*Com Marcos Eduardo Altoé
Foxton – apresentação
Conhecida como a marca do “namorado” da garota Farm, a carioca Foxton trouxe sua moda masculina para São Paulo, com o intuito de apresentar seu verão 2017. A multimarcas Cartel 011, sinônimo do novo design cool e revendedora da marca, foi o palco escolhido. O verão 2017, intitulado “Te vejo na praia!”, é a primeira coleção formatada após a aquisição pelo grupo Somav (leia Animale-Farm- no final de 2015). Pautadas por uma atmosfera “good vibes”, as peças inspiram as vibrações positivas do movimento new wave, do surf e da vida offline. Segundo André Carvalhal, diretor de marketing, foram criadas 600 peças para atender os planos de expansão da marca. “Queremos trazer a estampa para o universo masculino, com algo mais despojado para atender vários tipos de homem, tentar alcançar uma abrangência maior de meninos”, explicou. Carvalhal nos contou ainda que o carioca já está acostumado com o mood Foxton, mas que fora do Rio os homens também já estão preparados para abraçá-la. “A moda masculina tem evoluído neste sentido, de estar mais livre, mais colorida, mais estampada”. Com cinco lojas no Rio de Janeiro, a expectativa agora é abrir mais duas na capital paulista ainda este ano. Na contramão da crise, o grupo de moda Soma mostra a que veio, com metas ambiciosas e um portfólio sadio de marcas, como Animale, A.Brand, FYI, Farm e Fábula. Agora é torcer para que a Foxton, sua primeira label masculina, acompanhe este ritmo.
Lino Villaventura – performance
O estilista Lino Villaventura, famoso por sua narrativa teatral, conseguiu encantar mais uma vez o público com um misto de desfile-photoshooting. Com uma estrutura que simulava um estúdio fotográfico, com painéis e mobiliário, um casting bombado de modelos posou para as lentes do fotografo Miro, um dos grandes image makers da moda brasileira. Nomes como Talytha Pugliese, Renata Kuerten e Marina Dias, veteranas das passarelas, mostraram talento também para a arte performática, ao encarnarem as musas sombrias que vestiam as criações do estilista, sendo registradas em tempo real no telão da sala de desfile. Sobre o formato, Lino destacou que “todo mundo adora acompanhar o processo criativo, o que rola no backstage”. “Fiquei feliz que o Miro topou o desafio”, nos disse. E após uma apresentação com perfume comercial no Minas Trend Preview, ele retomou sua verve fantástica. “Lá eu aproximo a coleção das pessoas. Aqui eu jogo o delírio”, exaltou. Delírio, pois, essencial para o escapismo que nós tanto amamos na moda. Bravo!
Wagner Kallieno
Ainda no backstage, enquanto suas modelos eram maquiadas com efeito de sardas falsas por Cris Biato, o potiguar Wagner Kallieno reforçava sua pegada: “Sempre escolho uma mulher para ser musa”. E a da vez vem da sétima arte, mais precisamente do começo da década de 80, direto do longa “Flash Dance”. Alex Owens, a protagonista, que busca – com dificuldade e perseverança – um lugar à luz da ribalta dançante, foi usada como ponto de partida para vestir uma mulher que curte frequentar o guarda roupa masculino e, de lá, tira o supra sumo que, de quebra, ainda vai lhe conferir sensualidade. Essa mulher forte começa vestindo peças feitas com fibras naturais, seda pura e linho, e termina indo para a night de lurex, camurça, lycra e salto com plataforma de acrílico. Como estamos respirando perfume oitentinha, valem blazer alongados – que viram vestidos – bodies, pantalonas e o equilíbrio com formas oversized – mas, repetindo: sexy – e uma lembrança leve das famosas ombreiras. Destaque para a forma como a alfaitaria foi desenvolvida, com decotões e o efeito “mostra-esconde” nas pernas. É no contraponto que Kallieno acerta, ao ser fiel à proposta do fim da barreira de gêneros, cumprindo com a feminilidade nas transparências, brilhos e recortes. A moda dos anos 80 – que perdeu o clichê ao receber um refresh – ajudou o estilista a bater a meta dessa São Paulo Fashion Week: “Esse é um desfile divisor de águas”.
