SPFWN45 – Riquezas naturais brasileiras de Lenny Niemeyer, beach club sessentinha da Salinas e coleção “feita para sentir” de Lino Villaventura marcam o #Day4 do evento


O penúltimo dia de desfiles foi composto por um line-up quase carioca. O trio Lenny Niemeyer-Salinas-Beira fez uma ode à Cidade Maravilhosa, com direito à música gravada por Caetano Veloso

SPFWN45 - Desfile Ronaldo Fraga (foto: Henrique Fonseca)

*Por Karina Kuperman

O surf de inverno tomou a passarela logo cedo na coleção da marca A. Niemeyer, que se inspirou em Montauk, ponto mais alto de Long Island, onde esportistas passam férias surfando ondas congeladas. Em seguida, a rainha do beachwear brasileiro, Lenny Niemeyer, apresentou uma coleção com muita bossa focada nas riquezas naturais do Brasil e chegou a declarar que acha “que todos os brasileiros estão tomados por essa ideia de valorizar o país mais do que nunca”. A Salinas, de Jacqueline di Biase, propôs um verão em um beachclub sessentinha chique, com meninas de toalhas nos cabelos, drinks enormes e pés na areia. A Beira, da jovem estilista Livia Cunha Campos, trouxe mais uma coleção monocromática, mais focada nas modelagens, enquanto a Cotton Project propôs um êxodo para o ambiente rural, com toda sua simplicidade e longe da constante pressão da cidade grande. Lino Villaventura comemorou 40 anos de trabalho e disse que sua coleção “deve ser sentida”. Por último, a Apartamento 03 levou à passarela um regresso às memórias do estilista Luiz Claudio. Vem com a gente!

A. Niemeyer
Pela segunda vez nas passarelas do São Paulo Fashion Week, a A. Niemeyer trouxe um inverno inspirado no surf da região de Montauk na estação mais fria do ano – o ponto mais alto de Long Island é, aliás, local onde os novaiorquinos costumam passar as férias. O resultado? Peças que traduzem a busca pelo conforto ambiental, contato com a natureza e equilíbrio entre o corpo e alma. “Quisemos captar, por meio das nossas peças, o momento após a prática do surf, quando as pessoas chegam em suas casas revigoradas e nutridas pelo esporte”, contaram Renata Alhadeff e Fernanda Niemeyer, diretoras criativas da marca, que escolheram apresentar a coleção na EBAC – Escola Britânica de Artes e Cultura.

De fato, referências ao universo surfwear apareceram em toda a coleção, através de peças com zíperes aparentes e resinados e oversized para todo conforto possível. “A ideia era refletir o momento em que os surfistas descansam entre amigos em volta da lareira, enrolados em um edredom e tomando chocolate quente”. Aposta da marca, o xadrez foi desenvolvido em uma padronagem maior, remetendo à uma manta de lã. Sobreposições foram trabalhadas de forma prática e com charme. A cartela de cores veio neutra, com bege, off-white, mescla e toques de azul.

Uma parceria inédita com a Tiffany & Co., marca presença com as joias das linhas T e Hardwear, deu o toque feminino ao universo surfer. É a primeira vez, aliás, que a joalheria participa de um desfile em semana de moda brasileira. “Estamos muito animados. A. Niemeyer é uma marca que conversa com nosso público e possui um approach fashion que tem tudo a ver com a modernidade e força das linhas apresentadas na passarela”, declarou Luciana Marsicano, diretora geral da Tiffany & Co. Brasil.

Nos pés, outra parceria cool: os clássicos tênis Converse de cano alto ganharam customizações charmosas com aplicações de aviamentos de lã feitos a mão nas padronagens da estação. A Vicunha foi parceira nos jeans, que surgiram em modelagens nada óbvias.

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Lenny Niemeyer
As “riquezas naturais do Brasil” foram o ponto de partida da carioquíssima Lenny Niemeyer em seu alto verão 2019. A rainha do beachwear apresentou uma coleção de shapes fluidos e alfaiataria moderna que ganharam destaque através dos drapeados e franjas elaborados. Os tons palha da coleção obtiveram vida misturados com pontos de luz de verde, azul, lilás, amarelo e laranja e os tecidos como seda, linho e algodão realçaram o tom orgânico da coleção. Estampas de folhagens, hotpants, bolsos tramados utilitários, túnicas, amarrações e looks monocromáticos foram alguns dos highlights da passarela. “Vamos ver muito do Brasil, do trabalho de artesanato, cestaria, tudo com nosso jeitinho de olhar e valorizando cada vez mais nosso Brasil. A força feminina está aí presente, com mix de etnias brasileiras, floral com fauna, palha desconstruída”, listou.

