O Rio de Janeiro assume o posto de capital da moda brasileira durante essa semana. Desde terça-feira à noite, 25, na festa de abertura, até domingo, 30, a cidade recebe a terceira edição do Veste Rio. Promovido pela Vogue e pelo caderno Ela, do jornal O Globo, e com apoio da Fecomércio, a Federação de Comércio do Estado do Rio de Janeiro, o evento ocupa o Píer Mauá com palestras, Salão de Negócios, outlet e desfiles. Pensado para receber diferentes públicos da cidade e de todo o Brasil, o Veste Rio transcende a proposta fashion e integra ao seu DNA, o mundo dos negócios e do conhecimento durante os cinco dias de evento.
Depois do sucesso das duas últimas edições, em maio e em outubro do ano passado, o Veste Rio precisou migrar para um novo ponto da cidade. Enquanto antes o evento era realizado na Marina da Glória, em um espaço menor, agora, a fashion week carioca ocupa três armazéns do novo Piper Mauá, região da cidade que já virou queridinha dos cariocas e dos turistas. Segundo a diretora geral da Globo Condé-Nast e responsável pelo Veste Rio, Daniela Falcão, a proposta do evento é, de fato, expandir a cada edição. De forma impar e plural, o objetivo é que, no futuro, esta seja a principal semana de moda do calendário carioca. “Eu acho que os eventos de moda são importantes para as grandes cidades, e não importa o formato. Agora, com essa questão do see now buy now, nada impede que o Veste Rio também vire uma semana de moda no futuro. Afinal, este é um evento amplo, moderno e que dialoga com diversos grupos. E mais que isso: é inclusivo, porque, com a programação, toda a cidade consegue interagir com as ações”, disse Daniela Falcão.
Nesta programação diversa, o Veste Rio vai do atacado ao varejo, passando pelos desfiles, palestras e shows. Na quarta-feira, primeiro dia oficial de evento, a manhã e a tarde foram marcadas por uma maratona na passarela carioca. Com a Baía de Guanabara, a ponte Rio-Niterói e o Museu de Amanhã como plano de fundo dos desfiles, 16 marcas apresentaram suas criações na passarela do Veste Rio. De manhã, foi a vez dos Novos Talentos. Com curadoria da Vogue, dez marcas com até cinco anos de estrada desfilaram suas coleções e mostraram o novo fôlego da moda carioca e brasileira. Como explicou a diretora de moda da edição brasileira da Vogue, Barbara Migliori, esta apresentação revelou uma peculiaridade em comum nos novos nomes da moda nacional. “A gente vem acompanhando uma grande movimentação de novos talentos no universo do design e da criação. Então, seguindo alguns critérios, escolhemos dez nomes que representam essa nova proposta. Em comum, eu identifiquei que todas elas seguem um DNA brasileiro muito forte, ainda que cada uma possua sua própria identidade”, apontou Barbara.
Um desses exemplos são os cariocas da The Paradise. Comandada por Thomaz Azulay e Patrick Doering, a grife é símbolo de estampas, cores e alegria na moda brasileira. Na passarela do Veste Rio, a marca apresentou a coleção nº 4, que foi inspirada no imaginário “The Paradise Palace Hotel”. Sem nomear como verão ou inverno, a grife carioca reforçou a identidade solar da marca em um belíssimo desfile que revelou as 17 novas estampas da temporada. Para Thomaz Azulay, o mix de marcas que compuseram os Novos Talentos do Veste Rio representa os próximos passos da moda nacional. “Apostar em novos nomes é algo muito moderno e representa o real futuro para a moda carioca e brasileira. Cada vez mais, quem consome moda está de olho em criações mais exclusivas e novas no cenário fashion. Então, acho que estamos no caminho certo”, disse.
Neste caminho que está sendo trilhado, a moda vem com o velocímetro reduzido e, ao mesmo tempo, incansável. Enquanto hoje, para muitas marcas, o momento seja de correria para atender ao conceito de ‘see now buy now’, para outras, o slow fashion, com um consumo mais consciente e até sustentável é o destaque. E para a The Paradise, é justamente essa segunda opção que vigora. Como explicou Patrick Doering, a jovem marca aind anão possui o dinamismo necessário para a velocidade do ‘see now buy now’. Com um trabalho que valoriza o handmade e a exclusividade, a The Paradise é um exemplo do novo slow fashion. “Estamos trabalhando para uma nova moda. Por enquanto, ainda não conseguimos aderir ao conceito do ‘see now, buy now’ porque, para isso, é preciso ter uma engrenagem muito grande nos bastidores. E isso está muito relacionado, inclusive, ao nosso trabalho slow fashion, todas as peças da The Paradise são cortadas a mão e feitas uma a uma para que tenhamos muita qualidade e que não exploremos o excesso”, explicou Patrick.
Quem também valoriza essa conexão mais intimista muito pautada pela relação com a natureza e o interior pessoal, é André Namilata, da Handred Studio. O designer, que também participou do desfile dos Novos Talentos na quarta-feira de manhã, propõe na atual coleção uma viagem para o seu interior. Para isso, em diálogo com uma proposta natural e sustentável, a marca utiliza apenas tecidos orgânicos, como linho, algodão, seda e viscose em seus modelos. Honrado em fazer parte do composé de dez grifes dos Novos Talentos, André justificou a importância desta experiência para a sua marca e até para a moda carioca. “Ver o sucesso do Veste Rio de perto é fazer parte de um renascimento da cidade como capital da moda. Nós temos uma potência criativa muito forte. Aqui, estamos perto da natureza, da arquitetura e de tudo mais que nos inspira”, argumentou André Namitala.
