*Com Leonardo Rocha e Marcos Eduardo Altoé
A transgressão proposta nesta edição da SPFWTRANSN42 foi, de fato, vista no quarto dia de desfiles. Em um espetáculo que ocorreu no Teatro São Pedro, Ronaldo Fraga escalou 29 transexuais para desfilarem suas criações que tinham muito mais uma função social e de expressão do que fashionista em si. Fora isso, a beachwear também foi destaque nesta quarta-feira. Na loja-conceito da Artefacto, Liana Thomaz apresentou sua nova coleção da Água de Coco para um público estrelado, com a presença de Claudia Leitte e Wanessa. Quem também desfilou a moda praia na SPFWTRANSN42 foi Amir Slama e suas silhuetas alongadas. Completando a line-up, Valdemar Iódice combinou a cultura indiana com a vibe punk no desfile da Iódice, Vitorino Campos mostrou a dobradinha conceitual de amor e sexo em sua grife homônima e Oskar Metsavaht fechou o dia apresentando a coleção de alto-verão da Osklen. Desce mais e veja o que rolou!
Iódice
Inspirado em sua terra-natal, a Índia, Valdemar Iódice lançou hoje a coleção que tem o universo do país e a energia do punk como conceitos criativos. No desfile, que rolou na fábrica da própria grife no bairro da Leopoldina e que deu início ao quarto dia de SPFWTRANSN42, o estilista abusou dos veludos, sedas e apliques para traduzir a sua ideia. Como ele explicou, as peças refletem a experiência desta “mulher Iódice” em solo indiano. “Essa personagem sai em viagem para o Oriente e, conforme vai viajando, ela vai se transformando. Então, a coleção contempla referências da Índia e do punk. Ou seja, temos metais, apliques e bordados manuais”, detalhou Valdemar que acredita na força das aplicações em looks contemporâneos. “Os apliques são um complemento e uma evolução do trabalho. Eu entendo que uma inspiração não tem mão única. Ela vai se transformando. Mas, ainda assim, apesar das mudanças, a gente não perdeu a identidade e a feminilidade das mulheres que vestem Iódice”, afirmou.
Se para esta estação os apliques e tachas são as estrelas da coleção de Valdemar Iódice, em temporadas passadas, as estampas da grife ocupavam esse lugar. Segundo o estilista, essa modernização ocorreu de forma natural e visando um conceito mais autoral. “A Iódice sempre teve uma tradição de estampas geométricas, desde a época dos primeiros desfiles. E a gente continua com padronagens na coleção. Mas agora, nós queremos um trabalho muito mais autoral e pessoal. Eu não acho que seja a estampa pela estampa, precisa ter um diferencial”, argumentou.
Como as tachas são destaques, as sandálias da Iódice prometem ser a febre. Extravagantes, elegantes e exclusiva, os modelos são considerados por Valdemar o ponto alto da criação Índia-punk. “São sandália de veludo com apliques de tachas de diferentes tamanhos. Para mim, é o ‘the best’ e o sucesso da SPFWTRANSN42”, avaliou o estilista que usou o modelo que tem salto flat em todas as produções do desfile de ontem. Com uma cara nova e uma pegada mais contemporânea, Valdemar disse que não acredita em uma nova identidade da marca. Para ele, é uma transformação do conceito da grife que já ocorre de forma lenta e gradual há algumas temporadas. “A gente já vem evoluindo há três coleções. Nos últimos desfiles, aprimoramos essa ideia do novo conceito. Eu não considero que seja uma evolução. Para mim, é uma necessidade de acompanhar o mercado da moda que, cada vez mais, precisa apresentar conteúdo, inovação e desejo”, analisou.
Na onda do “see now buy now”, Valdemar Iódice contou que sua grife participará do conceito de mercado que é uma das engrenagens desta edição da semana de moda. “Nós vamos disponibilizar a coleção primeiro na loja da Rua Oscar Freire e depois pelo portal virtual. As clientes que comprarem online, receberão as peças até janeiro em casa. Dessa forma, elas terão a coleção dois meses antes de ser lançadas nas lojas da marca. É quase um ‘see now buy now’”, contou o estilista que acredita no sucesso do sistema. “Eu acho que é uma evolução e que deve acontecer. Porém, é um momento de transição e está todo mundo confuso. Eu, por exemplo, não tive tempo de produzir a coleção para que fosse vendida de forma imediata”, concluiu.