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“Minha coleção é inspirada no Brasil, nas nossas riquezas, nas mulheres que trabalham na natureza. O Brasil é rico em cores, em tudo, então trabalhei com folhagens, mimetização de bichos atrás das estamparias. Acho que desconstruí um pouco, usei macramês, franjas, variedade grande de tecidos”, disse. “Venho nacionalista, acho que todos os brasileiros estão tomados por essa ideia de valorizar o país mais do que nunca”, levantou ela, que, falando em nacionalismo, garantiu que a moda praia é muito bem aceita no exterior. “Já temos um mercado. Internacionalizar nosso beachwear é legal, claro. Ele já é exportável há anos”, disse.

Nos pés, as tops vieram calçando sapatos em variações de off-white, bege e marrom, desenvolvidos exclusivamente em parceria com a Arezzo. Já os acessórios foram assinados pela designer Regina Dabdab e contaram com muitos elementos naturais orgânicos, como pedras, couro e madeira, que se misturaram com a tecnologia, já que foram impressos em 3D.

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Salinas
No mood do dia “carioca” da São Paulo Fashion Week, o desfile teve como trilha a música “Cidade maravilhosa”, gravada por Caetano Veloso. Um hotel charmoso de frente para o mar e pé na areia foram a inspiração de Jacqueline de Biase, que idealizou o “Salinas Club Hotel”, um clube cheio de inspirações nos anos 60. A coleção teve mix esportivo com bodies, hot pants, maiôs com amarrações estilo toalha e biquinis clássicos em cores pastéis e fluorescentes como azul, laranja, verde e rosa. “Fizemos o Salinas Clube Hotel. Idealizamos esse hotel de frente pro mar, joga tênis, frescobol na praia. Então tem muita influência do tênis nos biquínis, tem um maiô com estampa de rede, outro na cor da bolinha, maiôs com golinha de polo. E tem um mood de piscina também”, disse a estilista. Azulejos, curvas, barracas geométricas, maxi drinks, quadras de tênis e raquetes de frescobol apareceram na estamparia estilosa.

O styling seguiu o mesmo visual anos 60, com direito a modelos de toalhas na cabeça e penteados altos que lembravam toucas de natação. Maiôs com estampa de bola de tênis foram sobrepostos por maxiroupões, camisaria, toalhas e amarrações. Os óculos vintage – parceria com a Zerezes, complementaram os looks, que tiveram, ainda, mocassins da Melissa.

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Beira
A marca trabalha com coleções desenvolvidas seguindo um princípio de continuidade, onde uma dá sequência à outra e as peças podem – e devem – se misturar. Por isso, a estilista Livia Cunha Campos não trabalha com “inspirações”, mas com o intuito de se aprofundar em uma linguagem através de um processo criativo sem rupturas. Além disso, nenhuma coleção é determinada por estações, já que as peças tem como proposta serem usadas em qualquer contexto. Para essa coleção, Livia buscou tecidos de alta qualidade e priorizou fibras naturais como seda e algodão – de fornecedores nacionais. Nessa estação, a marca foi além e trouxe um jeans criado com algodão, PET e seda ecológica com tecelagem artesanal produzida com processos de reaproveitamento de casulos de bicho-daseda rejeitados. Peças tingidas artesanalmente – com extratos vegetais – misturam-se à outras, coloridas em processo tradicional.

As modelagens, grande trunfo da marca, foram pensadas por sua funcionalidade e tudo pode ser usado tanto por homens como por mulheres. “Minha coleção é sempre monocromática. Não sei para o futuro, mas a ideia é o foco para a modelagem e a construção dela. O olhar é voltado para a forma da roupa é como ela é feita”, afirmou. “Nosso perfil é bem artesanal, temos um ateliê em Botafogo, somos seis pessoas. Eu sou a estilista, tenho modelista, financeiro e três costureiras”, disse.

