Zero Grau: Em papo repleto de conteúdo, Bruno Astuto reforça a importância do branding e fala de moda, glamour e calçados


O evento deu o start para a 8ª edição da feira referência no setor de calçados e acessórios promovida pela Merkator Feira e Eventos, no Serra Park, em Gramado (RS). O jornalista ainda falou sobre a potência da indústria da região: “As empresas do Sul do país saem sai na frente pela qualidade, rigor e disciplina. Ao mesmo tempo, espero ver cada vez mais a ousadia nas peças. Quero muita comunicação. As marcas precisam investir bastante no branding, contando mais a suas histórias e com campanhas mais plurais”

Quando a história e a informação sobre moda, glamour e calçados se unem à experiência e vivência, o resultado acaba sendo conteúdo de primeira. Foi o que conferimos na noite de domingo, no auditório do hotel Serra Azul, em Gramado (RS), durante a palestra do jornalista Bruno Astuto mediada pela criadora deste site, Heloisa Tolipan, que deu o start à 8ª edição da Zero Grau, feira referência no setor de calçados e acessórios promovida pela Merkator Feira e Eventos, que conta nesta edição com 1.200 marcas e cerca de 300 estandes que contemplam toda a dimensão deste projeto. Além de mergulhar na importância da indústria calçadista no Brasil e no mundo, Bruno Astuto ressaltou a vital questão de se reinventar visando desenvolvimentos de coleções ainda mais inovadoras que evoquem a pluralidade de público alvo. Durante a conversa, ele incentivou, ainda, as marcas a focarem na identidade e no branding para torná-las únicas e inesquecíveis. “A indústria de calçados do Sul do país sai na frente pela qualidade, rigor e disciplina na fabricação. Ao mesmo tempo, espero ver cada vez mais a ousadia nas peças que chegam às lojas. Quero muita comunicação. As marcas precisam investir bastante no branding, contando mais a suas histórias e com campanhas mais plurais”, afirmou o jornalista. Um dos muitos comentários de sabedoria e muita pesquisa que foram corroborados com a resposta positiva do público que acompanhou a palestra composto por players das indústrias calçadistas e compradores de Norte a Sul do país e um número recorde de representantes internacionais.

Bruno Astuto levou o público a mergulhar pela história da moda no Papo Legal, através de uma conversa descontraída com Heloisa Tolipan (Foto: Andressa Lima)

Leia: Zero Grau: feira referência no setor de calçados e acessórios terá participação recorde de expositores e muitas inovações

Bruno Astuto deu um show de informação no Papo Legal, resultado de sua incrível trajetória de estudos ligados à moda. O jornalista já foi professor de francês, história e português e ainda é autor de livros como ‘Somos Todos Iguais’, escrito em homenagem a sua irmã, Emi, quando dirigia uma instituição para crianças de síndrome de Down. Ele também foi curador de uma exposição sobre Maria Antonieta que acabou virando livro. É autor também da biografia de Catarina de Médicis, que abriu a série “Mulheres Coroadas”. Para completar, lançou recentemente o ‘In The Spirit of Rio que ganhou o mundo ao ser editado pela consagrada Assouline. Proporcionando ao público um mergulho na história do calçado, Bruno passeou pelo tempo ressaltando o que há de mais interessante sobre a moda e o glamour. Vem conferir!

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Heloisa Tolipan: Vamos iniciar nossa simbiose entre história, moda e glamour através de um mergulho na história do calçado com mulheres que atravessaram o tempo e ainda hoje são lembradas por mudarem a moda?

Bruno Astuto: A moda calçadista vem da aristocracia, principalmente, francesa. Luis XIV, o Rei Sol, utilizava um sapato de salto vermelho para diferenciá-lo dos demais súditos da corte. Maria Antonieta, por exemplo, não repetia nenhum par de sapato e não era a única que fazia isto. Nesta época, o calçado bombava, diferentemente do século seguinte, o XIX, quando passou a ficar mais escondido por conta dos vestidos rodados. O protagonismo voltou somente nos anos 20 quando as melindrosas passaram a usar saias mais curtas. Foi neste momento que a canela passou a ser a parte mais sexy do corpo feminino. Na sequência, as mulheres começaram a usar modelos mais altos como os da Carmen Miranda.

HT: Sapatos e acessórios sempre foram objeto de desejo. O exemplo disto pode ser observado em uma das séries de maior audiência da TV, ‘Sex and the City’. As personagens Carrie, Miranda, Samantha e Charlotte ditaram moda e ainda transformaram sapatos de marcas como Manolo Blahnik e Jimmy Choo, que a personagem de Sarah Jessica Parker desfilava, em grandes ícones. Isto incentivou as mulheres ao redor do mundo a olhar para estas peças como complementos do look. Como se deu esta transformação que ocorreu na forma de vestimenta no final do século XX?

