*com Dudu Altoé
Em seu décimo aniversário, o Vitória Moda firma-se no calendário nacional da moda brasileira como um dos maiores e melhores eventos regionais. Reunindo uma rica produção têxtil local, o evento terminou quinta-feira após três dias de negócios e desfiles. Grande parte das marcas participantes buscaram se adequar ao sistema see now, buy now, adotado pela organização. E para esta quinta-feira, tivemos a estréia da marca infantil Balãozinho, seguido de um bloco inteiro de desfiles de grifes de moda praia, as quais Verônica Santolini, Maldivas Beachwear, e Sol de Verão. A moda atingiu o status de protestos com o grupo seguinte. Dua’s, Florest e Hagaef apresentaram desfiles-manifesto, com o intuito de usar o espaço para conscientizar o público presente com as mais diversas causas. Por fim, a célebre Konyk encerrou o line-up com a presença do ator global Felipe Roque e uma coleção inspirada no street style e na arte das ruas, colocando MC’s e grafite na passarela.
BALÃOZINHO
Em sua estréia na passarela do Vitória Moda, a grife infantil Balãozinho pautou sua coleção em uma proposta lúdica, com criações originais desenvolvidas para dar conforto e estilo às crianças. Segundo o coordenador de criação Edeilson Lima, as peças foram produzidas em sua maioria em malhas algodão, microfibras estampadas, moletinho e sarjas com gramaturas leves, bem adequadas para as diferentes idades. “Trabalhamos também a malha ecológica, que é super confortável e traz em sua composição fibras de materiais reciclados, como garrafas PET”, destacou. Para as meninas, destaque para a tendência do ombro a ombro e para a modelagem, mais reta, o que garantiu um perfume moderno às produções. “Nas estampas reinam as flores e as frutas com uma pegada retrô, inserindo listras e poás em algumas peças. Também exploramos a linha étnica. Tudo dentro de uma cartela de cor vibrante com suaves azuis contrastando com tons mais escuros”, revela Edeilson. O espírito entusiasta e a alma surfista toma conta da porção masculina da coleção. Os meninos verão desenhos tropicais, usando elementos praianos como coqueiros, sol e mar, em contraste com uma cartela de cores viva, para combinar com o calor do verão. A modelagem para eles é livre, para permitir os movimentos, a partir de camisas machão ou com gola careca. Bermudas de sarja e microfibra completam o “mood” de um mix de produtos voltada uma tarde à beira da praia. “Os tons mesclas de cinza contrastando com o laranja foram os eleitos para nos ajudar a criar o clima de fim de tarde. Além disso, as variações do azul, verde e degrade integram a nova coleção”, explica o coordenador de criação. A Balãozinho foi fundada em 1980, e desde então segue como referência em moda infantil no Espírito Santo, vestindo desde recém-nascidos até os pré-adolescentes.
VERÔNICA SANTOLINI
A moda praia de Verônica Santolini promove um passeio pelas riquezas e belezas da região sul do Espírito Santo. Os elementos que compõem a arquitetura, como o Casario de Muqui, a agricultura, e o turismo na Serra do Caparaó, foram traduzidos em uma estamparia colorida, de motivos gráficos e geométricos. Os babados, tendência forte da temporada, serviram como ponto de fuga no biquínis e maiôs. Tops ombro a ombro e um ombro só comporam looks elogiados com hotpants de recorte lateral. A cartela de cores parte dos tons terrosos, em uma homenagem às plantações de laranja, banana, abacaxi e café, e chega aos azulados, em uma clara alusão ao litoral local, de águas frias e artesanato de conchas. As saídas de praia ganham um charme loungewear neste temporada, provando que a mulher pode sair das areias e seguir para outro compromisso, como um almoço ou até mesmo um happy hour, sem perder o porte elegante.
