A relação da designer de joias Tereza Xavier com a cultura indígena vem de longa data. Desde jovem, a carioca tem se mostrado uma verdadeira aprendiz e colaboradora dos índios brasileiros, realizando diversas viagens e excursões à Floresta Amazônica, onde criou laços tanto afetivos quanto profissionais com diversas tribos. Assim que se lançou no mercado da joalheria, há mais de 20 anos, seu cartão de visitas foi o de unir a positividade do Rio de Janeiro com elementos de adereços desenvolvidos pelos índios, criando peças únicas que carregam um DNA brasileiríssimo e exclusivo. Logo, quando a alquimista do design de joias idealizou há 20 dias a campanha “Um Natal na Floresta”, imbuída do espírito natalino de fazer o bem e, mais uma vez, mostrar sua solidariedade aos índios, ela contou com uma legião de amigos que a apoiaram em uma ajuda inédita na história da etnia dos Xavantes.
Tudo começou quando Tereza compareceu ao I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, em Palmas. Lá, ela conheceu dois jovens indígenas da tribo dos Xavantes, de Barra do Graças, no Mato Grosso, e começou a se interessar pela cultura dessa etnia. “Conversando com eles, fiquei sabendo das crianças da aldeia do desejo de terem uma ajuda. Então, pensei em conseguir isso através da campanha. Na cultura indígena não há a celebração do Natal como a nossa, mas todos os índios brasileiros sempre participaram de alguma uma missão. Portanto, respeitam nossas crenças e nós respeitamos a deles”, comenta Tereza.
A partir daí, ela entrou em contato com o cacique e os órgãos responsáveis pela tribo, mobilizou sua vasta agenda de contatos nas redes sociais e, em incríveis 12 dias, conseguiu arrecadar 800 kg de presentes para os Xavantes. A cereja do bolo veio quando a Gol e a Gollog toparam levar todo o carregamento de forma gratuita até a aldeia. “Eles colocaram um plantão especial para os funcionários nos receberem na hora que nós chegássemos. Foi algo inacreditável, feito com muito amor e que prova a força da solidariedade”, relata, emocionada.
Abaixo, Tereza Xavier detalha para HT como foi a reação dos índios Xavantes ao receberam os presentes, os desafios de criar uma campanha inédita em apenas 12 dias, seus próximos planos para o ano de 2016 e qual o verdadeiro sentido do Natal para ela. Vem com gente:
HT: Como surgiu a ideia para a campanha “Um Natal na floresta”?
TX: Durante a minha visita ao I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas conheci os meninos Xavantes, dois garotos de 17 anos que se tornaram meus amigos. Conversando com eles, fiquei sabendo das necessidades das crianças da aldeia. Então, pensei em formar uma corrente através da campanha. Na cosmologia dos indígenas não há Natal, mas todos os índios brasileiros sempre participam de uma missão. Há um duplo respeito pelas ideologias e crenças.
Festa da aldeia dos Xavantes durante a entrega dos presentes da campanha “Um Natal na Floresta”
HT: E como foi desenvolver esse trabalho com um prazo de apenas 12 dias?
TX: Foi uma loucura! Fizemos esse trabalho de mãos dadas com os amigos, apenas pelo chamado das redes sociais. Começaram a chegar presentes como brinquedos, mantas, roupas, giz de cera de coco, papeis biodegradáveis, e os shorts vermelhos que são usados nos rituais deles. Alguns amigos meus, que são novos autores, também doaram livros que eles escreveram e dedicaram aos Xavantes. O Instituto Oldemburg de Desenvolvimento, que também é de uma amiga, me ofereceu uma singela biblioteca infantil, montada com toda a expertise. Tudo foi catalogado e eu ainda acrescentei os livros que já havíamos recebido. Os presentes não paravam de chegar! Também sou muito grata à Gol e à Gol Log, que transportaram 800Kg de presentes em solidariedade ao projeto. A direção da Gol se apaixonou pela ideia de se transformar em um trenó gigante e laranja. Foram todos de uma generosidade absoluta. Saímos daqui no domingo e chegamos no mesmo dia em Goiânia. A direção colocou um plantão especial para os funcionários nos receberem na hora que nós chegássemos. Foi algo inacreditável, feito com muito amor e que prova a força da solidariedade.
