O clima esquentou na capital do Espírito Santo, QG de HT desde o começo desta semana por causa da oitava edição do Vitória Moda. E não falamos apenas dos termômetros. A passarela da semana fashion da ilhota ficou mais colorida, ousada, plural e fez jus ao calendário que estamos fechando: o de Verão 2016. E quando citamos ousadia e diversidade é porque sentimos o faro de que vinha surpresa na catwalk antes mesmo de adentrar o salão de desfiles do Centro de Convenções de Vitória. Na fila de entrada, muitas camisas quadriculadas, chapéus de cowboy, botas e fivelas mil. O que a turma country ali fazia? Resposta dada minutos depois, quando a Buphallos, primeira grife da quarta-feira (08), surgiu com um clima que mais parecia a Festa do Peão de Barretos. E a gente achou uma diversão pura: a moda country se abriu ao novo e surgiu com jeans e brim lavados (alguns looks só no tecido), franjas e acessórios extravagantes. Nas estampas, de animais a oncinhas, os cowboys e as cowgirls da Buphallos podia estar vestidas para um passeio diurno no campo, com um quê de boho, ou um rodeio noturno com bordados, pedrarias, correntes e estampas para dar e vender. Aqui, cabe uma rápida análise de que essa moda, feita para um nicho específico, não fechou as janelas para os ventos novos onde o democracia e a pluralidade devem falar mais alto. Isso sem citar a abertura de uma semana de moda com uma grife de moda country. Experiência válida para mostrar que o nosso discurso sobre regionalidades e diversidade não é da boca para fora, e sim realidade latente pelo país.
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PKP Premium
Do outro lado da moeda, veio a PKPremium, marca que tem o jeans como carro chefe e uma postura comercial bem clara. Mas esqueça o tecido democrático batido, daquele jeito que estamos acostumados a ver por aí para vendagem por puro fechamento de caixa. Sob direção criativa de Arinda Ribeiro, a marca viajou nos anos 50, 60 e 70 para pegar pela mão as groupies e trazer até a gente, em pleno ano de 2015. Explicamos: as groupies eram as hoje conhecidas como maria palhetas, as serelepes da época do rock and roll que faziam a alegria (e que alegria!) dos astros das guitarras com suas sainhas, cinturas marcadinhas e macacões que afloravam a sensualidade. “A gente viajou nessas décadas para buscar inspiração e trazer modelagens mais sensuais. As groupies foram nossa base, já que a coleção traduz a necessidade da mulher em determinada estação”, explicou Arinda. E o verão da mulher que veste PKPremium veio cheio da cintura alta, das calças capri e cigarrete, das franjas e bodies. Mas não só de passado se fez a passarela. Além dessa roupagem das groupies anos 2000, a grife apostou em peças com emana – tecnologia que ajuda a combater a celulite, que fez muito sucesso na última coleção, merecendo repeteco. A PK não deixou de trazer sua marca registrada, que é o dourado, como arremate dos looks. Todas essas peças – em variação de comprimento e cortes – viraram realidade a partir de jeans em diferentes lavagens, aplicações de pedrarias, com tachas aqui e couro acolá. Adorei os dois modelos de shorts desfilados. Fariam a cabeça de qualquer carioca. E ainda tem gente que tem coragem de falar que vai usar um “jeans básico” na próxima estação…
Açúcar Moreno
A Açúcar Moreno, estreante na semana de moda de Vitória, foi, sem dúvidas, umas das primeiras grifes dessa temporada a apostar em um alto verão uniforme, com tendências que vão tomar as ruas facilmente e com a cara perfeita: colorido, natural, leve e alegre. Ao som de Vanessa da Mata – que HT ama! – cantando “não me deixe só, eu tenho medo do escuro, tenho medo do inseguro…”, a grife de Hinglyd e Heglay Fonseca transformou a passarela em um verdadeiro jardim com looks todos carregados de uma estampa floral, exclusiva, bem folk tropical. As cores pedidas? Todas vivas com verde-água (fauna total bem representada), azul turqueza, amarelos mil e off white. Os looks eram de uma fluidez bem pensada, com a cara do verão livre, leve e solto. Na estação hot, a Açúcar Moreno aposta em rendas, cinturas marcadas (mas de forma leve), laços, babados duplicados e croppeds, todos bem com cara de natureza e dias de dolce far niente. Como a dupla de estilistas mesmo gostou de colocar, a coleção “tem cheirinho de natureza e cor de sol”. Falta quanto tempo para janeiro chegar mesmo, hein?