MALDIVAS BEACHWEAR
Estreante no Vitória Moda, a Maldivas Beachwear de Maria Luiza Furtado resgata para este Vitória Moda Ano 10 o papel da mulher na evolução da sociedade para dar forma à sua coleção “Milênio”. “Estamos muito felizes em participar do evento, este que é o maior e melhor evento de moda do Espírito Santo. Sempre tivemos vontade de fazer parte para apresentar o nosso DNA”, comemora Maria Luiza. Para o verão de 2018, pois, toda a linha de produtos da marca foi pensada com o objetivo de homenagear as grandes mulheres que moldaram a história da humanidade, inspiração muito bem vinda neste momento de empoderamento feminino. As figuras femininas imponentes da antiguidade, como as das deusas do panteão grego e nórdico, além de Cleópatra, servem de pano de fundo para o tema, assim como as mulheres que ocuparam posições de destaque e poder na realeza européia, chegando até a noção contemporânea de guerreira – a mulher que equilibra em uma dupla jornada a vida familiar com uma carreira profissional. A peça-chave da coleção de verão 2018 é, sem dúvida, o maiô. Maria Luiza Furtado apresenta para temporada as suas mais diferentes versões, em modelagens e recortes variados, como o cavado, o frente única, e o “engana mamãe”. Destaque também para os parôs, último grito da moda praia, que para a “Milênio” vem coordenados de forma elegante com os biquínis e maiôs. A estamparia percorre os motivos étnicos e os florais, seguindo a cartilha do tema.
SOL DE VERÃO
Para o verão 2018, a Sol de Verão aterrissou no Pacífico Sul para buscar inspiração nas paisagens e riquezas culturais das ilhas de Fiji, Samoa, Taiti e Polinésia Francesa. Uma paleta de cores vibrante resgatou as cores cheias de vida da natureza exuberante da região, pinçando elementos como as pérolas negras do Taiti e seus tons furta cor, a flora pitoresca, o amanhecer emoldurado por paisagens paradisíacas, e as areias brancas e águas cristalinas. Os tecidos típicos também serviram de ponto de partida para o mix, este que, produzidos artesanalmente, carregam formas geométricas rústicas, em tons terrosos, preto e branco, promovendo um constraste com as cores da natureza local. O desfile surpreendeu ao trazer peças em lurex, além da escolha inusitada do veludo como material para biquinis e maiôs. Tudo bastante confortável e elegante, evidenciando o perfume beach-chic da coleção.
DUA’S
A marca capixaba Dua’s comemora seus 10 anos de Vitória Moda neste terceiro e último dia de desfiles, com uma apresentação casual-chique que traduz as belezas do mar para o closet feminino. Peças clássicas do vestuário ganham, nesta temporada, releituras modernas, a partir de shapes, estampas e detalhes. O linho vem para imprimir requinte e bom gosto à coleção, a partir de sua cor neutra, que remete à areia das praias. A estamparia recorre aos tons do fundo do mar, da flora e fauna marinha, garantindo, pois, um rico colorido ao mix. As rendas inspiram as redes de pesca, e se fazem presentes nos looks para um toque sofisticado. Porém, nem tudo são flores; a marca trouxe ainda pra a coleção “AhMar” um viés sutil de protesto ao colocar o preto, a transparência e uma estampa que remete às carcaças de peixe como símbolo da degradação ambiental de uma mar revolto. Um convite para um mergulho dentro do tema.
FLOREST
A marca masculina Florest chega neste último dia de Vitória Moda a fim de promover a harmonia e o equilíbrio entre o homem e o ambiente ao seu redor. A coleção “Anfíbios” traz, segundo o estilista Raiony Julião, um sentimento de preservação ecológica, ficado em respeito e consciência. “Focamos nos dois elementos, no homem mar e no homem terra, que é o espírito anfíbio. O homem usufrui desses dois habitats, explorando os recursos naturais no seu dia a dia”, explica. Peças fáceis, para uso no dia a dia, são parte da assinatura surfwear-chique da marca, e compõe facilmente um look t-shirt e bermuda que vai da praia ao happy hour. Uma estética que o homem brasileiro que vive no litoral adotou nos últimos anos. Uma modelagem mais conceitual ocupou os shorts, todos acima dos joelhos, seja em material nobre, seja nos boardshorts impermeáveis – tecidos tecnológicos, como o quadriflex, com elastano, que repelem a água de imediato. O algodão orgânico, parte da cartilha trabalhada pela Florest, mantém o seu reinado absoluto, sendo o foco de uma camisaria com estampas bastante desejáveis.