Na passarela
Valdemar Iódice e Simone Nunes conseguiram traduzir o étnico global para o mercado de luxo. Com uma coleção super sofisticada, inspirada no casamento inusitado entre a Índia e o movimento punk, o designer mostrou a que veio com bordados, shapes, estampas e brilhos que remetem a Bollywood, capital do cinema indiano. Sobreposições de peças em veludo elevaram o jogo, revelando uma preocupação com os detalhes muito bem vista e celebrada. Entre os materiais, a lã e crochê foram elevados ao status de recurso infalível para aquecer o “mood”. Nos pés, uma sandália com aplicações de taxas e rebites arrancou suspiros entre os fashionistas presentes à sala.
Beleza
Assinada por Fabiana Gomes, a maquiagem do desfile da Iódice era clean e pontuada. Inspirada em uma possível experiência da artista Patti Smith em uma viagem à Índia, a maquiadora apostou em um delineador marrom-bordô para acentuar o olhar da produção. “É uma pele bem leve feita apenas com corretivo e tem um côncavo bem marcado. A ideia é parecer um delineador flutuante para marcar esse olhar. Então, o traço não é nem muito perfeito e nem imperfeito. A proposta não é que seja um delineador chicote com um excelente acabamento e nem um traço solto sem marcar muito, é um equilíbrio entre os dois”, disse.
Água de Coco
Inspirada no paraíso, Liana Thomaz foi buscar referência para a sua nova coleção nas Maldivas. Com um casting estrelado, que teve Isabelli Fontana, Renata Kuerten, Fernanda Tavares, Fernanda Motta, Marlon Teixeira e muitas outras top maravilhosas, a estilista apresentou suas criações em uma apresentação matinal na loja conceito da Artefacto. Em um clima tropical, que tinha areia, sol e, claro, muita água de coco, o desfile ainda contou com presenças ilustres de Claudia Leitte e Wanessa na primeira fila. “A inspiração veio depois do Renato (filho de Liana e diretor de marketing da marca) ter ido para as Maldivas para o casamento da Isabelli com o Di Ferrero. E ele se apaixonou por aquele lugar, e não podia ser diferente. Eu já tinha ido e sabia as Maldivas são um paraíso inexplicável”, lembrou.
Mas engana-se quem pensa que o cenário cinematográfico das Maldivas tenha sido o primeiro destino criativo de Liana para esta coleção. Como contou, a estilista inicialmente viajaria para o Havaí. “No começo, eu queria fazer sobre o Havaí. Mas eu achei tantas criações em cima desse tema, que eu decidi ir para outro lugar. Não queria que a minha coleção fosse uma repetição de um conceito já batido”, explicou Liana que teve o abacaxi, super tendência do cenário da moda, decoração e artes em geral, como elemento forte na coleção. Em relação a essa unanimidade das grifes na escolha da fruta como símbolo conceitual, Liana atribuiu ao pensar coletivo a razão. “É incrível ver que, quando a gente lança uma coleção, que já é pensada há seis meses, muitas unanimidades aparecem nas passarelas. Mas isso não é culpa de ninguém, acho que é uma consequência natural dos processos criativos”, analisou.
Agora é hora de falar das peças que encantaram a catwalk. E que coleção maravilhosa! Com muitas cores, estampas, energia e total insider das tendências da moda, a Água de Coco fez bonito na passarela. Nas peças, Liana Thomaz abusou da seda pura para dar brilho aos tons de caramelo e dourado e do tricoline, que, segundo ela, é um tecido, leve, fresh e com um bom preço de mercado. Mas, materiais nobres a parte, os bordados da Água de Coco foram o colírio dos olhos dos convidados no desfile de ontem. “Nós temos uma identidade muito forte com as nossas bordadeiras e as pessoas amam isso. Acho que esse trabalho handmade é uma questão difícil hoje em dia, já que as marcas só querem usar as máquinas. De fato, dá muito trabalho e gera uma preocupação enorme. Mas o resultado é incomparável e justifica qualquer trabalho árduo”, analisou. Mais que justificada, Liana.