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Saia de Chita
Chapéu na cabeça, brasilidade aflorada na veia, e malemolência tupiniquim, por favor, porque com um set que foi de Chico Buarque a Gal Costa, a Saia de Chita quis mostrar que verão gostoso e cheio de tendência quem curte mesmo é o brasileiro. E sabe o motivo? Por que aqui a gente sabe fazer handmade com qualidade de coisas que foram – segundo lendas – inventadas lá fora. O crochê é uma dessas coisas que os artesãos brasileiros criam tão bem mas não se sabe ao certo sua origem. Há quem diga que Crochê, na verdade, era o nome de um velho feiticeiro que se apaixonou por uma moça chamada Chita, protagonistas de uma história digna de folhetim de Gilberto Braga. Pois bem. Viajando nessa trama lendária, a grife usou e abusou de crochês e chitas em croppeds e barras de vestidos; apostando como as outras em um verão da cintura alta, das flores e dos bordados. Aqui, também outras tendências latentes no Vitória Moda: comprimento midi e verde, que te quero verde na paleta de cores. A Saia de Chita soube mesclar duas nuances super bacanas atualmente: o nosso caráter regional, de mão na massa, de exclusividade, de valorização da arte, com a demanda mercadológica das tendências.
Riviera
Uma mistura que coordenada com pulso firme se tornou uma surpresa agradável, gostosa de se ver. Foi o que sentimentos com o desfile “Free Spirit” da Riviera Store neste Vitória Moda. A grife apostou em um verão folk, meio cigano, bohemian, com looks que lembram a turma paz e amor dos festivais setentinha. Nessa inspiração, acrescente penduricalhos mil, aviamentos, estampas e uma cartela de cores que foi do verde ao rosa berry. O resultado desse festival de informações foi um desfile com unidade, de tendências e que caiu perfeitamente para a proposta do alto verão. Boa parte dos looks eram fluidos, como macacões, vestidos, e marcações na cintura. A sensualidade da estação ficou por conta de hot pant, fendas e dos ombros à mostra – super gipsy. As estampas exclusivas ornaram perfeitamente com cordas, rendas e franjas naturais – sobrou espaço para sustentabilidade -, que arrematavam os 15 looks.
Marcí Vago
O final do segundo dia de desfiles da semana de moda capixaba ficou por conta de Marcí Vago – que em ascensão, deixou o box de três desfiles para dar rasante solo como headliner da noite. E, assim como no último ano, compartilhou conosco experiências de seus saracoteios pelo país. O dessa vez foi não muito longe do Espírito Santo. Marcí trouxe influências do Instituto Inhotim, localizado em Minas Gerais, o maior centro de arte contemporânea do país com um acervo de mais de 500 obras. Batizando a coleção de “Recanto de inspiração”, a estilista traduziu em looks, a arte e a botânica. Marcí apostou em renda guipure, laise, e estampas de flores em 3D – alô, Chanel! -, divididos em peças com cintura marcada, comprimento midi em saias e croppeds. HT amou a estamparia – seu sempre ponto alto – que fez uma ode à favor da natureza: beija-flores, costela-de-adão, estrelícias e folhagens. Ao som de “Esquadros” de Adriana Calcanhotto, Marcí vestiu uma mulher sofisticada, mas que não hesita em usar um decote ousado ou deixar as costas à mostra. Nos jardins de Inhotim, coube desde o linho até o tie-dye, do preto ao laranja. O desfile acompanhou no passo marcado a pluralidade que a arte contemporânea da cidade mostra.
HT continua de olho em tudo que acontece no Vitória Moda 2015. Nesta quinta-feira (09), desfilam no Centro de Convenções da capital:
18h00 – Verônica Santolini / Florest / Sol de Verão
19h30 – Hagaef / Turquesa / Surreal
21h00 – Konyk
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