HAGAEF
A Hagaef, de Maria Nazaré Comério e Bia Comério, é uma autoridade capixaba em confecção, estamparia e private label. Para tanto, a empresa desenvolve há alguns anos coleções exclusivas para apresentar seu conceito no Vitória Moda. Para esta edição de aniversário, Nazaré e Bia causaram furor com um tema forte: “Reféns do Caos”. “Buscamos retratar neste momento o caos que vivemos atualmente, em especial no Espírito Santo. O objetivo é a paz, a liberdade e que os direitos dos homens sejam respeitados”, explica Bia. Nesse sentido, mãe e filha exploraram a coleção em quatro momentos, inspirados pelo desastre de Mariana, pelos protestos, pela greve da Polícia Militar no Estado, e pela paz. A dupla foi fundo atrás da estética militar, com uma modelagem características e uma estamparia afiada, apoiada neste sentimento de insegurança e revolta. Os bordados e a aplicação de tachas foram, ainda, um recurso muito utilizado pela marca, para reforçar a mensagem. Destaque para o casting de modelos nada convencionais, como uma mulher grávida, um homem com o corpo completamente tatuado, e um casal de idosos, que representaram o amor, com um beijo bastante aplaudido ao final do desfile, remetendo a uma imagem no telão do célebre beijo do marinheiro e da enfermeira, na Times Square, simbolizando o fim da Segunda Guerra Mundial. A imagem capturada pelo fotógrafo da revista LIFE, Alfted Eisenstaedt foi capturada no dia 14 de agosto de 1945, no coração de Nova York, em um momento de júbilo pela rendição do Japão.
KONYK
A Konyk foi para as ruas buscas inspiração para o conceito da coleção “Viver é Ver”. O tema explora o sentido de ver, assistir, convidando o consumidor a viver e vestir a proposta de estilo da marca, inspirada na arte de rua e na moda urbana. O street style e a urban arte influenciam shapes e estampas da coleção. O grafite, forma maior de expressão do street art, se faz presente na coleção por meio do trabalho do artista gráfico e grafiteiro Aqi Luciano, convidado a endossar o conceito da coleção. Jeans, símbolo desta edição de aniversário do Vitória Moda, une-se à camiseta para simbolizar a dupla entre muro e grafite. O jeanswear da Konyk, pois, permite a liberdade de movimentos que a vida moderna exige, a partir da mistura de elastano em sua composição, e é apresentado na passarela em sua mais variados beneficiamentos e lavagens – cru, esbranquiçado, puído, rasgado, bordado e silkado -, para explorar suas possibilidades infinitas. O jeans, afinal, se reinventa. A marca apostou, ainda, em uma grande festa de rua com perfume 80’s e 90’s, provando por A mais B que a moda é, sim, cíclica.
PRESENÇA GLOBAL
O ator da TV Globo Felipe Roque foi o astro do casting da Konyk. Felipe, que começou a carreira no teatro aos 13 anos, acumula passagens recentes na telinha, com participações em A Regra do Jogo (2015) e mais recentemente em Malhação: Pro Dia Nascer Feliz (2016-2017). O carioca conta que suas raízes estão mesmo é no teatro, e apresentou-se profissionalmente pela primeira vez em 2013. “Estudo [teatro] desde pequeno. Na escola, aos 11 anos, comecei a fazer teatro, e me apresentei pela primeira vez com 13”, explica. Com dezoito anos completos, entretanto, o ator começou a fazer “bicos” como modelo, para descolar uma grana. Na época, ele estudava engenharia em uma universidade federal, e o teatro ganhou o status de hobby, enquanto a carreira de modelo decolava. Felipe Roque chegou a desfilar para marcas consagradas, como Blue Man, e estrelar campanhas da Limits Rio, até ir para o exterior, quando, no retorno, tudo mudou. ”Morei em Milão durante um ano, e na volta decidi abrir mão da faculdade para abraçar de verdade a profissão de ator”, comenta. Agora, após trilhar uma longa caminhada na profissão que melhor o define, o ator retorna à passarela, desta vez para abrilhantar o desfile da Konyk no Vitória Moda Ano 10. Perguntamos qual afinal é a sua relação com a moda, após essas idas e vindas do teatro. “Eu gosto de moda. Eu gosto muito de alfaiataria, de corte de roupa, mas sou mais básico. Prefiro usar um jeans e uma roupa lisa, principalmente se for usar uma peça estampada para compor”, respondeu. Justo!
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