Zé Pedro e Johnny Luxo lançam livro artístico que representa a resistência em tempos sombrios

Foto de capa (Foto: Adriano Damas/ Assistente: Pedro Lins/ Styling: Eduardo Dugois/ Figurino: Ellus/ Estudio Galpao 833)

A ordem é ir além dos limites de etnia, gênero, orientação sexual e religião. Inclusivo e democrático, o livro José & João chega às livrarias carregando a arte em sua mais pura essência. Com fotos que celebram a moda, o universo da montação e grandes personalidades, o exemplar conta com o protagonismo dos DJs badalados e fashionistas de marca maior Zé Pedro e Johnny Luxo. Em ensaios para lá de avant garde, os dois funcionaram como uma tela em branco na qual stylists, maquiadores e fotógrafos puderam usar e abusar de altas criações. Em tempos caretas e retrógrados, o produto artístico é a síntese da liberdade da verdadeira democracia, sem qualquer compromisso com a moral e os bons costumes. “É um exercício total de livre-arbítrio. Chegamos a pensar que se isto aqui (o Brasil) virar uma ditadura, nós podemos ser presos por conta deste livro. Nunca tive compromisso com relação ao gênero. Ficamos com receio de lançar agora, inclusive, porque em muitas imagens estamos vestidos de mulher. Para mim, isto não é um tabu, mas sei que, neste momento careta, é para muitas pessoas. De qualquer forma, colocamos muito humor para contrabalancear, o que ajuda muito”, adiantou Johnny Luxo. Zé Pedro ainda completou: “Neste momento tão sufocante, este material acabou se tornando um grito e um respiro para os seus leitores. Começou como uma brincadeira entre nós e ganhou esta proporção. Fico emocionado”. A direção de arte é assinada por Eduardo Dugois e as imagens serão expostas nos pavilhões do São Paulo Fashion Week.

Avec Elegance, 2018 (Foto: Adriano Damas/ Styling: Flavia Pommianosky E Davi Ramos/ Make Up: Daniel Hernandez/ Estudio Galpao 833)

Tudo começou no ano passado. Zé Pedro é um dos principais nomes da noite paulistana, protagonista, entre outras tantas coisas, da festa Avec Elegance, uma das mais bombadas da cidade. Foi através de um convite, que Johnny Luxo acabou entrando nesta história. Os dois passaram a tocar juntos e, para promover os eventos, Johnny sugeriu produzir uma sessão de fotos artística. Toda sexta-feira o público tinha a oportunidade de apreciar uma imagem diferenciada. “Ali nascia uma dupla que, apesar dos contrastes visuais nítidos, desafiava o previsto, virando notícia a cada semana com as postagens dos flyers nas redes sociais”, explicou Zé Pedro. O conteúdo acabou agradando e a ideia de transformar aquele projeto em um livro acabou nascendo. A tímida proposta acabou se tornando realidade quando Paulo Borges sugeriu a exibição das fotos no São Paulo Fashion Week. “Foi neste momento que vimos a oportunidade de lançar. Aquela era a hora. No entanto, foi um trabalho de força tarefa porque tínhamos cerca de três meses para fazer 80 fotos. Com isso, tinha dias que passávamos a manhã, a tarde e a noite em ensaios diversos com diferentes fotógrafos. Foi uma entrega muito grande”, relembrou Eduardo Dugois, diretor artístico do projeto.

Carmem Mayrink Veiga , 2018 (Foto: Adriano Damas/ Styling: Marcio Banfi/ Make Up: Dindi Hojah / Figurino: Guilherme Guimaraes/ Estudio Galpao 833)

Zé Pedro e Johnny Luxo criaram e recriaram diversas identidade nas páginas do livro, para dar lugar a diversas personalidades. Cada um dos 80 colaboradores teve a oportunidade de idealizar diferentes formas e investir em ousados personagens. “Conseguimos unir pessoas que jamais ficariam juntas. Fizemos grandes loucuras. Cada equipe investia nas suas ousadias, tendo a liberdade para imaginar o que quisessem”, comentou Eduardo. De Leigh Bowery, Robert Smith, Klaus Nomi, Boy George e Perlla a Betty Lago, Carmen Mayrink Veiga e Anna Piagi, o impossível se tornou realidade neste exemplar. “Passávamos as noites em nosso grupo de WhatsApp, delirando com as imagens que poderíamos realizar, com os figurinos que poderíamos produzir, com fotógrafos, stylists e maquiadores que poderiam sonhar junto com a gente”, contou Zé Pedro.

