Vitória Moda 2015 #Day 1: do primeiro voo solo de Marcelo Zantti com sofisticação e minimalismo ao remember anos 70 da Amabilis


O start da semana de moda capixaba ainda teve os novos talentos da cena com gratas surpresas, como Alyne Angeli e Mayari Jubini

Não só do poderio do eixo Rio-São Paulo vive a moda brasileira. Isso é tácito. Rodando pelas fashion weeks do nosso país estamos constatando que a cena está carregada de regionalismo. Com louvor e em seus diversos sentidos. Seja em um tipo de tecido usado, na influência de um estilista, ou na paleta de cores apresentada, cada destino está provando por a+b que o importante é imprimir uma chancela com identidade e para um público plural. Cada região a seu modo, de forma com que a moda cumpra seu principal papel: ser antropológica, refletir a sociedade, seus costumes e gostos. E o destino em que HT se encontra atualmente só está reafirmando tudo isso. Em Vitória, a capital do Espírito Santo, estamos conferindo a oitava edição do Vitória Moda, onde as mentes pensantes por trás das grifes apresentadas, por mais que possam buscar inspirações no túnel do tempo ou bem longe da ilhota, não fogem da proposta da mulher mezzo litorânea mezzo urbana que aqui reside, nem do clima praia-o-ano-todo que a capital impõe – felizmente – aos que aqui residem ou visitam. Paralelamente, um salão de negócios faz a roda da indústria da moda girar. E muito. Compradores de todos os estados baixaram em Vitória ávidos por uma moda criativa e acessível. Sim, os tempos são de um autoral que tenha flexibilidade para este Brasil instável. Vamos ao que conferimos na catwalk.

Novos Talentos – Alyne Angeli

E o primeira dia – dos três – de desfiles começou com gratas surpresas. Assistimos prodígios de moda que foram selecionados por uma curadoria do evento para abrirem a fashion week em um bloco batizado “Novos Talentos”. Cada um deles apresentou três looks com propostas ímpares. O bonde foi puxado por Alyne Angeli, que ao som de “Sereia”, do mestre do pop Lulu Santos, jogou a rede no mar. E com força. Entre crochês, couros de cangaço made in Nordeste, ela foi mergulhar no mítico embelezar das sereias nas pedras do oceano, nas belezas do litoral – afinal, estamos na Ilha do Sol! – e na rotina árduas dos pescadores, já que colônia por aqui não falta. Tudo isso com um handmade de ótima qualidade, bem acabado, desde croppeds até bolsas. A mulher de Alyne Angeli ficou sensual, mesmo com esse caráter mais rústico das cores terrosas, do couro e do artesanal. Como cantava Lulu Santos enquanto o desfile acontecia, foi puro “delírio tropical” e  “fantasia”.

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Leia também: Da partitura cinematográfica da Camerata do SESI a uma viagem fashion com Claudia Matarazzo: o começo do Vitória Moda 2015

Novos Talentos – Isabella Vasconcelos

Se a França tem Versalhes, Vitória tem o Palácio Anchieta, babies. E foi lá, na sede do executivo estadual, que Isabella Vasconcelos foi buscar sua inspiração. Mas bem longe de secretariados, decretos e reuniões de cúpula. A estilista quis debutar na catwalk apresentando uma mulher sensual, forte e feminina. Onde o Palácio entra nessa história? A mulher de Isabella acabou por pegar emprestado toda a suntuosidade dos lustres e dos grandes salões. Por isso, a passarela foi invadida por bordados mil, cetim e seda, distribuídos em uma paleta sóbria como o Anchieta: dourado, nude e bege. Um dos vestidos, por exemplo, tinha a base armada como se fosse um próprio lustre que ilumina as tomadas de decisão que regem o Espírito Santo. Uma estreia, digamos, ilustre, como a proposta demandava.

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Novos Talentos – Ligia de Oliveira

O desfile de Ligia de Oliveira lembrou o clássico de Fafá de Belém: “vermelho, vermelhaço,vermelhusco, vermelhante, vermelhão”. A jovem talento foi beber da fonte da diretora de arte japonesa Eiko Ishioka – já falecida. Assim como os trabalhos da oriental, Ligia resolveu abusar (e aqui a mão pesou) no surreal. Por isso, os looks vieram drapeados, todos em vermelho e com geometria depondo a favor da terra do sol nascente. Os tecidos, todos planos, revezaram entre crepe welch, musseline (aqui a transparência e os momentos de leveza do desfile) e elástano. O que se viu uma espécie de releitura fashion do que Eiko fazia: era tudo muito grande, tudo muito chocante, bem fora da curva.

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Novos Talentos – Mayari Jubini

A passarela de Mayari Jubini podia estar em qualquer lugar da Via Láctea, menos na Terra. E falamos isso com uma salva de palmas. O desfile apresentou uma proposta bem de enfática: sair do consenso, do que temos como lógico, como razão. Seguindo os ensinamentos do diretor de cinema David Lynch, ela apresentou uma coleção na “Cidade dos Sonhos”, e nos levou com ela para uma fuga da realidade, numa espécie de escapismo (olha HT aflorando o lado literário). “Partindo do universo do diretor, a arte deve libertar-se das exigências da lógica e da razão cotidiana, procurando expressar o mundo do inconsciente dos sonhos”, afirma. Como isso virou moda? Fácil, fácil. Ela usou cortes modernos, apostou em tiras, neoprene, e jacquard, sem perder a fluidez de suas peças – não esqueçamos que estamos sonhando – com seda e cetim. Uma grata surpresa!

