Walter Rodrigues: “Há diálogo entre liberdade de usar, criatividade e identidade. Tudo expressa novo jeito de ser”


Coordenador do Núcleo de Design da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), o designer e pesquisador analisou durante live do Facebook do SebraeRS as inspirações e como o tema “Play” da edição do Inspiramais 2020_I chegou às lojas e já está sendo processado pelos consumidores de moda, calçados, acessórios e móveis

O “Play” chegou às lojas e já está sendo processado pelos consumidores de moda! O que era inspiração já se traduz em coleções abrangendo toda a cadeia dos setores de moda, calçadista e moveleiro. E você, leitor, pode conferir esta constatação na live que está a um clique da sua mão no Facebook do SebraeRS realizada pelo coordenador do Núcleo de Design da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), Walter Rodrigues, sobre os olhares, inspirações e referências que estamos observando nas ruas. “Já vemos muitos laranjas, turquesas e cru nos produtos. Muitas modelagens com o espírito da Reconfiguração, muitas estampas que são a confirmação do Referências Aleatórias. Há muitas (muitas mesmo) estampas e texturas se confirmando a partir das inspirações do tema Expressionismo com pinceladas, plissados e pontilhados”, comenta o pesquisador e designer.

Este resultado nós conferimos em primeira mão e contamos tudo para você com muita antecedência ao acompanhar in loco, em janeiro, a edição do Inspiramais 2020_IÚnico Salão de Design e Inovação de Materiais da América Latina. O evento promovido pela Assintecal, Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) e Programa de Internacionalização da Indústria Têxtil e de Moda Brasileira (Texbrasil), Brazilian LeatherBy Brasil Components, Machinery and Chemicals e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) apresentou a designers, empresários, profissionais da moda e players das indústrias de calçados, bolsas, acessórios, vestuário e móveis de Norte a Sul do país e do exterior mais de 1.000 materiais inovadores para as indústrias da América Latina  após um amplo estudo com referências e cartela de cores.

Na live, Walter relembra a palavras-chave e estudos norteados pelo “Play”, que chegam ao mercado como total inovação. E posso contar a vocês que o coordenador, aliás, já está a mil para uma nova edição, cuja palavra-chave do Inspiramais _ 2020 II será “Zen” e acontecerá nos dias 4 e 5 de junho, no Centro de Eventos Pro Magno, em São Paulo.

“A criatividade é o ponto de partida de tudo”. Com essa frase, Walter apresentou ao mercado de moda, incluindo designers, estilistas e formadores de opinião as inspirações e referências para a cadeia da moda, assim como aos players das indústrias que desenvolvem materiais inovadores e tenham a capacidade de transmitir valores essenciais e verdadeiros ao consumidor, algo fundamental para que as empresas obtenham sucesso. “O consumidor é quase que um corpo vazio à procura de uma identidade que será impactada pelo que ele vê, escuta, pelo que as outras pessoas transmitem a ele como informação. Tudo isso caracteriza identidade”, frisou Walter, que, sempre atento às redes sociais, citou a conta de Instagram “New York from Behind” para exemplificar que hoje não temos uma forma de se vestir, mas, sim, uma nova maneira de interpretar as roupas e acessórios.

“O criador dessa conta só fotografa as pessoas de costas e na rua. Tudo que aparece nessa conta tem uma mensagem clara do consumidor. Ele pode brincar como quiser e expressar um novo jeito de ser”, analisou. Walter, aliás, acredita que, cada vez mais o consumidor faz a conexão entre criatividade e identidade. “Quando olhamos para a Commes des Garçons, uma das marcas mais icônicas do cenário da moda, e vemos uma brincadeira de modelos com cabelos de silicone como se fossem o Ken, da Barbie, constatamos o lúdico, essa brincadeira que reflete otimismo diante de um cenário difícil no mundo”.