Por mais que estejamos às vésperas da estação mais quente do ano por aqui, não é só para a coleção de verão que a moda de beachwear trabalha. Como contou, e comemorou, a estilista Liana Thomaz, a moda praia se faz presente o ano todo, graças ao sucesso da Água de Coco no mercado internacional. “Apesar do nordeste não ter inverno, a Região Sul do Brasil tem alguns meses de bastante frio. Só que a gente faz uma moda praia globalizada. Então, mesmo aqui sendo inverno e estando frio, por mais que seja só em alguns estados, no hemisfério norte, é o auge do verão. Ou seja, eu trabalho com um calendário mundial em função dos dois trópicos. E essa é uma das vantagens de trabalhar com a beachwear. Afinal, em algum lugar do mundo, está verão e calor”, disse Liana que acrescentou que a movimentação de mercado nos países do hemisfério norte segue um padrão diferente do que nós conhecemos por aqui. “O limite de compra deles é muito limitado, não importa para qual marca. O período de venda de verão deles é muito breve, cerca de apenas dois meses. Se você viajar para fora, vai ver que as lojas já estão liquidando em junho, quando é o ápice do verão por lá. Ou seja, é muito pouco tempo de venda. Mas é gratificante porque a aceitação é muito boa”, concluiu.
Na passarela
O beachwear sexy da Água de Coco buscou inspiração na paisagem idílica das Maldivas para apresentar uma coleção “tropicool”, na qual o rico trabalho de estamparia, pautado pela fauna e flora das ilhas, e pelo pôr do sol de tons avermelhados, recebeu aplicações de neoprene, patches e bordados manuais. Os bordados, inclusive, presentes a todo momento, elevando o jogo e agregando ainda mais valor ao mood . Flores tropicais deram o tom das estampas localizadas, um trabalho minucioso que resultou em peças singulares e exclusivas. O late motif ainda abraçou o abacaxi, fruto tropical que invadiu a moda, tamanha sua majestade. Na coleção, ele é apresentado a partir de uma montagem cubista, último grito da estamparia gráfica.
O visual esportivo descomplicado flerta com a megatrend da moda sem gênero, a partir da modelagem encontrada no universo do surfe. Os shapes evocam uma libertação confortável, enquanto os zíperes aplicados reforçam a inspiração sportswear em peças feitas totalmente com elásticos. Calças pantacourt surgem como uma releitura das bermudas dos surfistas, enquanto os kaftans kimono são apresentados como uma nova interpretação para os roupões. Destaque ainda para as calças fluidas com cós e laterais de elástico, além das jaquetas bombers. O metal dourado dos acessórios recebe formas de folhas para compor com as flores da estamparia. Nos pés, flatforfs sofisticadas para equilibrar o mood descomplicado dos looks.
Beleza
Com um casting que reuniu inúmeras tops brasileiras que são sucesso mundo afora, a beauty foi só um detalhe. Responsável por potencializar a beleza das modelos da Água de Coco, Daniel Hernandez contou que a maquiagem para a passarela foi a mais básica possível. “A gente prima pela beleza das próprias modelos. Então, é um aspecto bem fresh em que só os cílios recebem um pouco mais de cuidado e destaque. O resto é um aspecto glossy em diferentes pontos acentuados do rosto. Já a boca, é com cor de carne e o blush um pequeno rubor”, explicou.
Para completar o visual, Daniel optou por cabelos soltos, mas controlados. “O cabelo é divido no meio e com um aspecto mais solto. Para isso, nós colocamos as madeixas para trás da orelha para que mostrassem os rostos e ficassem livres ao mesmo tempo, apesar de não ser preso”, concluiu.
Ronaldo Fraga
Uma verdadeira obra de arte. Responsável por protagonizar e proporcionar o momento mais emocionante e representativo desta SPFWTRANSN42 até então, Ronaldo Fraga ocupou o Teatro São Pedro com muita verdade, autenticidade e ousadia. O motivo: o estilista fez jus ao conceito de transgressão proposto nesta edição e levou 29 transexuais para a passarela da semana de moda mais importante da América Latina. Segundo Ronaldo, apesar de peças icônicas, o desfile era muito mais uma forma de expressão interior do que uma apresentação de modelos criativos. “É um único vestido, uma única modelagem, que foi transformada a cada corpo. Então, por isso que eu digo que o destaque desta coleção não é a roupa. Eu não tenho o que falar do conceito criativo porque a história é feita por quem está vestindo”, contou sobre a coleção que bebeu da fonte das décadas de 1920, 1930 e 1940, que foi a época mais feminina e delicada no universo da moda. “As roupas seguem um pensamento de bonecas de papel que eram febre antigamente. Eu desenhei um por um e depois estampei com canetinha ou lápis de cor em um papel kraft, que depois foi reproduzido no vestido”, revelou.