BA: Tudo mudou. Os designers passaram a enxergar Hollywood e as suas celebridades como aliadas do comércio de sapato. Manolo e Louboutin já tinham um peso no setor, mas, desde então, se tornaram uma febre. Esta série colocou os designers de sapatos em um patamar completamente diferente, ganhando outra projeção.

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HT: Agora vamos falar de Brasil e se a gente voltar no tempo sabe que com a chegada da Corte Portuguesa, os brasileiros passaram a “se calçar”.Bruno pode nos contar sobre o brasileiro e sua paixão por sapatos….

BA: Na época da chegada da Corte Portuguesa, em 1808, o calçado era sinal de status. Ao ganhar a sua carta de alforria, os escravos corriam para comprar o primeiro sapato.

HT: Antes mesmo da sociedade impulsionar esta nova forma de consumir moda, voltada para um público sem gênero, Bruno Astuto já usava bolsas femininas, tendo uma coleção maravilhosa. Como nasceu esta paixão por bolsas?

BA: Eu era imenso. Emagreci 50 quilos, mas antes disto ficava pensando como chamar a atenção das pessoas. A roupa do momento não faria ninguém me notar, por isso busquei ser exótico. Amo bolsas e passei a colecioná-las em diferentes modelos, como em formatos de sapos e entre outros. Cheguei a ter 500 peças em casa. Doei de Chanel a outros exemplares comprados por paixão para uma organização de ajuda a travestis. Todas amaram.

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HT: A Zero Grau, com seus lançamentos Outono-Inverno, conquistou uma chancela de ser palco de calçados e acessórios, atraindo compradores de Norte a Sul do país e uma gama enorme de representantes internacionais. Bruno, como você vê o ‘made in Brazil’ ao redor do mundo?

BA: A qualidade do nosso sapato é excepcional, o que nos leva a ganhar uma predominância no mercado estrangeiro.

HT: Qual é o maior empecilho para este mercado autoral em tempos de crise?

BA: Em época de bonança, as pessoas costumam ousar mais e trabalhar os códigos brasileiros. Isto leva os gringos a ficarem fascinados pelo nosso trabalho, por ser tão diferente. No entanto, em períodos de crise, as pessoas não querem errar e acabam copiando coleções do exterior, o que é errado porque perde o interesse do comprador internacional.

HT: De qualquer forma, o Brasil exporta o melhor da nossa indústria calçadista. Temos cases de sucesso que levaram nossos sapatos aos tapetes vermelhos dos Estados Unidos e da Europa. Vimos e vemos celebridades de todas as áreas usando nossas peças. Lá em 2002, Constança Basto teve seus sapatos de luxo usados por Nicole Kidman, Britney Spears, Cameron Diaz, Charlize Theron entre outros. Alexandre Birman conquistou as americanas e europeias e, atualmente, é um exemplo de investidor no mercado internacional levando o branding do sapato feito no Sul do Brasil. O que histórias de sucesso como esta revelam?

BA: Constança foi a primeira que conseguiu levar esta brasilidade. Hoje, Alexandre Birman faz um sucesso incrível. Existe um investimento muito forte no storytelling e na identidade da marca. Ele conseguiu uma abrangência internacional por ser ousado, fazendo festas inacreditáveis e criando um modelo eterno, como a sandália Clarita. Além disso, ainda temos nesta leva a Havaianas e a Melissa. São peças inesquecíveis e que vendem mundo afora.

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HT: Dellal, filha da brasileira Andrea Dellal, é o nome por trás de uma das grifes de acessórios mais desejadas do planeta, Charlotte Olympia. Por que o sucesso é tão grande?

BA: Ela criou a sua própria identidade ao colocar sempre uma teia de aranha na parte de trás dos sapatos. Além disto, tudo na marca tem alguma história para contar. Quem está abrindo uma loja para unicamente ganhar dinheiro não vai sobreviver. A concorrência está enorme! É necessário criar uma atmosfera lúdica, com um ambiente no qual as pessoas gostem de fotografar.

HT: Sendo assim, qual o conselho para todos que estão aqui hoje?

BA: Na verdade, a marca precisa criar um lifestyle, por isso é necessário investir em branding e uma história para cada coleção e, até mesmo, da identidade de toda a empresa. O público precisa conhecer quem está por trás do produto. É muito importante também desenvolver peças exclusivamente para os internautas para que o consumidor seja educado a passar por todas as plataformas de vendas. É necessário incentivar a customização e a colab com criadores. É fundamental instigar o contato com o cliente. Exatamente por isto sou a favor de marcar eventos com pessoas relevantes regionalmente que vão convidar amigas para participar de encontros, além de comprar. Existe mais tendência do que referência. As pessoas não estudam ou lêem, sendo incapazes de olhar para um modelo e dizer de onde surgiu.