“O Play remete a um pensamento muito interessante, porque diz respeito à diversão, ao lúdico, quase infantil. É uma busca para se soltar e ser livre de novo para criar. Esse é um ponto importante. Mas o tema carrega também a ideia de apertar o botão e acelerar na criatividade e no fazer diferente. Hoje, não temos uma forma de vestir, mas sim uma nova maneira de interpretar a roupa e os acessórios. Não é apenas um jogo de peças, mas um diálogo entre a liberdade de usar, a criatividade e a identidade. Tudo expressando um novo jeito de ser”, afirmou.

Nessa busca pelo entendimento do novo, está a Metodologia da Pirâmide. Trata-se de assertividade nos negócios. Todo um estudo é elaborado com base na criação da figura de uma pirâmide, que representa o 100% do mercado de moda. Dividida em três estágios que, juntos, vão atender a diferentes necessidades e desejos, facilitando a compreensão de quem é e como se comporta o consumidor – para quem os produtos são criados.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Nos 10%, há o início de todo o processo e o nascimento das ideias, com base em uma pesquisa direcionada que determina os objetivos e sistematiza a inovação e a experimentação. Surgem produtos que se tornam desejos de consumo. E, segundo Walter, quando falamos em 10%, o“Play” existe como uma ideia divertida de interpretar a moda e de iniciar movimentos que se dividem em: Reconfiguração, Referências Aleatórias e Expressionismo.

A Reconfiguração nada mais é do que redescobrir silhuetas, desconstrução, mudança em uma estrutura. Em sua conversa pela internet, Walter citou a artista Cindy Sherman como um exemplo disso. “É uma artista americana especializada em retratar-se em contextos históricos usando seu corpo e rosto como suporte. O interessante é que a Cindy começou a construir imagens que não precisam mais estar em galerias ou museus para serem vistas, basta segui-la em seu perfil”, disse. Já na moda, o exemplo é Rick Owens, que há 24 anos cria produtos carregados de uma estética gótica pós-apocalíptica, construídos a partir de modelagens tradicionais reinterpretadas e configuradas com novos volumes. O divergente, os volumes, cortes enviesados, estruturas de papel e desdobramento são as palavras importantes em reconfiguração”, apontou.

Já as Referências Aleatórias pedem um gestual, intenso e urbano com ponto focal em combinações audaciosas de imagens e cores. Para isso, foram observados os trabalhos do artista americano Jean-Michel Basquiat pela forma com que construiu as imagens com fortes traços. Assim observamos o urbano e a ideia de colagem como forma de aplicação gráfica. Todo o trabalho é feito a partir de camadas de texturas que geram novos princípios de estamparias. O trabalho de colagem reflete todo o movimento de extravagância visual urbana. Esse conceito é aplicado em produtos, imagens de inspirações, campanha e novos designers que surgem nesse movimento. A extravagância aparece também em saltos, a partir desse conceito. Portanto, quando se fala em referência, fala-se de colagem, extravagância visual e urbano para construção de novos produtos.

Este slideshow necessita de JavaScript.

“Se pegarmos como exemplo a Gucci e a Balenciaga, vemos realmente coleções de colagens, referências de estampas, cores, formas, estruturas diferentes. Podemos ver nessa mistura de estampas uma gigantesca colcha de retalhos, e isso vai acontecer no mobiliário, em roupas, calçados… é complexo e interage com todos os setores de moda”, disse Walter. Segundo ele, usar todas as referências aleatórias que nos atingem ao olhar a internet ou sair à rua é fundamental, mas é necessário fazê-lo de forma inteligente e inovadora, utilizando essas informações para criar produtos para consumidores ultraconectados e que estão em busca de experiências únicas. “Hoje há escolha de produtos basicamente feita por smartphones. Com todas as marcas colocando produtos online, o consumidor vai escolher a cor através do plasma do smartphone. Pense nisso na hora de escolher a cartela de cores”, ensinou.