No casting, que não tinha pré-requisito para participar e foi mantido em sigilo até a noite anterior ao desfile, Ronaldo Fraga trouxe o que há mais diverso no mundo das transexuais. Entre professoras, pedagogas e apenas quatro modelos profissionais, o estilista quis dar voz a uma comunidade que é constantemente reprimida, escondida e humilhada na sociedade preconceituosa e contemporânea. “Eu sempre gostei de trabalhar os invisíveis. Então, já passei pelos idosos e refugiados porque eu tenho um fascínio por essa questão. Desta vez, a história com o universo trans começou quando eu li que o Brasil é o país no mundo que mais mata travestis e transesxuais. Isso foi algo que despertou minha atenção de uma forma impressionante porque eu achava que sabia do sofrimento dessas pessoas. Mas a gente não sabe de nada. A média de expectativa de vida de uma trans no Brasil é de apenas 35 anos hoje em dia. Ela morre, na maioria, por violência, quando são assassinadas, suicídio ou por problemas pela aplicação de hormônio”, disse Ronaldo.
Emocionado, o artista da edição, que chorou no palco ao ser aplaudido de pé por um teatro lotado e fez questão de beijar a mão de todas as personagens deste espetáculo ao fim do desfile, contou que não define a sua arte e a sua apresentação de ontem como “uma moda social”. “Eu falo de amor e resistência. Mais do que nunca, eu vou usar a moda como forma de grito e vou até o final com ela. É um conceito que abrange política e tem o sentido de libertação, de quem deseja e de quem veste. Essa é a verdadeira moda que eu acredito. Eu quis ser uma ferramenta transformadora na vida dessas trans”, revelou.
Da maneira que queria, o conceito, a ousadia, a arte e o grito de força e coragem de Ronaldo Fraga nesta edição da SPFWTRANSN42 foram o destaque do desfile. Como disse, ele desejava que essa oportunidade representasse um momento transformador e de reconhecimento na vida dessas personagens que sofrem tanto no dia-a-dia. Honrado, o estilista disse que, para muitas dessas trans, assim como a experiência de ontem, outro momento transformador na vida delas foi quando puderam se libertar com a família e pessoas próximas que, até então, não as reconheciam da forma que eram. “Muitas delas me diziam que o momento transformador da vida delas foi quando a mãe, a tia ou uma amiga, raramente o pai, disse que ela poderia sair com a roupa que quisesse, a que, de verdade, veste o seu ser. E, mais ainda, foi quando eu soube que uma delas escolheu um vestido da minha loja, que não era uma coleção desenvolvida para este contexto, como forma de representação no mundo da moda. Isso justifica meu trabalho”, emocionou-se mais uma vez o estilista.
Na passarela
Ronaldo Fraga levou uma plateia lotada ao delírio no Teatro São Pedro por conta de uma belíssima homenagem à identidade de gênero. Uma apresentação-manifesto trouxe o tema delicado para nos fazer refletir nesta tarde de quarta-feira no SPFW. Com um casting composto exclusivamente por mulheres transsexuais, o que vimos foi uma apresentação onde os vestidos não foram o destaque, mas sim a história de cada um que desfilou, ao som de Oswaldo Montenegro. As peças faziam alusão às bonecas de papel, com detalhes desenhados na malha, e uma modelagem que flertou com a elegância retrô das décadas de 30, 40 e 50. O estilista mineiro foi aplaudido de pé, e de longe este foi o show que mais fez jus à nova proposta transgressora e transformadora da semana de moda paulista.