Piaggi , 2018 (Foto: Fernando Thomaz/ Styling: Marcel Maia/ Make Up: Dindi Hojah/ Estudio Galpao 833)

Dessa forma, o corpo dos dois ícones servia de base para imprimir diversas criações artísticas, seja ganhando a forma de uma pessoa ou apenas fazendo referência a um momento do passado. “Sempre dávamos carta branca para os colaboradores, queríamos que eles usassem e abusassem de nós. Quando eles mandavam as propostas, também tínhamos a liberdade de opinar. Só não topamos quando sugeriram uma nudez artística, simplesmente por não sentirmos que aquele era o propósito e também a nossa vontade”, salientou Johnny. De acordo com Eduardo, somente duas fotos foram descartadas devido o seu conteúdo. Na imagens, Zé e Johnny estavam vestidos de índios, mas a equipe teve a preocupação da fotografia gerar interpretações errados e não passar a mensagem que queriam. No mais, a liberdade foi total.

Balenciaga Gowns, 2018 (Foto: Gui Paganini/ Styling: Daniel Ueda/ Make Up: Dindi Hojah/ Figurino: Rober Dognani/ Tratamento: Bruno Rezende/ Estudio W/Born)

Foram necessários 40 ensaios fotográficos para originar as 80 imagens editadas nas 120 páginas do exemplar. “Foi um exercício diário de alegria, porque são profissionais que estavam acostumados a lidar com as amarras de uma revista e, dessa vez, podiam criar aquilo que quisessem”, informou Zé Pedro. A partir das particularidades físicas de cada um, foi necessário um extenso trabalho de caracterização. “O Zé sempre foi um DJ performático e explosivo, enquanto o Johnny é uma figura multifacetada e serena. Mesmo com as suas particularidades, o mais incrível foi ter conseguido encontrar dois atores em suas essências. Ambos incorporavam cada personagem que oferecíamos, sem nunca dizer não. Não tinham limites”, comemorou Eduardo.

Haute Couture, 2018 (Foto: Gustavo Hipolito/ Styling: Adelmo Firmino/ Make Up: Guilherme Casagrande/ Figurino: Rober Dognani/ Tratamento: 2lab/ Estudio Galpao 833)

Além do primor do trabalho artístico, o livro funciona como uma quebra total de paradigmas em uma sociedade restritamente engessada. “Sou o mais velho e já atravessei vários momentos sombrios do país, mas nunca pensei que isto pudesse voltar. Principalmente por conta da internet, que permite as pessoas denunciarem qualquer tipo de retrocesso. Mesmo assim, estamos nos sentindo impotentes”, lamentou Zé Pedro. Com isso, o objetivo era esquecer qualquer tipo de amarras e abrir asas para a liberdade de criação. “Atualmente, o que importa são os números de seguidores e quantidade de likes. É claro que tudo tem o seu valor, não dá para desmerecer. Porém não podemos esquecer dos sonhos. As pessoas se preocupam muito com atrair seguidores, mas isto tira um pouco do lúdico. Nós criamos imagens que nunca serão datadas e vão ficar para sempre. Nós queremos deixar o mundo mais alegre, sem pretensão de encantar alguém”, garantiu Eduardo.

Laurel And Hardy 2018 (Foto: Henrique Gendre/ Styling: Marcelo Sommer/ Make Up: Robert Estevao/ Studio W/Born)

Para endossar ainda mais a qualidade do projeto, as fotografias serão expostas no São Paulo Fashion Week a convite do próprio idealizador da semana de moda. A mostra conta com praticamente todas as 80 imagens contidas no livro. “O SPFW irá fazer uma projeção das nossas fotos em painéis gigantescos. Isto foi muito bacana, porque as imagens ganharam um movimento diferenciado. As fotografias vão girando e mudando, preenchendo o local com a força daquilo que criamos”, contou Eduardo. Além disso, também haverá uma mostra com 20 imagens no CEU Jaguaré, em São Paulo, durante os dias 22 e 26 de outubro. O livro pode ser adquirido na Prince Book e será vendido pelo site da editora Lustre em todo o país.

Color Block, 2018 (Foto: Miro/ Styling: Dudu Bertholini/ Make Up: Guilly/ Tratamento: Fujocka Creative Images)