Já no Expressionismo, a obra de Van Gogh serve inspiração no sentido da importância da cor. “Podemos buscar no trabalho dele inspirações para superfícies com pinceladas com plissados pequenos e repetitivos como decodificação. Suas pinceladas marcadas e cores brilhantes e ensolaradas nos fazem pensar em cores vibrantes”. Como usar “pontilhados, pinceladas, formas sinuosas que se completam, novos usos de plissados – em mangas, decotes de blusas…”. As cores dos 10% são turquesa sujo, laranja e cinza areia. O que isso significa na prática? Que para estampas e efeitos de detalhagem é permitido o uso de até 3 semi-tons da cartela dos 10%, mas mantendo o protagonismo das cores originais.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Já os 30% são resultado do estudo do ranking de aceitação dos produtos propostos nos 10%. Com base nesses resultados, a criação é alinhada com os processos industriais, com uma adequação de modelagem e fabricação para uma ficha técnica definitiva, para a busca da matéria-prima mais competitiva, do fornecedor mais confiável do mercado e para a planificação da distribuição. Neste ponto, o produto incorpora a informação de cores, texturas, acabamentos e estampas previstas nas tendências de moda, preparando-se para a grande produção e venda no mercado.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Os 30% tratam de Alquimia, palavra que norteou o Inspiramais 2019_II, e fala da força do material, ou seja, matéria protagonizando e modelagem como um plus. Aqui, tecidos para roupa, couro, laminados, uma infinidade de materiais, já que a moda se democratizou, as tribos acabaram, o que fortalece o consumo autoral sem seguir uma única tendência.

O mote dos novos caminhos é a integração da tecnologia com a natureza: “As modelagens se mantêm como uma estrutura a ser trabalhada e é um bom momento de falar de matéria. O que vai ser modificado, receber processo de alquimia, como vamos interpretar a matéria?”, questionou Walter, dando o caminho das pedras: muito brilho, ultraverniz, metalizados, holográficos – seja em solados, objetos e tecidos -, brilho, glitter, pedrarias, franjas. Esses elementos proporcionam brincar com estruturas disformes com cara de futuro de ficção científica.

“A franja está em um momento interessante. Não é boho, nem hippie chic, é delicada, suntuosa, luxuosa, vem acompanhada de pérolas, cristais, e criam um enorme impacto visual”, disse. “A aposta em materiais ‘estranhos’ vale a pena aqui. Isso causará grande impacto”, afirmou ele, que não restringe as ideias a um único público.

Este slideshow necessita de JavaScript.

 

E, além de belos, os produtos devem ser efetivamente funcionais: aquecer, impermeabilizar, ter múltiplas funções de uso. Os 100 anos da Bauhaus, escola onde o design começou e onde, pela primeira vez, se ouviu sobre forma e função, norteiam o lado dinâmico dessa alquimia. “Nos inspiramos no mobiliário para levar o tubular para a moda, como sustentação para saltos, enfeites, correntes”, explicou Walter. A aposta? Além de tubulares e correntes, o xadrez disruptivo – que não é como o comum, e sim mais sofisticado -, o jacquard 3D, mutações de peças, workwear, cordas, tiras e ganchos.

Este slideshow necessita de JavaScript.

“O zíper, por exemplo, dá a capacidade de uma peça ter capuz, esconder, tirar uma manga, uma barra. É a ideia da mutação a caminho do workwear, da roupa de todo dia, da praticidade”, explicou. A cartela de cor dos 30% tem tons mais escuros. “De metalizados, o mais importante aqui é o prata. Vermelhos, vinhos, berinjela e os tons que vem dela, roxo profundo…”, listou Walter.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Já os 60%, a base da pirâmide, fala sobre resistência. É nessa etapa que abordamos o volume criativo e caminha-se para uma venda com conceito certeiro. Ou seja, na base, o tema já vem sendo estudado há um ano (seis meses em cada segmento superior) e, por isso, é unânime entre os consumidores de moda. Essa etapa, portanto, estabelece produção rápida e lucrativa, tendo em vista a experimentação, nos 10%, e o processamento, nos 30%. As etapas anteriores fornecem ferramentas que facilitam a aceitação e o sucesso comercial dos produtos no mercado. Os 60% tratam de preço e competitividade, sempre observando o consumidor de massa.

