*Por Marcia Disitzer
Ao ingressar na faculdade de Medicina na UFRJ, a dermatologista Mônica Azulay tinha duas certezas: não se especializaria nem em dermatologia nem em cirurgia. Mas a ‘cisma’ de um professor, o dermatologista Antônio Carlos Pereira Júnior (1940-2000), mudou os seus planos. “Em todas as aulas, ele me perguntava sobre o tema do dia. Era tímida, ficava muito tensa”, lembra Mônica. “Para amenizar o estresse durante as suas magníficas palestras, passei a estudar com anterioridade. Assim, comecei a gostar da especialidade que eu imaginava que jamais faria. Ele foi o meu mentor”, emenda ela, emocionada.
Fato é que o dermatologista Antônio Carlos Pereira Júnior, que foi professor titular de dermatologia da UFRJ e membro da Academia Nacional de Medicina, tinha mesmo faro apurado. Aos 25 anos, Mônica, sempre com o incentivo do mestre, fez concurso para professor auxiliar da UFRJ. Passou em primeiro lugar, deixando para trás 17 candidatos à vaga, muitos deles mais experientes do que ela. Alguns anos depois, tornou-se professora associada da UFRJ, com mestrado e doutorado, onde lecionou na graduação e na pós-graduação da instituição por mais 30 anos, atuando também como pesquisadora. Além da carreira acadêmica, abriu seu consultório com apenas 25 anos. “O primeiro foi no Centro”, recorda. Depois, aos 27, a médica juntou-se ao marido, David Azulay, na clínica Azulay de Dermatologia, na Barra da Tijuca.
Por 30 anos, Mônica conciliou a atividade acadêmica no Fundão com o consultório, somando a isso o cuidado com os três filhos (Rubem, Leonardo e Vitória, que estuda Medicina). Todo esse vasto conhecimento passa a ser compartilhado a partir de hoje: Mônica estreia coluna semanal no Site Heloisa Tolipan, na qual escreverá sobre dermatologia cosmética e clínica. “Lamento o fato de a dermatologia ter ficado estigmatizada na imprensa como uma especialidade puramente estética. Eu atuo nas duas vertentes: alguns pacientes me conhecem por ser clínica e cirúrgica (ela é conhecida por ter ‘mão leve’); outros, pela área cosmética”.
E é por navegar com maestria nessas duas correntes que Mônica pode ser considerada uma profissional completa. Enquanto o seu mestrado foi sobre sarcoma de Kaposi em pacientes com Aids, doença que estuda desde a década de 80, na tese de doutorado, em 2003, ela se debruçou sobre um assunto pouco abordado naquela época. “Escrevi sobre a atuação da vitamina C tópica no fotoenvelhecimento. Foi a primeira pesquisa que mostrou de forma objetiva a eficácia”, destaca a médica, que é citada até hoje como referência no assunto.
Em sua memória, o que não faltam são histórias de pacientes (e muitos já estão na terceira geração!) agradecidos. Ela se lembra de um caso no comecinho de sua carreira. Certa vez, chegou ao consultório um advogado muito bem-vestido relatando lesões pelo corpo. “Percebi que ele me olhou com desconfiança por eu ser muito nova”, conta. O tal advogado já tinha sido consultado por dermatologistas em Minas Gerais e em São Paulo, mas não ficava bom. Ninguém descobria a origem. Quando Mônica o examinou se certificou do que já imaginara no primeiro contato, ao perceber a lesão que ele exibia no dorso da mão: era uma patologia rara, chamada Doença de Lyme, transmitida por um tipo de carrapato. O paciente foi submetido a exames, que deram positivo, e em duas semanas estava curado. “A mulher dele, que também é médica, me ligou comovida. Caso avançasse, esta doença poderia ter consequências reumatológicas, neurológicas e cadiológicas seriíssimas”.
O progresso da dermatologia cosmética, que atrai multidões a clínicas e consultórios em busca da juventude eterna, é elogiado pela médica. Segundo Mônica, o maior progresso nas últimas duas décadas foi o uso da toxina botulínica (conhecida como botox) e do ácido hialurônico. “A toxina botulínica impulsionou a dermatologia e é um tratamento muito estudado, que tem várias publicações sérias e pode ser usado com várias finalidades. Mas é bom frisar que a aplicação de toxina botulínica e o preenchimento com ácido hialurônico devem ser feitos com responsabilidade. No caso do ácido hialurônico, existem concentrações diferentes com indicações próprias para cada região da face”, alerta. Para evitar surpresas desagradáveis, Mônica recomenda cuidados antes do início de qualquer tratamento. “Verifique se o profissional tem o título de especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia”, indica.
Além de ser a rainha dos tratamentos faciais, Mônica também realiza em seu consultório procedimentos corporais que tratam problemas que costumam atormentar a vida das mulheres, como estria, celulite e flacidez. “Mas sou realista. O médico, por lidar com a vida humana, tem que ser muito ético. Não existe milagre. E se um paciente deseja fazer algum procedimento facial que considero exagerado, eu digo logo: ‘Não é para fazer agora’. Desta maneira, é possível manter a elegância dentro de qualquer faixa etária. E o mais importante: é necessário enxergar o paciente como um todo”.
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