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Novos Talentos – Monique Marcelli

Fechando a leva de prodígios, Monique Marcelli também nos fez viajar, mas para um destino mais palpável que o anterior. Carimbamos nosso passaporte rumo ao Oriente Médio e lá encontramos três modelos que valorizam a silhueta da mulher. Seja na saia, na calça ou no vestido, Marcelli apostou em uma paleta clássica, à lá clima árido: branco, bege e preto. Ao final da apresentação de sua coleção batizada Requinte Oriental, surgiu chorando para cumprimentar os presentes. Obviamente de emoção, já que a coleção cumpriu com sua proposta de apresentar um requinte do outro lado do Meridiano de Greenwich.

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Leia também: Roda de negócios, salão de economia criativa e mais: os diferenciais do Vitória Moda

Chris Trajano

Ok, HT sabe que vinho combina com inverno. Mas Chris Trajano conseguiu nos convencer que um bom tinto no verão também cai bem. Buscando inspiração na famosa uva Pinot Noir, uma joia rara da França, ela traduziu a matéria-prima da bebida de Bacco em moda: looks minimalistas e tons suaves. Com um desfile dividido em seis setores, ela apresentou opções para a mulher se vestir tanto de dia, quanto pela noite. Macaquinhos com manga, croppeds, transparência, fendas, estampas geométricas, couro, tule e paetês se alternaram na coleção. Nas cores, ela aposta em P&B, vermelho, e degradês indo para o rosado. Faltou unidade, mas sobrou tendência.

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Clutch

“Quem sou eu?”. Se HT saísse pelos corredores do Vitória Moda questionando as mulheres se elas já fizeram essa pergunta em frente ao espelho, dificilmente ouviria um não. E foi pensando nesse eu interior, que a Clutch resolveu apresentar uma coleção sobre o tempo, sobre a transformação da mulher de menina para mulher. Em suas roupas, cabiam as duas: a moleca e a madura. Para tanto, apresentou cintura alta (alô 60’s), mas compensou com um cropped, desfilou com alfaiataria, mas ousou nos decotes e nas fendas. E com um arremate todo especial: as peças, seja na barra de uma calça ou de um vestido, receberam estampas feitas à mão (super lúdicas).

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Dua’s

O verão by Dua’s se assemelha a tudo que já passamos em décadas passadas. Uma espécie de supra sumo dos anos 20 aos 70 com todas as suas tendências. Sua mulher vai curtir a estação hot com tecidos leves, renda refinada e um mix de texturas. Aliás, essa palavra melhor pode escrever o desfile da marca: mix. Teve de um tudo: babados nas mangas e nas barras, fendas mil, saias em cintura alta, muitas estampas étnicas, calças pantalona, e muita sensualidade com peças vazadas – e seios vários à mostra por baixo das transparências. Ou seja, na Dua’s você pode ser cosmopolita e vintage ao mesmo tempo.

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Marcelo Zantti

Aqui, uma grata surpresa. Os burburinhos de que faria bonito ecoavam no backstage e se confirmaram quando Marcelo Zantti estreou na passarela do Vitória Moda de forma solo. Abrindo seu ateliê em tempos de mercado receoso, ele preferiu fechar os olhos para a crise quando criou seus modelos. E fez bem. Para não fugir do período nebuloso, manteve sua paleta de cores em tons sóbrios. Com recortes bem acabados, sólidos, retos, e uma alfaiataria atemporal – daquelas que você usa hoje ou daqui cinco anos da mesma forma – ele fugiu totalmente do que é modinha, das tendências manjadas. Sua inspiração? as linhas ora retas, ora curvas ou assimétrica de nomes como os arquitetos Zaha Hadid e Frank O. Gehry. Vestindo uma mulher sofisticada, Marcelo Zantti valorizou o corpo com cinturas marcadas, decotes sutis, transparências, franjas, bordados – de forma menos exagerada – e renda. Nos tecidos, tule, renda, couro, seda e crepes. HT entendeu por que ele foi a revelação do último ano pela Carvalho Bambu e agora voa só. Nesse caso, meus caros, queremos ver quem ousa falar que uma andorinha só não faz verão. “Busco um visual urbano e atemporal, mas com um quê de romantismo velado. Investi em uma mistura de épocas como as sias e vestidos rodados dos anos 50, bem lady like, na silhueta reta dos anos 40 e no exagero e volume dos anos 80, tendo a pantacourt como referência”, disse. Palmas para ele.

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Amabilis

O headliner da noite ficou por conta de um desfile caracterizado pela unidade construída pelo duo Robson Santos e L. Guidoni. A Amabilis, para se adequar ao mercado – olha a roda da economia no encalço da moda novamente -, resolveu vestir uma mulher mais sensual sem perder a elegância que a marca pede, de forma com que seus looks venham a ser mais democráticos e atinjam uma parcela maior de compradoras. Daí, eles partiram para uma viagem rumo aos anos 70 e embarcaram na era disco e no estilo boho. Tocaram ABBA no Vitória Moda, e nos apresentaram um desfilo corretíssimo com tecidos plenos, fluidos e alfaiataria. Com argolas nas peças, croppeds, coletes, vestidos, macaquinhos, a grife não deixou em nenhum momento a mulher ficar sem um look solto como pede o verão. Tudo tinha movimento.  E na cartela de cores, fora as estampas florais – exclusivas -, apostaram em muitos tons terrosos, laranja, corais, e off white. Uma grata viagem no tempo das pantalonas e da calça flare.

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HT continua de olho em tudo que acontece no Vitória Moda 2015. Nesta quarta-feira (08), desfilam no Centro de Convenções da capital:

18h00 – Buphallos / Negra Linda / PKPremium

19h30 – Açúcar Moreno / Saia de Chita / Riviera

21h00 – Marcí