* Com Marcos Eduardo Altoé
O primeiro dia de Vitória Moda Ano 9 apresentou novidades. Pela primeira vez o evento, uma iniciativa do Sistema Findes, em parceria com o Sesi/Senai e correalização do Sebrae, trouxe jovens designers de moda do Senai Cetiqt de nove estados brasileiros para uma apresentação repleta de referências regionais. Quem brilhou também foram os alunos das faculdades de moda locais, UVV, Faesa e Unesc, em uma rica amostra de talento. As marcas ISLAVIX, Bebel Gama Loungewear, Florest, Saia de Chita, Studio Etá e Surreal Moda e Arte comporam o line-up desta terça-feira, com apresentações que chamaram a atenção dos presentes. Com o tema “Natural, original, tropical – mergulhando em nossas raízes”, o evento segue até quinta-feira.
NOVOS TALENTOS
Uma turma afiada de novos talentos nacionais foi convidada a abrir o primeiro dia de desfiles, no dois primeiros blocos. Sob o tema Mundo no Brasil, nove egressos do sistema Senai Cetiqt – André Fortes, Amanda Castro, Jéssica Cerejeira, Natália Menezes, Willame Knowles, Laís Alves, Tiago Prado, Michel Cardoso e Sabrina Bublitz – apresentaram pocket-coleções compostas de três peças cada, como parte do desfile de abertura. Cada um deles vindos de estados diferentes, como Rio de Janeiro, São Paulo, Pará, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Maranhão, Rio Grande do Norte e Paraíba. O objetivo foi mostrar a qualidade e a criatividade dos profissionais de moda formados em diversas regiões pela instituição, fortalecendo assim a competitividade da indústria brasileira.
Em seguida, o segundo bloco de desfiles mostrou produções pessoais e cheias de significado, assinadas os egressos dos cursos de design de moda de três faculdades capixabas, UVV, Faesa e Unesc. O grupo apresentou um savoir-faire em construção, com boas referências estéticas e culturais que foram desde a arquitetura urbana ao folclore indígena. Uma clara amostra do potencial criativo da juventude capixaba.
LIBERDADE ESTÉTICA
As marcas Studio Etá, Florest e Saia de Chita deram seguimento ao evento, em um diverso e multicultural terceiro bloco de apresentações. Etá, que em tupi guarani representa a multiplicidade, dá nome ao estúdio que abriga ideias e marcas distintas. Com foco no que eles chamam de “liberdade estética”, as peças da Sim Sr., de Flávio Ribeiro, e Flor de Maria, de Naná Muriel, são o resultado de um exercício conceitual de modelagem e estamparia traduzido em vestidos, saias e coletes de caimento impecável. Os acessórios não ficaram atrás, desenvolvidos pela marca Santinha, ao lado do sapatos Fridíssima. As bolsas e mochilas, com assinatura forte da designer Liliana Sanches, foram produzidas manualmente uma a uma, em um movimento que eles definem como “contrário à indústria da moda”.
MANIFESTO
A moda masculina da Florest seguiu o ritmo apresentando sua coleção inspirada no desastre ambiental de Mariana/MG e na lama pesada do Rio Doce. Com um perfume sustentável, a grife de Rafael Siqueira mostrou um mix de produtos usáveis, como t-shirts, regatas e bermudas. Tudo desenhado a partir de uma silhueta ultra confortável. Destaque para o algodão orgânico de toque macio que pontuou algumas peças, e também a malha desenvolvida a partir de garrafas PET recicladas, um diferencial da cartilha ecológica seguida à risca pela label capixaba.
DOÇURA INFINITA
O sertão do Nordeste deu o tom da coleção desfilada pela Saia de Chita. Um trabalho manual em tecidos exclusivos que busca, segundo a marca, “aguçar os sentidos”. Elementos da estética do cangaço de Lampião e Maria Bonita, como couro, rendas e bordados, foram bastante explorados em uma cartela diversa e multicolorida, uma assinatura da marca. A modelagem propôs uma silhueta que flerta com o romantismo lúdico, com vestidos soltos e fluidos com mangas ombro-a-ombro, em um casting que deslizou na passarela ao som do bom e velho forró nordestino.
SEREIAS ABISSAIS
A estreante Bebel Gama fez bonito ao propor 15 looks inspirados no universo marinho. Em uma leitura nada óbvia, a designer capixaba trouxe as ilustrações da fauna e flora marinhas do século XIX para estampar seus caftãs, kimonos e vestidos. O beach-chic que hoje se funde ao loungewear foi traduzido em peças fluidas, confeccionadas em seda, chifon e jérsei. A cartela de cores sóbria privilegiou o que a designer chama de “estampas de fundo escuro”, nas quais os motivos coloridos estão aplicados em superfícies sombrias, em preto e azul; uma referência ao mar profundo, onde a luz solar se faz pouco presente. Para acompanhar o mood, modelos de cabelos molhadas e maquiagem sutil encarnaram mulheres poderosas, verdadeiras sereias urbanas, que usam e abusam de sua sensualidade sem medo de ser feliz. As hotpants que acompanharam as produções fizeram o público presente à sala suspirar.
PONTO DE EQUILÍBRIO
A ISLAVIX não segue tendências. Sustenta que por meio dos seus produtos a sua clientela deve encontrar seu estilo próprio, com conforto e de acordo com seu estado de espírito. A marca de Juliana Kwak apresentou, pois, uma coleção street de pura personalidade no último bloco de desfiles desta terça, primeiro dia de Vitória Moda. A empresária propõe com a coleção “(Des)Equilibre-se!” a busca pela harmonia no geometrismo e nas cores sóbrias. Tecidos leves, eleitos para permitir o movimento e deixar a criatividade fluir, fazem um contraponto à seriedade de tecidos pesados, de corte mais reto. Com elementos de significado esotérico, como o símbolo delta, o triângulo grego, representação matemática da mudança e da fluizes, Kwak acredita que as roupas são meios de comunicação. “Entendo que o processo de se vestir vai muito além do que colocar uma roupa, é vestir um sentimento, uma palavra, uma impressão, uma reação”, completa.
MODA E ARTE
Para comemorar 30 anos, a Surreal questiona os padrões de beleza intangíveis em sua coleção de verão 2017. A marca de Martha Colodetti e Vera Lúcia Colodetti colocou convidados especiais na passarela, influenciadores que fogem da dita “normalidade”. Em uma nova leitura do movimento por trás da Pop Art, os designers Amanda Magalhães e Édipo Bispo saem, assim, em defesa da singularidade em um mundo de massificação estética. Sob o nome “Identidade”, a coleção foi fundo no shape esportivo, último grito da moda jovem e do street style, com uma tradução contemporânea de estampas cartunescas. A cartela de cores vivas equilibra rosas e amarelos vibrantes com branco e caramelo, ao passo que os tecidos foram escolhidos pela textura, como o veludo, muito presente. Os acessórios casaram perfeitamente com a proposta. Máxi-brincos de acrílico assinados pelo designer Caio Mota evocaram referências em um exercício certeiro, trazendo representações de pílulas, bocas, quadris e seios femininos. Um deboche inteligente e escancarado de uma geração à beira do abismo.
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