A moda carimbou o passaporte para várias viagens neste quarto dia da São Paulo Fashion Week Inverno 2016. A primeira parada foi em terras portuguesas. Por lá, Reinaldo Lourenço nos guiou em um tour dominical por cidades repletas dos históricos azulejos. Outra parada, desta vez em solo brasileiro, foi no Alto Paraíso de Goiás, onde Helo Rocha, que optou por assinar a sua grife com o seu nome e não mais como Têca por Helo Rocha, mergulhou em um revival dos anos 70 no qual o misticismo permeou a coleção. Viajamos ainda para bem longe. Até a Turquia, onde a Apartamento 03 encontrou Orlando, de Virginia Woolf, acordando de um sonho como mulher. Por falar em sonho, Samuel Cirnansck comemora os 15 anos de sua marca homônima fazendo o que ama: vestidos de luxo. O baile do estilista contou ainda com um príncipe na passarela. E a Coven fez um profundo estudo sobre o design do mobiliário dos anos 50/60, a arte de Le Corbusier, as tapeçarias de Genaro de Carvalho e as colagens do artista Cecil Touchon.
Reinaldo Lourenço
O estilista Reinaldo Lourenço é um eterno apaixonado pelo Velho Continente. Se o Verão 2016 foi pelas calçadas londrinas, seu Inverno 2016 tem a cidade lusitana de Viana do Castelo e a província de Minho como cenários. Na viagem a Portugal, Reinaldo observou os trajes de passear aos domingos e a azulejaria marcante da região. Os elementos de estilo retratados por ele? “A ilusão das pregas, as formas que resultam da junção estratégica de tiras, e os comprimentos mini, midi e longo”, contou. O que refletiu em uma passarela recheada de patchworks de listras, estampas mezzo azulejadas, e peças com fitas dobradas em cetim. Todas somadas a muitas transparências, estampas e fendas. Aliás, como é inverno, aplicações foram feitas em veludo, seda, seja em alfaiataria ou T-shirts. O tradicional e bem feito preto de Lourenço dividiu atenções com azul, vermelho, marfim e ouro. Uma viagem que valeu para vestir a mulher elegantérrima de Reinaldo, que ainda usa joias assinadas por Silvia Furmanovich, em alusão aos acessórios portugueses.
Samuel Cirnansck
As referências de linhas simples dos anos 1920 e o brilho art-déco são as marcas registradas do estilista Samuel Cirnansck. Enquanto a São Paulo Fashion Week comemora seus 20 anos, o estilista festeja 15 anos à frente de uma marca consolidada e que tem um séquito de clientes fieis à sua moda festa. O cenário para o baile de Samuel era repleto de arranjos com orquídeas. Luxo puro. Segundo o estilista, ele quis levar ao público uma criação que fizesse uma ode “ao conceito de luz, amor, realização pessoal, saúde, poder, bem-estar, alegria, prosperidade, fortuna, delícia, oásis, euforia e felicidade”. Os vestidos continuam com torsos justos, curtos ou longos com cauda, as saias rodadas e um príncipe para aquelas mulheres lindas. Os sapatos salto 15 foram assinados por Jorge Bischoff e especialmente criados para o desfile de Samuel. Destaque para um modelo de ankle boot completamente revestido com Cristais Preciosa, na República Checa. Os cristais também estavam nas roupas tendo como destaque o rosa, o verde e o azul claro, além do off white. A história era proporcionar um efeito 3D. “Pétalas e bordados em cristal estão presentes tanto nos vestidos extremamente elaborados com as versões mais leves e delicadas”, comentou Samuel. Além dos calçados, os cristais coloridos estavam nas clutches e nas joias assinadas por Laila Spinella.
Apartamento 03
A ambiguidade da identidade feminina-masculina mais uma vez se fez presente nesta edição da São Paulo Fashion Week. Se João Pimenta, no dia anterior, flertou com a feminilidade na sua alfaiataria de primeira, criando paletós com babado na lapela, com imagem de Nossa Senhora Aparecida, flores, em um mix conceitual e comercial, Luiz Claudio Silva, estilista da Apartamento 03, foi a fundo no enigma do gênero, a partir de uma capa da Vanity Fair que tinha Caitlyn Jenner “vista nas mãos dos passantes no metrô de Londres”. O ponto de chegada? Orlando: uma biografia, de Virgina Woolf, publicado na década de 20. A adaptação para o cinema foi lançada em 1992,com Tilda Swinton como Orlando e Quentin Crisp como Rainha Elizabeth I. Luiz Claudio reinterpretou a história do jovem inglês que, durante uma viagem à Turquia, acorda mulher. “Homem ou mulher? Eu, você, ele, ela ou eles. Pouco se pode definir, quando laços e bordados brotam na camisaria e pedraria na alfaiataria, brocados e franjas, vão de Londres a Turquia, antiga Constantinopla”, define o estilista. Nós amamos as sandálias com a pegada turca com ar masculino, mas com texturas diversas e pedras desenvolvida pela Vicenza.
Coven
A Coven, grife que batia ponto no Fashion Rio, fez sua estreia na São Paulo Fashion Week entrando no túnel do tempo até os anos 50 e 60 e fazendo uma releitura do mobiliário com a predominância do jacarandá. Como isso vira moda? Quando Liliane Rebehy e Douglas Almeida inserem uma mulher contemporânea que habita a locação dos tais móveis e o melhor: que seja colecionadora e amante das artes. Pronto. Fio condutor estabelecido, o tricô veio como carro chefe, e em pleno inverno, ganhou um plus com xadrezes, listras e linhas geométricas. Na “Sala”, aliás, nome da coleção da Coven, as cores, como não poderiam ser diferente, passeiam dos tons amadeirados, passando pelo marrom e cerâmica, até chegar aos coloridos amarelo, azul e magenta (aqui, vale citar, que pinturas figuram a sala da grife, justificando a escolha). As referências que conjugam esse inverno? As do arquiteto Le Corbusier, as tapeçarias de Genaro de Carvalho e as colagens da artista Cecil Touchon. Seguindo a Coven, aposte em um Inverno de canelas de fora, muitas estampas e valorização das curvas sinuosas.
Helo Rocha
Esqueça as estampas, marca registrada da Têca, grife capitaneada por Helo Rocha. Nessa São Paulo Fashion, ela debutou com uma marca homônima e, propositalmente, abandonou seu carro chefe para, nas palavras da própria, sair do limbo, e alcançar, mais que nunca, uma moda high. E a estreia foi em alto estilo. Helo afivelou as malas e fincou território em Alto Paraíso de Goiás. Lá, o céu a inspirou e a fez mergulhar no universo do zodíaco (lê-se seus 12 signos e quatro elementos). Resultado: referências astrológicas e naturais se desdobraram em uma coleção artesanal com perfume luxuoso. O P&B, ao lado do couro, esteve presente em peças com cintura alta e marcada, looks sexy (até mesmo os de gola alta), e ainda abriu espaço para rendas, tecidos high tech e píton. “A temática mística da grife é abordada com foco no crash de texturas”, explicou Helo, que enfileirou tops com muitas transparências evidenciando os seios e vestiu uma mulher exuberante e ousada, como deve ser.
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