*Por João Ker
A suntuosidade, a luxúria e a vida regada a excessos de um sultão em Constantinopla. Parece enredo de filme ou delirium tremens de figurinista que concorre à categoria luxo no antigo Concurso de Fantasias do Hotel Glória, no carnaval carioca. É, pode ser. Mas é também a motivação master por trás da nova coleção de verão 2015 criada pelo talentoso Sandro Barros. Mais especificamente, uma sultana que comanda toda a efervescência cultural e dicotômica da enorme extensão territorial do Império Otomano, com roupas inspiradas nos mais luxuosos cartões postais da Turquia, e ainda com aquele toque do requinte da cultura tcheca à tiracolo: os mosaicos do Palácio de Topkaki, as cerâmicas do litoral de Iznik, a escadaria de cristal Baccarat do Palácio Dolmabahçe e seus lustres de Boêmia.
O próprio Sandro é quem explica melhor o contexto que toma conta de seu ateliê nesta próxima temporada: “‘Sultana’ é uma homenagem a Roxelana, uma escrava ucraniana que chegou ao harém na mais baixa posição e, por meio de uma rede de intrigas e um carisma arrebatador, tornou-se a única e oficial esposa – feito inédito até então – do sultão Suleyman, o Magnífico, influenciando sua política, nomeando e demitindo ministros”. Ou seja, a influência feminina de moça é um mix de ascensão social de Xica da Silva com aquele faro político de Cléopatra, supondo-se que “carisma” seja um eufemismo para jogo de cintura. Ou melhor, abaixo da cintura. Perigosa, ela!
A atmosfera exuberante não comparece somente na figura da musa inspiradora, mas também na paleta de cores do designer, que resolveu se permitir a alguns deliciosos exageros, utilizando combinações como verde flúor com preto e rosa dragé com vermelho, além do esperado (mas lindo!) azul Klein com branco. Surgem também peças em gamas como preto, branco, cereja, prata, bege, nude, rosa e jade. Os vestidos vêm ora longos com silhueta ajustada, ora curtos com saias godê e evasê, ganhando aplicações de cristais Preciosa e bordados vivazes, além de estampas de tapeçaria, animais ou ikats. “É um amálgama da riqueza cultural de todo o Império Otomano que até hoje encontramos nas lojas do Grand Bazaar de Istambul”, comenta Sandro, todo empolgado.
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