Foi na Fundação Armando Alvares Penteado que Reinaldo Lourenço desfilou seu Verão 2017 na 41ª edição da São Paulo Fashion Week. Batizando a coleção de “Pop Couture”, o estilista se inspirou no street style, focando em tiras debruadas e dando destaque para jaquetas aviador e tops tomara que caia. Segundo ele, por ter vindo carregado de temáticas em edições passados, decidiu desfilar “mais livre”. “Fiz peças com estilo ‘novos 80’ e usei duas vertentes: a alta-costura e o street style”, explicou ele, que nos recebeu em seu backstage para, pessoalmente, apresentar as peças antes do desfile. Só descer.
HT: Reinaldo, fala um pouco sobre a mistura de elementos da sua coleção.
Reinaldo Lourenço: Fiz peças com estilo ‘novos 80’ e usei duas vertentes: a alta-costura e o street style. A coleção é street couture e pop e eu traço os dois paralelos. Tem muitas roupas que são praticamente de alta-costura, que demoram dois dias para ficarem prontas. Tem uma pegada forte de grafismo, que é característico do meu trabalho. Eu sou muito reto e estou reforçando isso. As listras vão virando pregas, que já é uma evolução da outra coleção, só que de uma forma nova, já que aquelas eram feitas por tiras e essas são estampadas. Tem duas estampas bem pop-art, poás muito coloridos, bastante paetê que lembra a década de 80. Tudo sempre com as faixas que eu faço. O desfile é praticamente todo de faixas, finas ou largas, e trabalhadas de vários jeitos.
HT: Depois de Portugal no ano passado, em que você se inspirou nesse ano? Por que?
RL: Dessa vez não viajei, a coleção veio na minha cabeça. Eu vi que estava muito temático e quis criar algo mais livre, sem temas. A cartela de cores tem branco, preto, dourado, vermelho escuro, verde, laranja e off-white.
HT: Então qual foi sua inspiração? Sabemos que você fez uma grande pesquisa…
RL: Sim, eu tenho uma pesquisa enorme. Olhei muito para o meu trabalho mesmo e propus uma evolução de elementos que eu já tinha feito. Acho que o design hoje tem que ter uma técnica, a pessoa tem que olhar e saber que aquela peça é Reinaldo Lourenço. Eu não quero ficar mudando de coleção para coleção, como se eu fosse outro estilista. O mais importante hoje é ter um DNA, por isso, olhei para o meu próprio trabalho. Claro que viajo, faço pesquisas, vou a brechós, mas sempre tentando deixar tudo com a cara de hoje, nada vintage, não é minha história. Eu quero ter uma imagem que seja atual. Me inspirei em mim mesmo.
HT: Como são os shapes?
RL: É bem interessante porque eu trabalhei com dois volumes contrastantes: o justo e o oversized aparecem em um mesmo universo. A moda pede esse relaxamento, peças maiores. Eu peguei uma jaqueta daquelas de aviador dos anos 80, por exemplo, e fiz com a cara de hoje.
HT: Reinaldo, como a sua marca vai reagir à aproximação da moda com o varejo?
RL: Não sei te dizer. Eu tenho medo de perder esse encanto que é fazer o desfile. Como eu estou tendo nas duas ultimas semanas de moda. Gosto de preparar algo, mudar, dessa agitação. Quando eu tiver que deixar tudo já pronto, tenho medo de virar mais comercial. Não que seja errado ser comercial, aliás, acho moderno usarmos o que tenhamos vontade. Nós não estamos mais nos anos 80 que temos que fazer aquele conceitual cheio de pano para mostrar que somos criativos. Pode ser criativo e menos complexo. Mas não adotei ainda o ‘see now buy now’, não dá tempo de produzir tudo, é um trabalho quase que de alta-costura, com o pesado e o mole entretelados.
HT: Qual a importância do glamour para a moda? É dispensável ou dá um toque de magia?
RL: O glamour é essencial na moda.
O desfile
Florença, o museu Uffizi, Londres, Paris e Portugal. Reinaldo Lourenço carimbou bastante o passaporte – seja física ou mentalmente – para buscar referências e inspirações para suas últimas coleções. Dessa vez, ele resolveu dar um basta. Sua inspiração é ele mesmo. Quase que uma bebida da própria fonte. E, se revistar o próprio DNA era a premissa, ficava difícil dar errado. E não deu. A expertise de Ronaldo em faixas continuou como da última temporada – com variações de tamanho, indo das mais largas até as mais finas -, mas com um plus: com o descer da silhueta, vai se transformando em pregas e até em…estampas – listradas, of course. É como se as tiras debruadas desenhassem os próprios vestidos. E é aí que o jogo é vencido. Toda a sofisticação e alfaitaria de Lourenço foi revigorada com grafismos e perfume street style. Ele recorreu aos anos 80 para trazer de volta os tops tomara que caia e as jaquetas aviador. No mais, os clássicos de Reinaldo Lourenço se mostraram mais perenes que nunca: faixas, listras, jacquard, tricoline e por aí foi. Para usar sem medo – como sempre. (por Lucas Rezende)
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