Fique por dentro: Transformação, transgressão, transição: SPFWTRANSN42 movimenta o calendário da moda com apresentações por toda São Paulo
Vitorino Campos
Depois de abrir a SPFWTRANSN42 assinando a coleção da Animale, ontem foi a vez de Vitorino Campos desfilar as criações de sua marca homônima. Desta vez, o estilista levou o amor e o sexo para a catwalk. “As roupas representam uma forma que eu e minha equipe encontramos de entender esses conceitos e pontuar essas inspirações que nos influenciaram. Para a criação, fomos beber da fonte do começo do século com as obras de Klint e Egon Schiele, até os dias de hoje, com Louise Bourgeois e Carlos Drummond de Andrade. É uma coleção de sutilezas em que a gente resolveu misturar o lado masculino com a sutileza do feminino das transparências e suavidade”, explicou.
No desfile que teve Sophia Abrahão no casting, Vitorino coloriu a passarela com o clássico p&b pontuado com tons de rosa. De acordo com o estilista, a cartela de cores foi uma consequência clara do conceito que o inspirou a desenvolver a coleção. “Tem bastante preto e branco por causa da alfaiataria do começo do século e tons de rosa, remetendo a Louise Bourgeois. Em relação aos materiais, eu usei lã, veludo, tricô, tules, super alfaiataria e camisaria”, disse.
Adepto ao conceito do “see now buy now” desde a coleção da Animale, Vitorino Campos adiantou que a coleção de ontem também estará à venda a partir desta sexta-feira, 28. “Vou começar a comercializar estas peças na loja Cartel011, que fica no bairro Cerqueira César, aqui em São Paulo. A princípio, serão apenas dois looks, mas depois entro com a coleção completa”, disse o estilista que ainda desfilou sandálias Melissa, óculos de sol Chillie Beans e acessórios Vitorino Campos na passarela.
Em relação à diferença nos conceitos do seu trabalho à frente da Animale e de sua própria grife, Vitorino Campos justificou que são dois processos de criação muito diferentes. “Eu sou apaixonado pelos trabalhos que eu faço, mas entendo que cada marca tem a sua história e o seu momento. Eu fico feliz em fazer parte desses dois trabalhos que atingem diferentes questões da minha vida”, argumentou,
Na passarela
O inverno 2017 de Vitorino Campos promove um passeio pela arte para incentivar a libertação das amarras invisíveis dos estereótipos, além de uma sensualidade latente que caminha para colocar os ânimos à flor da pele. Silhuetas amplas em alfaiataria estruturada, além de transparências em tules, e texturas moldadas a partir de ilhoses, propuseram formas conceituais de utilização dos materiais da coleção, os quais algodão, lã e couro. A cartela de cores precisa elegeu cinza, rosa, vermelho, amarelo e azul para a temporada. Recortes metálicos foram aplicados, em um contraponto feliz à rigidez sartorial de algumas peças.
Beleza
Um mundo de diversidades naturais. Assim o hair stylist Wilson Eliodorio definiu a produção capilar das modelos na passarela do desfile de Vitorino Campos. Para mostrar a força da mulher urbana, as inspirações surgiram através do respeito das etnias em um aspecto saudável e natural. “O meu pedido foi um cabelo leve, moderno, urbano e natural. A gente tem negras com cabelos crespos, já outras modelos com mechas muito lisas, chapados, brilhantes e saudáveis. E é isso o que a gente construiu: variantes de todas as etnias e muita qualidade de cabelo”, disse ele, que ainda revelou os produtos que fizeram a cabeça das manequins. “A gente usou os clássicos. O spray, é um cabelo bem limpo com água termal e um pouquinho de pó para dar mais volume. Temos uma coisa do individualismo que é muito legal.
Já a parte de maquiagem ficou por conta da super requisitada Fabiana Gomes. Na passarela, a boca ganhou destaque em tons avermelhados e destaques para os olhos. “A gente investiu em um olhar bem demarcado, com sobrancelhas destacadas. A boca chama a atenção pela sua vivacidade e brilho. O glitter é a nova aposta para dentro e fora das passarelas”, apostou a maquiadora sênior da MAC.