Aqui, o comando é exagerar. Over-info, volume e blocos de cores são as apostas certeiras. O over-info aborda o universo do folclore e como pode gerar estampas, bordados e aplicações que sejam exageradas com muita informação tanto de desenho quanto de cor. “O over info traz a ideia de preencher todos os espaços sem deixar lugar para a saudade. Para isso, é bom olhar para as raízes, as culturas interessantes do mundo e, a partir disso, investir em bordados, desenhos e capricho. Nesse universo temos quatro palavras para o desenvolvimento dos produtos: folclore, corações, barroquismo e animal print. A tradição do folclore, com elementos carregados nas culturas latinoamericanas ou europeias e o barroco trazem a força. Em época de regugiados, povos negando a entrada de imigrantes, a ideia de construção de um muro entre EUA e México, há o contraste de cor, que traz otimismo para lidar com toda a guerra do mundo. Quanto mais colorido, mais interessante”, afirmou Walter. Os corações também vêm como elemento de amor e doçura e viram enfeites de estamparia e bordados. “Ele fortalece a ideia de refugiado, imigrante, saudade do seu local de origem, de sua música, comida. Pode vir rebuscado, barroco, leve, como um traço, em estampa diluída em moletom. O coração ressalta a importância do amor no mundo”, disse.

Este slideshow necessita de JavaScript.

O segundo tema dentro dos 60% é o volume. A palavra é proporção dos solados, das fivelas, dos enfeites que podem ser tops, brincos ou amarrações. O tamanho é bem exagerado. Esses exageros acontecem tanto na decoração quanto na moda. O paetê é protagonista em produtos em sua aplicação. A ideia de matelassês amarrados, recortados, costurados criando novos volumes para os tecidos. Dentro do volume temos: proporção, matérias estruturadas, paetê e matelassado para o desenvolvimento de produtos. O teatral é volume. “Solados maiores, mangas bufantes, saias balonê, drapeados dramáticos, peças com mais feitas em tafetás ou tecidos rígidos, pelúcia….”, exemplificou Walter.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Já no bloco de cores, o vermelho é muito importante para as coleções. O bloco de cores também cria contrastes como o vermelho com o azul nos detalhes de fivelas ou puxadores. A composição de cores é uma tônica e pode ser usada pelo menos quatro que conflitem entre si. A mistura dos vermelhos, dos laranjas, dos amarelos e dos azuis aparecem em um único produto. No bloco de cores, as palavras são vermelho, contrastes e total color para dar início à coleção. “Não é como no final dos anos 90. É uma nova forma de repensar a cor, o monocromático da cabeça aos pés. O vermelho é uma das mais importantes da estação, e pode surgir puro e em combinações nostálgicas com preto e branco, azul…”, listou. “A própria novela que está no ar, ‘Verão 90’, tem muito a ver com essa brincadeira de cor… o consumidor vai se sentir impactado e interessado. O colorido é importante agora”. Por isso, a cartela de cores dos 60% tem tons vibrantes e iluminados e o preto e o dourado, que dão fundo à construção de imagem de moda.

Inspiramais é promovido pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Tem patrocínioda Cipatex, Altero, Bertex, York, Advance Têxtil, Sappi Dinaco, Wolfstore, Caimi & Liason, Brisa, Intexco, Tecnoblu, Britânnia Têxtil, Cofrag, Colorgraf, Endutex, Componarte, Branyl, Berlan, Suntex e Aunde Brasil e conta com o apoioda ABEST, ABICAV, Abicalçados, IBGM, Instituto By Brasil (IBB), In-Mod, ABVTEX, Ápice, Abimóvel e Guia JeansWear by Style WF e Francal.