HT: O que você tem a comentar sobre a potência das indústrias calçadistas do nosso Sul do país?

BA: A indústria sulista sai na frente pela qualidade, rigor e disciplina. Ao mesmo tempo, espero ver cada vez mais a ousadia nas peças. Quero muita comunicação. As marcas precisam investir bastante no branding, contando mais a suas histórias e as campanhas sejam mais plurais.

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HT: Entramos na 4ª Revolução Industrial no setor têxtil e de confecção. Qual a chancela que devemos imprimir nesse futuro?

BA: Temos que nos preparar muito. A última revolução que aconteceu de verdade foi nos anos 60. Naquela época, as pessoas diminuíram os comprimentos das peças, como saias e tamanho das calças. Dessa vez, a mudança está na fibra. Vi um óculos de borra de café e tênis que possui uma biofermentação de alga, sem nenhum envolvimento de plásticos na composição. Pode parecer um papo de ficção científica, mas não é. Isto já faz parte do nosso cotidiano. Além disso, os tecidos serão ainda mais tecnológicos.

HT: Vamos falar de tendências. Hoje os novos acessórios estão voltados para a liberdade de expressão e a versatilidade no styling de forma que todos se sintam livres para ousar. Os tênis são usados com uma pegada anos 90, retrô, casual e athletic, claro. Essa onda veio para ficar?

BA: Por mais incrível que possa parecer, os sneakers ganharam destaque na época da quebra da bolsa de Nova York, em 2008. Naquele momento, muitos jovens perderam os seus empregos e acabaram retornando às casas de seus pais, no subúrbio, por falta de dinheiro. A partir disso, começaram a aderir aos estilos típicos dos pais americanos. O tempo passou e esta juventude amadureceu e também se tornou pai de família. Vamos a um exemplo: rappers como Jay Z e Kanye West que, atualmente, lançam moda diariamente com uma releitura deste sneakers. O modelo despretensioso e confortável acabou gerando um choque de cultura enorme ao integrar looks de luxo em desfiles das semanas de moda de Paris como foi o caso da Chanel com tênis que custavam 10.000 euros. Com a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciáveis dos Estados Unidos, as mulheres foram às ruas em diversas manifestações clamando por liberdade e empoderamento. A partir disto, elas começaram a se apropriar do daddy look, trazendo mais a alfaiataria e, claro, o tênis para compor o visual. Assim, mais uma vez foi para as ruas o modelo que está dominando o mundo inteiro. O sucesso é tão grande que o modelo é um dos principais responsáveis pelo saldo positivo de marcas ao redor do mundo e no Brasil também. Além disso, o mercado do it tênis cresceu 10% no último ano e movimenta US$ 3,5 bilhões. A Gucci, por exemplo, vem expandindo o seu poderio graças a este calçado, porque é um modelo que fala principalmente com as novas gerações.

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HT: Quais as inspirações em sapatos e acessórios para o Outono-Inverno 2019?

BA: A alfaiataria continua com tudo a partir do movimento da marca das mulheres, que foi realizado nos Estados Unidos. São peças que dão mais empoderamento para o gênero feminino. Acredito que as it bags vão voltar nesta próxima temporada, já que os celulares que estão sendo fabricados não cabem mais no bolso. Na verdade, todos os modelos que facilitarem o uso do celular, como alças transversais, entrarão com força. Cada peça tem uma história e um porquê.

HT: Como as marcas devem se adaptar para abraçar a pluralidade do mundo atual como os transgêneros, ageless, agender e millennials?

BA: As empresas tentam chamar a atenção da geração millennials, por exemplo, através da cor rosa, por ser a tonalidade que os representa já que passou a ser um símbolo de protesto por serem pessoas com uma liberdade maior de pensamento. Foi a cor da marcha do movimento das mulheres nos EUA, por exemplo. Por causa disto, colocam tudo nesta paleta de cores. Mas isto não adianta. A loja precisa ter um elemento de interesse, porque é uma maneira menos custosa de criar uma mídia espontânea para o empreendimento.

Boa parte do que foi abordado no Papo Legal  poderá ser conferido hoje, segunda-feira, durante o desfile Spot Fashion, promovido pela Zero Grau, que apresentará as principais tendências do mercado. A feira, dessa forma, se insere nesta união entre as passarelas e a reflexão sobre os comportamentos que estão ganhando as ruas. A Zero Grau conta com o apoio do Sindicato da Indústria de Calçados de Estância Velha, Sindicato da Indústria de Calçados de Ivoti, Sindicato da Indústria de Calçados de Igrejinha, Sindicato da Indústria de Calçados de Novo Hamburgo, Sindicato da Indústria de Calçados de Parobé, Sindicato da Indústria de Calçados de Sapiranga e Sindicato da Indústria de Calçados, Componentes para Calçados de Três Coroas.