Amir Slama
Com uma coleção que reforça o DNA longilíneo de Amir Slama, o estilista fez uma busca em décadas passadas para desenvolver a coleção apresentada ontem na tenda armada da SPFWTRANSN42 no Parque do Ibirapuera. “Para essa coleção, eu fui buscar inspiração nos anos 1980 e 1990, nos croquis que eu desenhei ao longo da minha carreira e nas mulheres mais longas. Então, a gente foi atrás de pernas compridas, cavas mais altas e o universo do underwear. Ou seja, tudo sai um pouquinho da lingerie e vem para a praia, não só com os maiôs e biquínis, mas com pensar em se vestir para o final do ano. Na prática, apresento também tops curtos e vestidos micros para montar esses looks de comemorações”, explicou Amir que explicou a sua tendência pelas silhuetas mais alongadas. “Eu queria dar essa ideia de altura, já que as brasileiras não possuem estaturas muito grandes. Então, as cavas mais acentuadas proporcionam uma impressão de corpos longilíneos”, justificou.
Com belíssimas peças que tiveram composição de tecidos tecnológicos desenvolvidos pelo próprio estilista, como o linho têxtil e o cetim italiano que adere à pele, Amir Slama optou por uma paleta de cores básica com tons fortes. Ou seja, o inquestionável preto e branco e as cores vibrantes que são a cara do verão. “Eu começo com o preto e, gradualmente, entro nos tons naturais. Depois, temos uma explosão de cores com estampas que saem um pouco da ideia de animal print e se concentram em formas mais orgânicas”, afirmou sobre as estampas que passearam por tons de rosa, lilás, laranja e terroso.
Autor de peças que transcendem as fronteiras brasileiras, Amir Slama disse que modelagem tupiniquim hoje é referência no mundo. O que antes era considerado pequeno demais para os padrões internacionais, para o estilista, hoje representa a tendência global. “Eu trabalho com o mercado internacional há quase 20 anos. Então, eu percebo que o padrão brasileiro vem cada vez mais se consolidando neste meio. O mundo todo vem beber nas nossas fontes, pesquisar no Rio de Janeiro e em São Paulo e vem olhar o que fazemos por aqui para copiar”, contou o estilista que produz o ano inteiro, independente da estação. “O Brasil é um país em que 90% do ano tem sol. Então, a gente vive essa cultura solar, né? As pessoas vão à praia e andam a beira mar em qualquer estação do ano. O meu trabalho é quase todo voltado para essa temperatura. Mesmo no inverno, o meu maiô vira um body, por exemplo”, destacou.
Reconhecendo a necessidade do imediatismo nos dias de hoje, Amir Slama acredita na tendência do “see now buy now”. Inclusive, foi essa rapidez que o motivou a participar da SPFW desde a última edição. “Eu acho que é o futuro do mundo. Todas as mídias sociais e a velocidade nas formas de comunicação pedem uma rapidez do estilista na produção e confecção. Não adianta ver uma peça e só poder ter depois de seis meses, o mundo está cada vez mais imediato, a gente quer para agora. Essa coleção vai para as lojas no final de novembro. Eu comecei a participar da SPFW na edição passada, justamente, por poder ter essa proximidade e relação mais direta com o meu consumidor final de forma mais rápida”, disse Amir.
Na passarela
Com batidas pulsantes, a trilha sonora serviu para dar ritmo o trote do casting de Amir Slama. Um time de corpos esculturais serviu de moldura para o trabalho do estilista, pinçado em dois momentos diferentes da moda feminina, os anos 50 e 80. O seu Resort 2017, em uma releitura da atitude extravagante das divas do pop, colocou os corselets em pauta, transformado a peça sinônimo de sensualidade feminina em tops amarrados, maiôs asa delta recortados (Alô, 80’s!), calças justas e saias curtíssimas. Tudo dentro da nova-velha cartilha ultra sexy que Amir adora, desde os tempos da saudosa moda praia da Rosa Chá. Os tecidos, neoprene, jersey, seda e tule. A coleção começou escura, em preto, e aos poucos foi-se revelando tons quentes, como rosa pink, roxo, laranja e branco. O destaque da estamparia ficou por conta de um leopard print gráfico, elemento que deu vida à coleção.
Beleza
Além da coleção de Amir Slama, outro destaque da passarela foi a beleza das modelos assinada por Rodrigo Costa. O batom dark feito a partir da mistura de preto com marrom e as imensas tranças foram um caso à parte na noite de ontem. Segundo Rodrigo, a inspiração para compor esse visual foi a “mulher mais jungle”. “Eu trouxe um pouco da maquiagem dos anos 1980 com um bush um pouquinho marcado, um batom forte e a pele iluminada. Nos olhos, eu optei apenas pelas mascaras de cílios porque, como ela usavam boné, o olho não apareceria tanto”, explicou.