HT: Como foi o seu primeiro contato com os índios Xavantes?
TX: Depois que conheci os meninos nos Jogos Indígenas, comecei a entrar em contato com os representantes da aldeia e buscar o cacique. Pedi todas as permissões para podermos disparar a campanha e, assim que autorizaram, começamos. Se tivéssemos mais tempo, teria sido infinitamente maior. Só naquela aldeia são 580 índios! Ainda estou arrecadando doações e organizando um segundo envio de presentes para o Natal.
Índios Xavantes realizam ritual de dança inédito em homenagem à Tereza Xavier, como forma de agradecimento pela campanha “Um Natal na floresta”
HT: Qual a reação da tribo ao receber tantos presentes pela primeira vez em sua história?
TX: Todos os anciãos estavam sentados ao redor da mesade frutas que preparamos, felicíssimos. Sinto que conseguimos, como grupo, manifestar um milagre de Natal na floresta. Os índios agradeceram, falaram “o povo Xavante nunca dançou para ninguém”, mas que iriam dançar em minha homenagem. Eu chorei de tanta emoção! Homens, mulheres e crianças vestiram os shorts vermelhos e colocaram os adereços, todos pintados… Foi apoteótico! Ninguém nunca tinha visto isso: todos dançando em círculo, como mandalas giratórias, e cada passo tinha um significado. Foi uma festa inesquecível. Há anos, eu trabalho com muitas etnias, mas nunca vou esquecer este encontro com os Xavantes.
HT: Quais os próximos planos para a campanha “Um Natal na floresta”?
TX: Ano que vem, voltaremos e continuaremos a campanha com a etnia Xavante, atendendo a mesma tribo e expandindo o trabalho para outras. Estamos começando a organizar também uma pequena Oca Digital, com a qual o cacique está nos ajudando, para termos, além da biblioteca, máquinas de costura, cadeiras de rodas (que alguns precisam), e vários equipamentos. Tudo que pudermos fazer para colaborarmos com eles, sem interferir no dia a dia da tribo, faremos. O mais lindo disso é que o grupo de voluntários está aumentando. Os Aventureiros do Araguaia, por exemplo, grupo de motoqueiros, manifestaram o interesse de nos apoiar. Eles visitam regiões do interior uma ou duas vezes por mês, levando médicos ou dentistas a várias comunidades afastadas, mas nunca haviam feito isso pelos Xavantes e, agora, toparam nos ajudar. Serão praticamente 150 motoqueiros conosco.
Reunião dos índios Xavantes durante a entrega dos presentes da campanha “Um Natal na floresta”
HT: Para você, o que significa o Natal?
TX: O real significado é você acessar, pelo menos nesse período, a consciência cristã. Sair do pessoal e enxergar o global, o seu entorno. Quando você consegue isso, mesmo que minimamente, surge um desejo de compartilhar. O Natal é isso. Eu sou espiritualista, mas nasci católica e considero o Natal uma festa importantíssima, por ser a celebração do nascimento de Jesus, o maior mestre que já pisou nesse planeta.
HT: Como a campanha “Um Natal na floresta” dialoga com a filosofia da marca Tereza Xavier?
TX: A Tereza Xavier tem um amor absoluto pelos povos indígenas, pela arte, cultura e cosmologia. Essa campanha é um reflexo dessa essência e de conexões reais com esse universo. É uma parte da minha interação direta com os índios, um aspecto da minha gratidão a todos os povos indígenas por toda a inspiração que tenho e sempre tive na arte e na cultura deles.
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