GIG Couture
Arte em movimento. É o que foi desfilado pela GIG Couture, de Gina Guerra, na 41ª edição da São Paulo Fashion Week. Inspirada na obra da artista francesa Sonia Delaunay, o desfile – batizado de “Simultané” – da marca mineira referência em tricô apresentou uma coleção leve e feminina, com peças que valorizavam geometrias, texturas, proporções e volumes. Uma profusão de cores deram vida aos plissados, resultando em uma estamparia cinética que priorizou listras e um efeito tridimensional que amamos. Rendas e babados foram duas grandes apostas apresentadas, recursos românticos muito bem vindos. O brilho metalizado do lurex, utilizado até dizer chega, criou um equilíbrio perfeito com a opacidade dos tons terrosos e crus. Um ar nonchalante e despreocupado foi impresso na silhueta, fluida e solta.
Ratier
Já ouviu falar que menos é mais, certo? Pois Renato Ratier, sim, e executou a premissa como ninguém na segunda apresentação da grife que leva seu sobrenome, na São Paulo Fashion Week. A veia minimalista continuou em voga num desfile que bebeu da fonte do movimento modernista. A partir daí, Renato resolveu reafirmar o DNA urbano contemporâneo de sua grife – que tem uma veia comercial latente -, acertando uma estratégia de mercado das boas. Por isso as peças geométricas – destaque, dessa vez, para os recortes e em detalhes nas costas, por exemplo -, sobreposições em sedas, crepes e o queridinha do diretor criativo nessa temporada: os jacquards italianos nobres com padronagens fora do habitual. Com ar menos soturno que o da última vez, a Ratier continua mandando bem no acabamento, sem auxílios tecnológicos como vimos em desfiles dessa temporada, mas mantendo um ar clean e funcional. HT amou o bloco total black, com suas sobreposições e fluidez. Os tons terrosos e quentes (lê-se laranja e mostarda) nos lembraram que é verão, funcionando bem nas peças femininas trabalhas com couro e camurça. Para usar na rua, diariamente, com estilo, imprimindo uma interpretação cool do que é moda. Porque não é precisar inventar a roda. Basta renovar o óleo.
Cotton Project
Imagine uma rivalidade de gangues na passarela. Assim foi a estreia da Cotton Project na São Paulo Fashion Week. Rafael Varandas, estilista da marca, aproveitou o début para, logo de cara, questionar o “humor negro” do surf e a “desglamourização” do verão brasileiro. “Principalmente no Brasil, existe um glamour em volta da praia, do verão e nós não acreditamos nisso completamente porque, se você estiver no paraíso, vai ter um dia que vai estar ruim. Nós tentamos ter uma visão mais realista”, nos explicou o diretor criativo. E o raciocínio se refletiu em (ótimas) jaquetas bombers – hit nas passarelas desde que a fashion week começou – e maiôs da Haight, marca parceira, sendo a única peça feminina desfilada. Conforto e casualidade, marcas registradas da Cotton, estiveram presente em malhas, atoalhado de algodão, seda e couro; e na aposta em jeans e pijamas (relax e street dando as mãos). Destaque para a sacada da estilista ao fazer uma mistura de alfaiataria a boardshorts. A apresentação da Cotton ainda contou com uma cartela de cores atemporal (lê-se marrom queimado, marinho, cru, preto e branco).
Ellus
O pré-desfile da Ellus, fechando a semana de moda paulistana, já dava o tom: rede Wi-fi disponível, hashtag específica para a apresentação e um painel de LED ao longo da passarela. A grife, com o intuito de abraçar (e vestir) os milleniuns, perfumou o desfile e a coleção com um ar hitech. Terreno preparado, a Ellus viajou até o Hawaí para entregar o seu verão 2017. Mas o balneário queridinho dos surfistas vira roupa no maior estilo Ellus de ser. Por isso, a cartela é mais escura, o jeans é folgado, de cintura baixa; a jaqueta de couro perfecto – o ícone do ícone – é protagonista e os boleros ombro a ombro dão as caras. Vez ou outra, camisas e camisetas mais claras surgem, bem como estampas floridas, mas elas sucumbem a jaquetas militares oversized, ora estampadas e cintilantes, corroborando com a veia roqueira da grife. Bem que Adriana Bozon, diretora de criação da grife, havia explicado: “A ideia é uma mala de viagem, a qual adicionamos e incorporamos peças e elementos que fomos colecionando ao longo do trajeto (pelo Havaí). Porque não é só de prancha e ula ula que se vive o homem – e a mulher por aquelas bandas.
Artigos relacionados