Em relação às tranças que proporcionaram movimento à passarela, Rodrigo relevou o comprimento das madeixas artificiais usadas nas modelos de Amir Slama. “Para cada menina, eu comprei 1,5 metros de cabelo para trançar e fazer com que ficasse quase um rabo de cavalo. Eu queria que tivesse essa impressão quase que saindo do bumbum mesmo. Mas como eu não teria como pregar esses apliques na região, eu optei pela trança como uma coluna vertebral e um rabo mais ao final”, afirmou.
O ar de poder atribuído à beauty das mulheres na passarela da SPFWTRANSN42 não poderia ser melhor explicado. Segundo o maquiador e hairstylist, divas do pop internacional foram as responsáveis por traduzir esse conceito. “Quando eu soube da proposta da coleção, eu pensei logo na Rihanna e na Beyoncé usando esse tipo de roupa. Afinal, a coleção é a cara delas. Foi tudo um conjunto de fatores que eu fui somando para chegar na imagem dessa mulher”, revelou.
Osklen
Fechando o quarto dia de desfiles, a Osklen desfilou sua coleção de alto-verão ontem na SPFWTRANSN42. Na passarela, Oskar Metsavaht apresentou a linha praia da grife que é a cara da estação mais quente do ano, principalmente quando o assunto é Rio de Janeiro. Para buscar inspiração para desenvolver a coleção, Oskar mergulhou no universo do calendário festivo que se aproxima. “Eu penso muito nos conceitos de festas de final de ano onde adoraríamos estar. Então, a minha inspiração vem desse hedonismo saudável e etílico das comemorações que começam com o pôr-do-sol e vão noite adentro. Ou seja, na coleção, eu tenho peças que parecem saídas de praia mas são feitas em seda e linho. É uma transição”, explicou.
Na passarela, a Osklen apresentou materiais todos feitos em tecidos naturais. Ou seja, para esta coleção, a grife apostou em seda, algodão, linho, rafia de seda orgânica e pele de pirarucu para compor as peças. Questionado sobre a mudança de calendário no contexto da moda brasileira, Oskar Metsavaht disse que, para a sua marca, as novidades são positivas. “A mudança de calendário é interessante porque eu tenho a chance de lançar minha coleção de alto-verão que, de uma certa forma, é uma continuação da coleção de verão, só que com peças e estampas novas. Porém, com o mesmo mood”, disse sobre a coleção que começa a ser vendida já no próximo mês nas lojas da marca. “Eu acho que a questão do ‘see now buy now’ poderá ser analisada a aceitação na semana de inverno, em março. Nesta época, as coleção estarão entranhado de fato nas lojas e será um grande teste”, argumentou.
E ontem, Oskar Metsavaht tinha uma dupla emoção e preocupação na passarela da fashion week mais importante da América Latina. O motivo: seu filho Felipe Metsavhat, de 18 anos, era um dos modelos que compuseram o casting da Osklen. “Eu precisava de modelos com cabelos compridos e quase não tem. Aí, resolvi ligar para ele e convoca-lo porque eu não tinha quem colocar para desfilar. No começo, ele não queria, mas depois que mostrei alguns looks ele escolheu um e topou”, revelou.
Na passarela
O empresário Oskar Metsavaht apostou no clima relax dos balneários com os quais tem uma relação biográfica para o Alto Verão 2017 da Osklen. O designer propõe uma coleção criada para uma festa ao por do sol, programa que os cariocas já fazem – e muito bem. A seda foi eleita como o e-fabric, em 3 momentos distintos: como manta de seda, gorgurão de seda e palha de seda. Além dela, linho, neoprene, e tule completaram o mix astuto assinado por Oskar. Tudo com o aspecto rústico que a marca costuma adotar, e com sucesso. Na estamparia, prints ocuparam toda a extensão das peças, com cfolhas de palmeiras, margaridas e listras. Tudo com o DNA autentico que faz da label um desejo absoluto, sinônimo de brasilidade elegante.
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