Além da The Paradise e da Handred Studio, a Vogue elegeu outras oito marcas para apresentarem suas coleções e propostas para o Verão 2018. Foram elas: Ga’u, Augustana, Luisa Farani, Mocha, Modem, Haight Clothing, Wymann e Lucas Barros.
Na parte da tarde, a passarela do Veste Rio foi ocupada por seis grandes marcas brasileiras. No clima Resort, seguindo a proposta do evento, Vix, Água de Coco por Liana Thomaz, Blue Man, Salinas e PatBo desfilaram suas coleções de beachwear, enquanto a Amíssima encantou os convidados com os modelos fresh de verão.
Estreante na passarela com sua linha de moda praia, Patrícia Bonaldi apresentou a terceira coleção da marca. Seguindo a mesma identidade da grife PatBo, seja no streetwear glamouroso ou na moda festa, a estilista manteve o brilho e o maximalismo em suas criações de praia. Segundo Patricia, a coleção representa a extensão do dia-a-dia da cliente da PatBo. “Eu faço roupa para as mulheres que estão em sintonia comigo e, assim como eu, passa por diferentes momentos na vida dela”, explicou a estilista mineira que, para a linha de beachwear, respondeu à pergunta “como a cliente PatBo vai à praia?”. “Não é porque é biquíni que os modelos serão descuidados ou com menos glamour. A marca tem uma preocupação muito grande com a qualidade em todas as linhas, e no beachwear não é diferente. Então, os modelos têm bordado, modelagem impecável e muita qualidade, assim como em um vestido chiquérrimo de festa”, completou.
Paralela a essa maratona de desfiles, o Veste Rio ainda se destaca pelas dezenas de marcas em seu Salão de Negócios. Ocupando dois Armazéns do Píer Mauá, o evento reúne 100 marcas brasileiras que deverão atrair até domingo mais de 400 compradores de todo o país. Por lá, entre alguns grandes nomes, estão Maria Filó, Sacada, Victor Dzenk e Osklen. Dividindo o espaço entre novas e consolidadas marcas, as grifes se revezam entre a prioridade de fechar negócios e a vontade de se fazer presente em um evento com a proporção do Veste Rio. “Para a Osklen, participar de um Salão de Negócios como esse é uma vitrine que dá mais visibilidade à marca, além de uma oportunidade de expandir e conquistar novos mercados. Hoje, nós estamos em todas as capitais do Brasil, mas ainda em expansão por outras cidades”, explicou o diretor de marketing da grife, Nelson Camargo.
Da mesma forma, a Totem também vê no Veste Rio uma oportunidade de expandir os pontos de venda e de reforçar a veia carioca da marca e do próprio evento. Mesmo em tempos de crise, a gerente de atacado da estampada grife do Rio de Janeiro, Daniella Guedes, contou que a expectativa é que, nesta edição, as negociações cresçam em relação à temporada de outubro do ano passado. “Em um espaço como esse, a gente consegue prospectar novos clientes para a marca, além de atender a quem já consome nossas coleções em suas lojas. Em termos de números, a expectativa para essa edição é que a gente atenda cerca de 10% a mais que a última edição, que foi muito boa”, afirmou.
Fora o Salão de Negócios, também há espaço para os descontos no Veste Rio. Com abatimentos que chegam a 70%, o outlet do evento é aberto ao público e, no primeiro dia de funcionamento, já lotou os corredores com compradores em busca de descontos. Por lá, são mais de 40 marcas vendendo modelos de coleções passadas com preços bem mais em conta. Na Farm, por exemplo, todas as peças estão com 50% de desconto no valor da etiqueta. Já Oh! Boy e Sacada, determinados modelos chegam a ter 70% de abatimento na hora da compra. Assim, além de atender ao público final e aos amantes da moda, o Veste Rio também destina as coleções passadas das marcas que, muitas delas, estão vendendo os lançamentos no Salão de Negócios. “Desta forma, conseguimos criar um formato que atende compradores, estilistas, consumistas e interessados no assunto moda”, disse Daniela Falcão, diretora geral da Globo Condé-Nast.
Por falar no público final, outra atividade aberta aos cariocas são as palestras do evento. Até sábado, 30, diversas temáticas serão abordadas no Veste Rio por diferentes conhecedores do assunto. Do sucesso das redes sociais aos desafios de um calendário de mutações, o conhecimento também é destaque na programação plural do evento. Assim, atendendo a diferentes nichos do público que consome moda, seja nas tendências, negócios ou conhecimento, o Veste Rio se consolida no calendário carioca como o principal evento fashion da cidade. Nos bastidores, o clima é só de comemoração. “O Veste Rio é um dos eventos mais bem-sucedidos da Vogue e que, para nós, o que mais dá prazer em organizar. Eu acho que a pluralidade desta semana está muito relacionada aos diferentes públicos que a gente recebe. Tem os que gostam dos desfiles, das palestras, do salão de negócios, do outlet… O Veste Rio tem muitas atividades e é um evento ímpar. Para mim, esse encontro é uma motivação para a moda brasileira em geral, e não mais apenas para a carioca”, analisou a diretora de moda da revista, Barbara Migliori.
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