. No setor dos sapatos, estamos dando uma partida muito boa para 2016”. E que venha o próximo ano. Em tempo: Frederico tem o sonho de realizar uma feira made in Brazil em Portugal.
A Zero Grau contou ainda com o Spot Fashion, desfile que atraiu dezenas de compradores ávidos para conhecer na passarela as tendências para o Inverno 2016. Contou com a participação do projeto Making Shoes , do Sindicato das Indústrias de Calçados, Componente para Calçados de Três Coroas. As marcas âncoras dos desfiles foram Werner, Valentina, Divalesi e Bebecê. Também integraram o fashion show as marcas Rubra, Borboleta Flor, Vanittá, Levine, Rio Couture e Monferraro. Confira alguns dos destaques apresentados:
Artigos relacionados