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Cotton Project
Rafael Varandas investiu na simplicidade para a nova coleção da Cotton Project. Os looks formados por jaquetas de veludo e calças jeans combinadas a camisetas foram a prova disso. “Se você pudesse se livrar de suas obrigações e começar uma vida nova, como ela seria?” foi o questionamento levantado pelo estilista na coleção de Inverno 2018, que propôs a fuga da cidade grande para o campo, longe da constante pressão e falta de tempo. Estampas xadrez, de oncinha e de vaca decoraram robes, calças de carpinteiro e jaquetas de forma propositalmente simples. Chapéus, bandanas cobrindo o rosto e botas do tipo rural também marcaram a passarela. Tons de terra, claro, foram a escolha para a cartela de cores. Botas com solado trator e pijamas também ajudaram a embarcar em um tempo que não existe.

A beleza, assinada por Dindi Hojah, teve “aridez” como palavra-chave. “Ela está tanto no cabelo como na maquiagem. O cabelo é esturricado de sol ou arrumado para trás com gel e essas duas interpretações vieram do tema da coleção de êxodo urbano”, explicou. “Tem meninas com delineador. Desde que a Cotton começou a colocar meninas no casting elas tiveram muita personalidade, mas de um jeito possível, porque é uma mulher possível. Quisemos mostrar isso”.

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Lino Villaventura
Moda feita para sentir. Essa é a proposta de Lino Villaventura, que comemorou ontem 40 anos de profissão e usou o pesponto como fio condutor de sua coleção. “Meu look mais trabalhoso foi o primeiro, que tem estampa, textura, bordado, matelassê, várias operações em uma roupa só. Além disso, tem montagem manual, com presilhas de vidrilho fosco”, contou. “As pessoas raramente prestam atenção nesses pequenos detalhes. Aqui nos meus bordados, devem imaginar que são estampas. Não é feito assim. É à mão”, afirmou. Sua coleção sofisticada misturou moda urbana ao futurismo e não deixou de lado o tom dramático, com construções e desconstruções nas peças. “Aqui não precisa entender. É muito bacana dizer: ‘não entendi, mas senti’. Isso é o que eu quero. Não tem que entender nada, nem explicar nada. Isso limita o trabalho, conceito, etc. O necessário é atingir, isso é o que eu gosto de fazer. Não explico nada, faço e apresento”, disse o estilista, que foi além:. “A coleção é uma comemoração aos 40 anos da marca, é festejar trabalhando, fazendo com qualidade, original, provocativo. Quando se consegue fazer moda autoral por 40 anos e as pessoas gostam e admiram tem que se orgulhar de seu trabalho”, afirmou.

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“Desfile tem que ser atrativo, porque se for banal é mais interessante sentar no bar e ver as pessoas passarem. Quero algo que me provoque, me deixe alegre, feliz, intrigado. É para isso que faço desfiles. E não falo só de moda. Qualquer pessoa precisa ser provocada”, ressaltou. Regis Vieira, coordenador geral da marca, explicou: “Usamos a matemática com interseções para que formas arredondadas se juntassem formando volumes em terceira dimensão”.

A cartela de cores teve predominância de preto e branco, mas pontos de cobre, grafite, rubi, royal e tons abertos como ouro, violeta e verde. Destaque para as incríveis estampas com pavões.

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Apartamento 03
Memória. Foi essa a inspiração do mineiro Luiz Claudio, que cresceu em uma família de costureiras e, desde cedo, aprendeu o ofício com a mãe. “Todas as mulheres da minha família eram costureiras e casaram com homens que faziam sapatos”, lembrou ele, que acessou suas memórias de infância para criar uma coleção com peças cheias de nós de fios aparentes e outras que pareciam viradas do avesso, com dobras tridimensionais, fazendo referência aos pences. Retalhos de tecidos sofisticados inspiraram o patchwork da marca. Nas fitas penduradas em algumas peças, foram bordados nomes de costureiras que fazem parte de sua equipe.

Os shapes da coleção lembravam mulheres e suas diferenças de corpos e alturas. Jacquerd francês, cetim, recortes, brocados, aplicação de leve plumagem, canutilhos e detalhes ladylike foram alguns dos elementos da marca que fechou o line-up do penúltimo dia da SPFW.

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